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Geddel diz que amigos o lançaram ao ‘vale dos leprosos’

Ex-ministro foi interrogado nesta terça-feira no processo em que é acusado de obstruir a Justiça por meio de pressão sobre o lobista e delator Lúcio Funaro

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 6 fev 2018, 14h54 - Publicado em 6 fev 2018, 14h04

O ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (MDB-BA) disse nesta terça-feira, em depoimento à Justiça Federal, em Brasília, que as ligações feitas por ele à esposa do doleiro e lobista Lúcio Bolonha Funaro, Raquel Pitta, eram “amigáveis” e buscavam “prestar solidariedade”. Geddel é acusado neste processo de tentar obstruir a Justiça por meio de pressão sobre Funaro para que ele não aderisse a um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O emedebista baiano se disse ainda “abandonado” e acrescentou que foi “lançado no vale dos leprosos” por amigos.

“Falei algumas vezes com ela, eram telefones amigáveis. Ela (Raquel) me mandava fotos da filha, mensagens, correntes de orações. (Minhas ligações) eram uma solidariedade pessoal (à prisão de Funaro)”, afirmou Geddel, antes de fazer o desabafo sobre sua prisão. “Vejo amigos de longa data me lançarem no vale dos leprosos”, complementou. O ex-ministro está detido no Presídio da Papuda, em Brasília, desde setembro de 2017. Ele foi preso depois que a Polícia Federal descobriu 51 milhões de reais em dinheiro vivo em um apartamento em Salvador, emprestado a Geddel e seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA).

Para os investigadores das operações Sépsis e Cui Bono?, as ligações a Raquel Pitta intimidavam indiretamente Funaro, apontado como operador financeiro do grupo político do qual Geddel faz parte, o MDB da Câmara. Preso em julho de 2016, o lobista acabou fechando acordo de delação com a PGR e deixou a cadeia em dezembro de 2017.

O ex-ministro também acusou Raquel de usar as conversas de forma “orientada” ou “dirigida”, mas não especificou quem, em sua opinião, poderia ter auxiliado a esposa de Funaro. “Me pareceu uma coisa muito orientada, muito dirigida, não achei que deveria ‘printar’ ou guardar provas para uma situação absolutamente surreal”, alegou.

Geddel argumentou ainda que decidiu “abraçar completamente a verdade” e citou “Deus”. “Ela perguntava pela minha filha, eu respondia. Essa é a verdade, ela sabe, Deus sabe. Resolvi me abraçar completamente à verdade. As conversas que tinha sobre Funaro, tinha também sobre José Dirceu e sobre qualquer pessoa que tivesse nesse redemoinho (de casos envolvendo a Justiça). Nunca tratei organizadamente sobre isso”, disse o ex-ministro.

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Em seu interrogatório, Geddel foi irônico quando questionado se o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso em Curitiba, o apresentou a Funaro. “Eu creio que sim”, disse, sem demonstrar certeza. “Essa memória fantástica só vejo em elefante ou delator”, atacou.

Acusações

O MPF narra na denúncia que, a partir da prisão de Funaro, em 1º de julho de 2016, Geddel passou a monitorar e constranger Raquel por meio de várias ligações telefônicas. Em depoimento à PF, o doleiro afirmou que os telefonemas provocaram receio sobre algum tipo de retaliação que pudesse sofrer caso optasse por um acordo de delação.

Em depoimento à PF, Raquel também detalhou as abordagens que recebeu do ex-ministro. Segundo ela, o emedebista passou a fazer ligações “insistentemente” após a prisão do lobista, querendo saber do “estado de ânimo” dele, e que esses contatos feitos em horários noturnos “passaram a incomodar”.

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