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Identidade revelada: quem comprou o apartamento de Flávio Bolsonaro no Rio

Empresário baiano também tem problemas com a Justiça; imóvel foi usado para quitar parte da dívida de uma casa em Brasília que saiu por R$ 6 milhões

Por Letícia Casado Atualizado em 4 jun 2024, 13h42 - Publicado em 4 jun 2021, 06h00

Em meados de 2020, o senador Flávio Bolsonaro decidiu mudar de ares. Ele trocou o apartamento funcional que ocupava por uma bela casa localizada num dos pontos mais bonitos, seguros e valorizados de Brasília. O imóvel, que fica num condomínio fechado, foi comprado por 6 milhões de reais. A iniciativa, pelo valor, pelas circunstâncias e pelo personagem envolvido, logo chamou atenção. Na época, Flávio explicou que financiou metade da dívida. A outra metade teria sido quitada com recursos da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates. O parlamentar, porém, não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do comprador. Como se trata de uma transação privada, o filho Zero Um do presidente da República não tem obrigação de esmiuçá-la ou torná-la pública. O problema é que isso acabou gerando uma série de rumores sobre o seu já atribulado histórico patrimonial, principalmente porque não foi localizado nenhum registro formal da operação nos cartórios, o que serviu para reforçar teorias maliciosas.

Na verdade, houve um acordo entre as partes para manter tudo em segredo. O comprador do apartamento foi o empresário baiano Gervásio Meneses de Oliveira, que pagou 2,6 milhões de reais pelo imóvel, mas ainda não o colocou em seu nome. E não fez isso, de acordo com ele, para evitar a exposição. A VEJA, o empresário contou que fazia algum tempo que procurava um apartamento no Rio de Janeiro, quando soube, através de um corretor, de uma oferta “excelente” num condomínio localizado na Barra da Tijuca. “O apartamento realmente estava com bom preço. Fiz uma proposta, ela foi aceita, paguei e recebi o imóvel”, disse Oliveira, garantindo que não houve nada de ilegal na transação. “Paguei o preço de mercado e as transferências dos valores foram feitas através do banco na conta dele.” O negócio foi sacramentado através de um contrato de promessa de compra e venda.

Uma pessoa próxima ao empresário disse a VEJA que Gervásio Oliveira ficou sabendo do apartamento por intermédio de amigos comuns dele e de Flávio Bolsonaro. Desde o ano passado, o senador estava tentando vender o imóvel. O empresário, por sua vez, queria comprar um apartamento para sua companheira, que é do Rio de Janeiro. Deu-se então o encontro de interesses. Gervásio afirma que, no início da negociação, nem sabia que Flávio estava na outra ponta. “Fiz uma coisa pra me dar prazer, mas já vi que isso vai acabar em chateação”, reclama ele, ao ser indagado sobre o assunto. Seria justamente esse o motivo — para evitar chateação — para o empresário pensar em adiar o máximo possível o registro do negócio no cartório.

Em novembro de 2020 o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou Flávio Bolsonaro e outras dezesseis pessoas pela prática dos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita. O apartamento na Barra da Tijuca, que agora pertence ao empresário baiano, teria sido comprado com dinheiro oriundo da chamada “rachadinha”, o esquema ilegal de apropriação de parte dos salários dos funcionários no período em que ele exercia o cargo de deputado estadual. Gervásio Oliveira também tem problemas na Justiça. Em 2020, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo denunciou o empresário por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Ele foi acusado de pagar propina a uma desembargadora do Tribunal Regional da Bahia para que ela interferisse num processo em que uma de suas empresas foi condenada a pagar uma dívida de 96 milhões. Em outro processo, tramitando no Tribunal de Justiça da Bahia, Gervásio é acusado de formação de quadrilha e crime contra a Lei de Licitações. Uma investigação do Ministério Público o apontou como beneficiário de um esquema que fraudava concorrências para a contratação de prestadores de serviços. O esquema desviou 625 milhões dos cofres públicos.

Depois de ser procurado por VEJA, Gervásio informou que iria dar sequência a alguns procedimentos burocráticos ainda pendentes para concluir a transferência do apartamento para seu nome. O empresário rechaça as insinuações de que teria comprado o imóvel para se aproximar de Flávio e, por caminhos transversos, de outros figurões da República, especialmente da Justiça. “Não tenho relacionamento com o Flávio para isso. E não preciso. Posso garantir que eu tenho os melhores advogados para resolver qualquer problema que eu venha a ter ou que tenha tido”, diz ele. Questionado sobre a transação, o senador não quis se manifestar.

Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741

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