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Incriminado por publicitário, Bendine se cala diante de Moro

André Gustavo Vieira da Silva admitiu ao juiz da Lava Jato que intermediou propina de R$ 3 milhões da Odebrecht a pedido do ex-presidente da Petrobras

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h38 - Publicado em 22 nov 2017, 21h44
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  • O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine ficou em silêncio em seu interrogatório como réu diante do juiz federal Sergio Moro, nesta quarta-feira. O silêncio de Bendine foi orientado por seu advogado, Alberto Zacharias Toron, depois do depoimento do publicitário pernambucano André Gustavo Vieira da Silva, que alterou a versão dada à Polícia Federal ao longo da investigação e admitiu que intermediou o pagamento de 3 milhões de reais em propina da Odebrecht ao ex-presidente das estatais.

    “Eu estava ansioso, depois desse pesadelo de quase sete meses, ter a oportunidade de pela primeira vez me manifestar, entretanto estou percebendo que estou sendo vítima de um grande complô, uma série de mentiras de pessoas que criam mentiras para comprar a liberdade”, justificou Aldemir Bendine a Sergio Moro. Alvo da 42ª fase da Operação Lava Jato, ele está preso desde julho, assim como Vieira da Silva.

    O publicitário foi o primeiro a ser ouvido por Moro na sessão de hoje. Ele confirmou os depoimentos do empreiteiro Marcelo Odebrecht e do ex-executivo da Odebrecht Ambiental Fernando Reis, ambos delatores, segundo os quais Bendine pediu 17 milhões de reais em propina, valor equivalente a 1% de um contrato de 1,7 bilhão de reais para rolagem de uma dívida da Odebrecht Agroindustrial com o Banco do Brasil, alinhavado durante sua gestão.

    Segundo André Gustavo Vieira da Silva, a empreiteira concordou em fazer o pagamento depois de uma reunião entre ele, Aldemir Bendine, Reis e Odebrecht na casa do publicitário, em Brasília, em maio de 2015. Antes do encontro, Vieira da Silva orientou Bendine a mencionar um assunto que sinalizaria aos executivos da empreiteira que o pedido de propina partia, de fato, dele.

    O empresário relatou a Moro que então combinou com Fernando Reis, inicialmente, que fossem pagos 3 milhões de reais, divididos em três parcelas de 1 milhão de reais, entre junho e julho de 2015. O dinheiro teria sido coletado das mãos de um funcionário do setor de propinas da empreiteira por um taxista de sua confiança, Marcelo Casemiro, mediante a apresentação das senhas “oceano”, “lagoa” e “rio”. O valor foi levado a um flat na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, alugado por Antônio Carlos Vieira da Silva, irmão de André Gustavo.

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    Conforme o publicitário disse a Sergio Moro, ele usou 1 milhão de reais para quitar uma dívida com um amigo de Recife, pagou 1 milhão de reais em impostos sobre a propina e repassou outros 950.000 reais a Bendine, divididos em dois. O primeiro deles, de 600.000 reais, teria sido feito em um restaurante na capital paulista. “Bendine chegou mais cedo comigo, ele entrou, eu estava com uma bolsa, entreguei a bolsa a ele. Ele pediu licença, saiu, não sei se ele colocou no carro ou estava com o motorista, na sequência ele voltou perguntou só o que havia lá, eu disse o valor”, contou André Gustavo Vieira da Silva.

    A outra parcela repassada a Aldemir Bendine, também em dinheiro vivo, teria sido feita dentro de um carro no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O publicitário também diz ter pagado 20.000 dólares em despesas com hotel e motorista em uma viagem de Bendine e sua família a Nova York.

    Segundo o publicitário disse a Sergio Moro, ele e Aldemir Bendine nunca tiveram “uma conversa objetiva” sobre a divisão do dinheiro recebido da empreiteira, mantido em uma “conta corrente” entre eles. “Ele disse ‘vai resolvendo, que a gente conversa’. Como tinha um saldo dos 14 [milhões] a receber, nós não chegamos a determinar como poderia ficar no final”, explicou.

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    Vieira da Silva ainda relatou que, depois de Marcelo Odebrecht citar a propina em sua delação premiada, Bendine se preocupou em dar aparência legal aos repasses e o orientou a emitir notas fiscais fictícias por serviços de consultoria. “Trocamos, eu e Bendine, muitas mensagens acerca da denúncia que o Marcelo fez. Ele dizia ‘André, não podemos assumir isso, vai pelo lado da consultoria, eu vou de alguma forma admitir que você se apresentou como interlocutor deles’. Foi quando eu fiz a opção de pagar o imposto [sobre a propina] e de tentar puxar a nota como justificativa”, afirmou o publicitário.

    Após os interrogatórios de Aldemir Bendine, André Gustavo e Antonio Carlos Vieira da Silva, a fase de oitivas dos réus do processo se encerrou. O Ministério Público Federal e as defesas dos acusados devem apresentar agora suas alegações e, depois disso, a ação penal poderá ser concluída por Sergio Moro com uma sentença, condenando ou absolvendo os réus.

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