Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Julgamento de Lula no STJ debaterá liberdade e condenação pelo tríplex

Ex-presidente busca anulação de sentença de 12 anos e um mês de prisão; alternativa pode ser redução da pena e eventual prisão domiciliar

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 abr 2019, 07h00 - Publicado em 23 abr 2019, 07h00

Preso há um ano na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inicia nesta terça-feira, 23, uma nova etapa do processo em que foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, através da suposta posse oculta e reforma de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo.

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) incluiu em sua pauta a análise de um recurso do petista, que contesta a sentença de 12 anos e um mês de prisão a que ele foi imposto pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). No pedido, o ex-presidente planeja obter a anulação do processo e, por consequência, a sua liberdade.

O colegiado é conhecido por manter as decisões vindas das instâncias inferiores na Lava Jato. Em novembro, o relator, ministro Felix Fischer, negou monocraticamente, isto é, individualmente, o recurso do ex-presidente para que ele fosse absolvido. O que os advogados de Lula argumentam é que o recurso expõe dezoito teses jurídicas compatíveis com a jurisprudência do Tribunal e que, portanto, deveriam ser enfrentadas por todos os ministros da Turma, o que ocorre nesta terça

O julgamento do STJ ocorre sob ares de decisão de grande impacto para o futuro e a liberdade de Lula. Se o acórdão for mantido tal qual elaborado pelo TRF4, o petista pode continuar preso mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) reveja a autorização para a prisão em segunda instância – presidente da Corte, o ministro Dias Toffoli trabalha com a possibilidade de substituir o atual entendimento pelo de executar as penas após o STJ, justamente o possível novo status de Lula.

O STJ não vai mais analisar as provas da suposta negociata que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), envolveu Lula e a empreiteira OAS. Nesta etapa da ação, a Corte vai se limitar a analisar os aspectos jurídicos do processo. Advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins contesta a autoridade do então juiz Sergio Moro e dos desembargadores do TRF4 para julgar o processo e aponta inadequações entre os fatos narrados nas sentenças e os crimes aos quais o petista foi condenado.

Continua após a publicidade

Uma das hipóteses de mais possibilidade de sucesso para o ex-presidente é uma eventual redução da pena. Lula alega que ele foi condenado duas vezes, por corrupção e por lavagem de dinheiro, pelo mesmo fato, que seria a ocultação de propinas pagas pela OAS, relacionadas ao “caixa geral” da empreiteira com o PT, na posse oculta e reforma do imóvel na cidade do litoral paulista. Se a pena for reduzida, cresce a chance de Lula seguir, por exemplo, para a prisão domiciliar.

Transmitido ao vivo no YouTube e nas redes sociais do STJ, o que é incomum para o Tribunal, o julgamento contará com quatro dos cinco ministros da Quinta Turma: Felix Fischer, Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro Dantas. O quinto integrante, Joel Ilan Paciornik, se declarou impedido – advogado pessoal do ministro, Renê Dotti é o representante da Petrobras na ação.

Em caso de empate, um quinto ministro será convocado. Pelos critérios de antiguidade, o mais antigo da Sexta Turma, Antonio Saldanha, seria o responsável pelo voto de minerva. O empate em 2 a 2 nesta terça atrasaria a definição do caso, uma vez que Saldanha teria direito a um tempo para analisar o caso.

Continua após a publicidade

Com a exceção de Saldanha, os ministros que julgarão o ex-presidente são considerados rígidos, com uma tendência a manter as condenações mais duras impostas pelas instâncias inferiores da Lava Jato. Em março de 2018, quando se debruçou sobre um habeas corpus de Lula contra a prisão, a Quinta Turma rejeitou o pedido por 5 votos a 0 e abriu o caminho para que o ex-presidente começasse a cumprir a pena.

Entenda o caso

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adquiriu, em 2005, cotas de um imóvel simples no edifício Solaris, então construído pela Bancoop, cooperativa do sindicato dos bancários. Quando o braço da entidade sindical faliu, a obra foi assumida pela empreiteira OAS – dirigida pelo empresário Leo Pinheiro, é uma das empresas envolvidas no escândalo do petrolão.

Posteriormente, o imóvel destinado ao ex-presidente, segundo o MPF, passou a ser um tríplex, que foi inteiramente reformado pela empreiteira para atender, ainda de acordo com a denúncia, aos planos de Lula. Os recursos para cobrir a diferença entre os tipos de imóvel e para reformar o apartamento não teriam sido pagos pelo petista e bancados diretamente pela OAS.

Continua após a publicidade

A Lava Jato sustenta que a empreiteira, beneficiada em contratos com a Petrobras, arcou com os custos como forma de pagamento de propina ao ex-presidente e ao PT. Ao todo, Lula teria sido beneficiado em 2,4 milhões de reais, sendo 1,3 milhão de reais pelo imóvel em si e 1,1 milhão pela reforma deste. O apartamento não foi passado para o nome do petista e permaneceu listado como sendo da empreiteira, no que os procuradores enxergam como uma estratégia de defesa após a revelação da existência deste.

Em suas defesa, o ex-presidente Lula alega nunca ter feito nenhum pedido do gênero nem acertado oferta de propina por parte da OAS. O petista argumenta que visitou o imóvel em 2014, na companhia de Leo Pinheiro, mas decidiu não comprá-lo. Os advogados do petista também utilizam o registro do imóvel no nome da OAS e o envolvimento deste em operações comerciais da empreiteira como forma de alegar que a empresa dispunha do apartamento e, portanto, não teria intenção de repassá-lo a Lula.

O ex-presidente ainda busca, com mais dificuldade de sucesso, desconstruir a tese geral da Lava Jato, elaborada pelo então juiz Sergio Moro e repetida em diversas sentenças relacionadas às investigações. Para Moro, diretores da Petrobras, indicados pelos partidos PT, PP e MDB, faziam negócios espúrios com um grupo de empreiteiras, que depois pagavam propinas aos funcionários e aos políticos responsáveis pela manutenção destes nos cargos.

No caso de Lula, os recursos para a propina no caso do tríplex seriam oriundos do que o MPF chama de “caixa geral”, os recursos que seriam devidos ao partido em troca dos contratos e vantagens indevidas obtidos e que a OAS pagaria ao longo dos anos, em pequenas propinas e pagamentos e em doações formais e informais para campanhas eleitorais. É essa a tese à qual a defesa do ex-presidente se opõe frontalmente, por não ver solidez nas provas que a embasam.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.