Na reunião ministerial em 22 de abril, divulgada nesta sexta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que tentou trocar a “segurança” de sua família no Rio de Janeiro e, não tendo “conseguido”, estava disposto a trocar até um ministro para fazê-lo. O vídeo foi divulgado no inquérito que apura se o presidente tentou interferir politicamente na PF, conforme disse Moro ao pedir demissão, no final de abril.
Segundo o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, a menção se refere à Superintendência da Polícia Federal no Rio, onde o presidente teria buscado interferir politicamente em função de investigações de pessoas próximas a ele. Bolsonaro alega que se referia à segurança pessoal de sua família no Rio, que fica a cargo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI). O presidente, no entanto, também cita “amigos”, que, ao contrário de sua família, não têm direito a escolta de seguranças do GSI.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente, conforme havia revelado VEJA em 13 de maio.
Moro pediu para deixar o cargo em 24 de abril, dois dias depois da reunião, após a demissão do ex-diretor da Polícia Federal Maurício Leite Valeixo. Em coletiva de imprensa, ele citou pressões por parte de Bolsonaro para tirar Valeixo do cargo, sem motivo aparente. De acordo com o ex-ministro, Bolsonaro queria nomear um diretor da PF com quem pudesse interagir e receber informações sobre “relatórios de inteligência”.
O escolhido pelo presidente para o posto, o delegado Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), teve a posse barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Rolando Alexandre de Souza acabou sendo nomeado no lugar dele. “Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”, afirmou Bolsonaro em outro trecho da reunião.
Antes de falar sobre a “segurança” de sua família, Bolsonaro havia declarado aos ministros que prefere “não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”. Ele também reclamou de uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo segundo a qual seu irmão, Renato, foi barrado em um açougue em Registro (SP) por não estar usando máscara.
“Então, pessoal, muitos vão poder sair do Brasil, mas não quero sair e ver a minha a irmã de Eldorado, outra de Cajati, o coitado do meu irmão capitão do Exército de … de … de … lá de Miracatu se foder, porra! Como é perseguido o tempo todo. Aí a bosta da Folha de São Paulo, diz que meu irmão foi expulso dum açougue em Registro, que tava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, tava em São Paulo esse dia. O dono do … do restaurante do … do pa … de … do açougue falou que ele não tava lá. E fica por isso mesmo. Eu sei que é problema dele, né? Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família”, disse.
‘Vou interferir! E ponto final’
Em outro momento da reunião, Jair Bolsonaro se queixou de “problemas” na Abin e afirmou que o “serviço de informações nosso, todos, é uma… são uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado!”. “Eu tenho as … as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. ABIN tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento etc. Mas a gente num pode viver sem informação”, declarou.
“E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma… uma extrapolação da minha parte. É uma verdade. Como eu falei, né? Dei os ministérios pros senhores. O poder de veto. Mudou agora. Tem que mudar, pô. E eu quero, é realmente, é governar o Brasil. Não, é o problema de todos aqui, como disse o Marinho, né? É o mesmo barquinho, é o mesmo barco. Se alguém cavar o fu… cavar no porão aqui, vai, vai todo mundo pro saco aqui, vai todo mundo morrer afogado. Então ess… isso que a gente precisa, é pensar além do que tem que fazer internamente aqui”, completou.