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Incertezas sobre destino eleitoral de Serra mexem com os nervos do PSDB

O caminho natural seria o de tentar a reeleição, mas há dúvidas a respeito das condições físicas do senador para enfrentar a campanha

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h17 - Publicado em 30 jul 2021, 06h00

De deputado constituinte a ministro, governador e prefeito de São Paulo, o senador José Serra (PSDB-­SP) é um dos políticos mais relevantes e bem-sucedidos do país nas últimas décadas. Seu poder e influência mantiveram-se quase inabalados mesmo com as duas derrotas para o PT nas tentativas de chegar ao Palácio do Planalto. Serra assumiu o atual mandato no Senado em 2015, sendo que nos últimos tempos sua atuação foi bastante discreta devido aos problemas de saúde que vem enfrentando. Agora, está diante de incertezas sobre o futuro político: aos 79 anos, a qual cargo, afinal, concorrerá nas próximas eleições? O caminho natural seria o de tentar a reeleição, mas há dúvidas a respeito de suas condições físicas para enfrentar a campanha.

A decisão sobre o seu destino agita os bastidores tucanos, pois terá importante influência no xadrez político do partido para 2022. A ala ligada ao governador paulista João Doria, que está em campanha para tentar vencer as prévias e se tornar o presidenciável do partido, gostaria de ver o senador candidato a deputado federal. O argumento é de que isso pouparia Serra de uma campanha desgastante e sem certeza de vitória. São Paulo terá apenas uma vaga em jogo para o Senado e ele pode concorrer com nomes populares como o apresentador José Luiz Datena (recém-filiado ao PSL) e a deputada Janaina Paschoal, de saída do PSL (leia entrevista na pág. 11). “Se concorrer como deputado, Serra nem precisa sair de casa para ser eleito”, afirma um membro do tucanato.

PALANQUE - Em 2010: a segunda tentativa presidencial frustrada -
PALANQUE - Em 2010: a segunda tentativa presidencial frustrada – (Eduardo Knapp/Folhapress/.)

Mas, inegavelmente, a vaga do Senado é estratégica hoje ao grupo de Doria também para oferecê-la ao ex-governador Geraldo Alckmin, como cartada final para evitar a debandada dele da sigla, dentro da sua disposição para voltar ao comando do Palácio dos Bandeirantes. Seria mais uma pedra no caminho de Doria e de seu vice, Rodrigo Garcia, recém-convertido ao PSDB e escalado pelo chefe para disputar as eleições estaduais do ano que vem. Alckmin, no entanto, precisa ser ainda convencido de que o Senado é uma boa opção (ele tem dito que não abre mão de disputar o governo). Falta ainda combinar com o próprio Serra. Há alguns meses, em conversa com um dos caciques do partido, ele disse que não abriria mão da reeleição. Nas últimas semanas, porém, aumentaram os rumores de que estaria mais propenso a mudar de ideia. Por enquanto, a única certeza, dita pelo próprio, é a de que disputará a eleição, mas sem haver ainda uma “definição clara” sobre o cargo.

Apesar da disposição, a idade avançada e o histórico médico preocupam. Em 2018, ao fazer um check-­up, recebeu o diagnóstico de um câncer pouco agressivo na próstata, que desde então é monitorado. No mês passado, contaminado pela Covid-19, passou dezoito dias internado. Nesse mesmo período, os médicos detectaram a necessidade de uma angioplastia e ele enfrentou uma cirurgia para a colocação de um stent no coração (já havia passado por procedimento semelhante em 2013). “Ter sido hospitalizado para observar qualquer possível intercorrência da Covid e a realização de exames para saber se estava tudo bem foi o que determinou a angioplastia. O que não deixa de ser uma grande sorte”, afirma Serra.

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TRAJETÓRIA - Presidente da UNE: a luta contra a ditadura levou-o ao exílio -
TRAJETÓRIA - Presidente da UNE: a luta contra a ditadura levou-o ao exílio – (//Arquivo pessoal)

Durante a pandemia, dizem pessoas próximas, ele passou boa parte do tempo em um spa médico em Sorocaba, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo. Aliados que se encontraram com ele desde o ano passado notaram sinais de abatimento e de fragilidade física. “Mesmo antes da pandemia, quando falava nos microfones do Senado, era necessário aumentar o volume para que fosse ouvido”, conta um colega de Congresso. Tomando-se como base a mais recente produção legislativa, as dificuldades parecem não ter afetado sua atuação. Entre as proposições dele, 47 aguardam para entrar na pauta do Senado e quinze, já aprovadas, dependem de votação na Câmara. Apesar disso, entre janeiro de 2020 e julho de 2021, ele teve de tirar cinco licenças médicas.

Serra também enfrenta problemas na Justiça, mas eles não são vistos pelos correligionários como um obstáculo tão sério a uma pretensão eleitoral quanto sua condição de saúde. Ele se tornou alvo da chamada “Lava-Jato eleitoral” em 2020 e virou réu na Justiça Eleitoral por suspeita de recebimento de 5 milhões de reais em caixa dois na eleição de 2014. Dentro do PSDB, ainda que nunca tenha sido unanimidade por causa do temperamento belicoso, é tratado com extremo respeito por sua biografia. Iniciada na presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE), a trajetória dele passou pela resistência ao golpe militar, exílio e a volta ao país, onde acabou por se tornar o ministro da Saúde em cuja gestão foram criados os remédios genéricos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Numa época em que o Brasil enfrenta uma profunda crise política, nomes com o gabarito e a capacidade de Serra são muito bem-vindos, seja como deputado, seja como senador.

Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749

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