Filiado ao nanico PSL, duramente criticado pelas posições conservadoras que defende e com uma inexpressiva carreira no Congresso — apesar de longos 27 anos –, Jair Bolsonaro chega às vésperas do primeiro turno como o favorito ao cargo de presidente da República. O motivo disso não reside em seu currículo, mas na principal bandeira que empunha: o antipetismo.
Ao vestir o figurino de antípoda de Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu se manter durante a corrida presidencial como o segundo colocado, até a saída do petista, barrado pela Lei da Ficha Limpa em 1º de setembro por ter sido condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Operação Lava Jato.
Com a saída de Lula do páreo, Bolsonaro foi alçado à dianteira das pesquisas e, no momento em que virou o alvo principal dos adversários na propaganda eleitoral no rádio e na TV, sofreu uma facada durante um ato em Juiz de Fora (MG) que mudou radicalmente a dinâmica da campanha.
Com pífios oito segundos no programa eleitoral da TV, passou a ter uma cobertura maciça da mídia durante três semanas e foi beneficiado por uma trégua nos ataques pelos rivais. Hoje, supera os 40% dos votos válidos e causa apreensão nos adversários pela possibilidade, embora remota, de vencer a disputa ainda no primeiro turno.
Enquanto se recuperava, os principais percalços pelos quais sua campanha passou vieram de pessoas próximas. O candidato a vice, general da reserva Hamilton Mourão, fez críticas ao décimo-terceiro salário, fez comentários depreciativos sobre índios e negros e defendeu uma nova Constituição feita por “notáveis”, sem a participação do povo.
Seu potencial superministro da Fazenda, Paulo Guedes, não atrapalhou menos ao defender uma proposta de recriar um tributo nos moldes da malfadada CPMF.
Quando ainda estava no hospital, Bolsonaro comandou uma operação para rebater as polêmicas e impôs uma “lei do silêncio” aos seus auxiliares. Nem mesmo os expressivos protestos encabeçados principalmente por mulheres por todo o país, que ganharam o nome de #EleNão, impediram seu crescimento nas pesquisas. Expor declarações do candidato consideradas machistas, racistas e homofóbicas não o encolheram eleitoralmente.
Aos 63 anos, Jair Messias Bolsonaro se apresenta como o candidato anti-establishment num cenário político devastado pela Lava Jato. Como Fernando Collor em 1989, aparece como um outsider, mesmo tendo exercido sete mandatos de deputado e passado por oito partidos.
É pelas redes sociais que ele consegue mobilizar seus eleitores. No mundo real da política, atraiu o apoio da bancada ruralista, que reúne 261 deputados federais e senadores, e de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da TV Record.
Até o início da campanha, era tratado, de maneira geral, com desdém por políticos de partidos tradicionais — acreditando se tratar de uma bolha que estouraria nas eleições. Eles se equivocaram. Agora, já tem atraído o apoio de representantes de outros partidos, como PSDB, MDB e Novo
Segundo as últimas pesquisas divulgadas neste sábado (6), o duelo entre antipetismo e petismo deve ir adiante. Ele e Fernando Haddad (PT) estão em empate técnico no segundo turno: no Ibope, o capitão do Exército tem 45% contra 41% do petista, enquanto que no Datafolha o placar fica em 43% a 41%, também em favor de Bolsonaro. A margem de erro dos dois levantamentos é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o que indica que estão empatados.
Em termos de rejeição, os dois também travam um duelo equilibrado e lideram a disputa no quesito. No Datafolha, Bolsonaro é rejeitado por 44% dos eleitores, enquanto 41% fazem o mesmo com Haddad. Já no Datafolha, o cenário é um pouco melhor para o petista: ele é descartado por 36% do eleitorado, enquanto seu rival ostenta uma taxa de 41%.
(Com Reuters)