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JBS, Temer, propina… O que disseram Cunha e Funaro à Justiça

O ex-presidente da Câmara e o doleiro, que fez delação premiada, teriam operado juntos em esquemas de corrupção, mas agora estão em lados opostos

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 20h09 - Publicado em 6 nov 2017, 21h36
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  • Das seis horas de seu interrogatório como réu na Justiça Federal do Distrito Federal, nesta segunda-feira, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) dedicou duas horas a tentar esclarecer a natureza de suas relações com o doleiro Lúcio Bolonha Funaro e a desacreditar as acusações contidas na delação premiada dele, apontado pelas investigações da Operação Sépsis como operador de propinas do chamado “PMDB da Câmara”.

    Diante do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, responsável pelo processo que apura cobrança de propina na liberação de investimentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), controlado pela Caixa, Cunha acusou Lúcio Funaro de mentir e de transformá-lo em “posto Ipiranga” de suas acusações – ou seja, todos os crimes relatados pelo doleiro remeteriam ao ex-deputado.

    Em seu depoimento ao magistrado, na semana passada, Funaro desafiou Cunha a passar por um teste em um detector de mentiras. O peemedebista topou o desafio hoje. Veja abaixo as diferentes versões que cada um levaria para essa disputa atrás das grades:

    Venda do silêncio à JBS

    O que diz Lúcio Funaro: tinha um “pacto de silêncio” com Joesley Batista, que envolvia um contrato fictício pelo qual, mesmo preso, recebia entre 400.000 reais e 600.000 reais mensais. O dinheiro era entregue a uma irmã e um irmão do doleiro.

    O que diz Eduardo Cunha: venda de seu silêncio foi “forjada” pela Procuradoria-Geral da República e por Joesley Batista para derrubar o presidente Michel Temer, gravado pelo empresário em uma conversa no Palácio do Jaburu. Joesley disse que estava “de bem” com Cunha e Funaro e ouviu de Temer para “manter isso aí”.

    R$ 2,5 milhões a Michel Temer

    O que diz Lúcio Funaro: após um aporte do FI-FGTS no frigorífico Bertin, em 2010, Eduardo Cunha se reuniu com o empresário Natalino Bertin e pediu doações eleitorais a ele próprio, à campanha de Michel Temer a vice-presidente e à de Cândido Vaccarezza (então no PT) a deputado federal. Cunha ficou com 1 milhão de reais, Temer com 2,5 milhões de reais e Vaccarezza, com 1,5 milhão de reais.

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    O que diz Eduardo Cunha: não se recorda de ter pedido doação para Temer, mas que, se pediu, não vê “nada errado nisso”. Isso porque a propina referente à operação do FI-FGTS no frigorífico teria rendido propina apenas a Lúcio Funaro; as doações às campanhas teriam sido regulares.

     

    Relação entre Funaro, Temer e PMDB

    O que diz Lúcio Funaro: teria estado com o presidente em três ocasiões: um comício em Uberaba (MG), em 2012, uma reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita em uma igreja evangélica, também em 2012, e um encontro na base aérea de São Paulo, sem data específica. Afirma que arrecadou 100 milhões de reais às campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014.

    O que diz Eduardo Cunha: teria acompanhado todos os encontros relatados por Funaro e afirma que doleiro não teve nenhum acesso ao presidente. Segundo Cunha, o operador de propinas nunca nem sequer foi cumprimentado por Michel Temer e não fazia parte do grupo político do PMDB: “ninguém sabe quem é Lúcio Funaro”. Reconhece, contudo, que apresentou Funaro aos ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves.

    Propina de R$ 81 milhões devida por Joesley

    O que diz Lúcio Funaro: Joesley Batista teria “roubado” de Funaro, Cunha e Geddel Vieira Lima 81 milhões de reais de propina relativa a um aporte de 2,7 bilhões de reais do FI-FGTS na Alpargatas, dona da marca Havaianas.

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    O que diz Eduardo Cunha: não tem “nada a ver com esse dinheiro” e Joesley não lhe deve “um centavo de nada”. “Vale para o senhor Funaro, em sua relação com o senhor Joesley, a mesma coisa do ditado: ‘Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão’”.

     

    Compra de votos no impeachment

    O que diz Lúcio Funaro: teria repassado 1 milhão de reais a Cunha para que ele “comprasse” votos de deputados pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Um dos parlamentares supostamente “comprados”, Aníbal Gomes (PMDB-CE), recebeu 200.000 reais e não apareceu para votar.

    O que diz Eduardo Cunha: classifica acusação de Lúcio Funaro como “ridícula” e o desafia a provar repasse do dinheiro. “Na data do impeachment tinha seis meses que eu não encontrava o Lúcio pessoalmente”.

     

    Compra de dez carros a Cunha

    O que diz Lúcio Funaro: teria pago despesas de Cunha, incluindo viagens, uma gráfica e as compras de cerca de dez carros de luxo.

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    O que diz Eduardo Cunha: aquisições dos carros foram bancadas com dinheiro devido a ele por Funaro sobre operações no mercado financeiro. Segundo o ex-deputado, que nega terem sido dez carros, Funaro era sócio do dono de uma concessionária de veículos de luxo e pagou pelos carros sem seu conhecimento. “Eu achei que estava devendo à loja, não que estava devendo a ele”, afirmou.

     

    Compra do apartamento de Vampeta em SP

    O que diz Lúcio Funaro: Eduardo Cunha precisava de um imóvel em São Paulo para acomodar sua enteada, que iniciaria um curso universitário na cidade. Afirma que o imóvel do ex-jogador, um flat na região do Pacaembu, foi comprado com um cheque seu e um cheque de Cláudia Cruz, mulher de Cunha.

    O que diz Eduardo Cunha: confirma que o flat de Vampeta foi comprado por 195.000 reais, com um cheque de Funaro e um cheque de Cláudia. O cheque do doleiro, no entanto, teria sido dado apenas como garantia ao ex-jogador e nunca foi compensado. O único gasto de Lúcio Funaro, de 20.000 reais, com despesas cartoriais, teria sido reembolsada por Cunha.

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