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Lula aproveita a volta da popularidade com tática de ‘dividir para tentar vencer’

O petista busca fragmentar os partidos de centro que compõem seu governo e impedir que formalizem apoio a alguma candidatura de oposição em 2026

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 out 2025, 08h00

A estratégia de “dividir para conquistar” (divide et impera, em latim) ficou célebre com o imperador romano Júlio César (100-44 a.C.), que, durante suas conquistas, principalmente na Gália, atual região da França, usou como tática explorar as rivalidades de tribos locais, colocando umas contra as outras para, assim, facilitar sua vitória. Vários líderes ao longo da história, como o francês Napoleão Bonaparte, lançaram mão da mesma estratégia, sempre com algum sucesso. Atualmente, o conceito vem sendo trabalhado à exaustão em Brasília pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A menos de um ano da sucessão presidencial, o petista tem aproveitado a recente recuperação de parte de sua popularidade e o desbotamento da figura de Jair Bolsonaro para tentar fragmentar os partidos de centro que compõem seu governo e impedir que formalizem apoio a alguma candidatura de oposição em 2026.

A dificuldade da batalha eleitoral do ano que vem é exatamente o trunfo que Lula usa para dividir as legendas. Quase um quarto da Esplanada dos Ministérios — nove de 38 pastas — é chefiado por filiados a siglas do Centrão, como União Brasil, PP e Republicanos, ou que atuam próximas a sua órbita, como PSD e MDB (veja o quadro), todas flertando em algum grau com a possibilidade de não embarcar na nau governista no próximo ano. Desses ministros, todos têm aspirações eleitorais, com pretensões que vão de disputas por vagas na Câmara e Senado a governos estaduais. Fazer campanha em apoio ou oposição ao atual governo, eis a questão.

As maiores saias justas do momento envolvem os ministros do Turismo, Celso Sabino (União), e do Esporte, André Fufuca (PP), que viraram personas non gratas em suas legendas por terem decidido desrespeitar a orientação de seus caciques para deixarem o governo após a aprovação da federação União Progressista pelos dois partidos. Os ministros não só disseram que não sairão do lugar em que se encontram, como já estão em campanha divulgando de forma entusiasmada o apoio de Lula, considerado vital em seus estados (Pará e Maranhão, respectivamente), por onde pretendem disputar o Senado. No caso de Fufuca, em represália a seu gesto, o PP comunicou o afastamento dele da sigla no começo do mês. O União se movimenta para fazer o mesmo com Sabino, que vai integrar uma chapa ao Congresso com um aliado de Lula no MDB, Helder Barbalho. O governador do Pará já abriu até as portas da legenda ao ministro caso ele de fato seja defenestrado do União. Outro nome do Centrão, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, candidato ao Senado por Pernambuco no bloco do prefeito de Recife, João Campos (PSB), deve estar ao lado de Lula apesar de seu partido, o Republicanos, ser o mesmo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome favorito da oposição para concorrer ao Planalto.

JOGO - Fufuca: desobediência ao PP e compromisso público com o petista
JOGO - Fufuca: desobediência ao PP e compromisso público com o petista (Mariana Raphael/MESP/.)
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Legendas historicamente divididas, o MDB e o PSD, ambos com três ministros cada um, também estão na mira de Lula. O presidente avalia que será muito difícil ter o apoio formal dessas siglas, mas considera que uma neutralidade nacional, com a liberação dos filiados para a montagem de palanques de acordo com os interesses regionais, já seria uma vitória de sua estratégia. As duas agremiações ainda devem ser contempladas com postos de destaque nas articulações de Lula, como a ministra Simone Tebet (MDB). Ela pode receber apoio para concorrer ao Senado por São Paulo, enquanto os ministros Carlos Fávaro (Agricultura), do PSD, e Renan Filho (Transportes), do MDB, vão tentar o governo de seus estados, contando também com a força do presidente em suas respectivas campanhas.

Tendo em conta a recente recuperação da popularidade e a percepção de que uma parte dos aliados está perdida para 2026, Lula resolveu “passar a tesoura” em nomes do Centrão considerados desleais. Após a derrota na Câmara em relação à medida provisória que substituiria o aumento do IOF, o Planalto deu início a uma série de exonerações que tem como alvo indicados de partidos do bloco em postos de segundo escalão. A responsável por levar a lista da guilhotina a Lula foi a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). As demissões atingiram nomes ligados principalmente ao PSD e PP e, secundariamente, ao MDB e União, em áreas como Caixa Econômica Federal, Correios, Dnit, Codevasf e Iphan. O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Marcelo Xavier de Castro, foi exonerado menos de dois meses após assumir o cargo porque seu padrinho, o deputado Hugo Leal (PSD-RJ), votou pela derrubada da MP 1 303. “Estamos reorganizando a base a partir de uma votação que era importante para o país e para o governo. Quem votou contra sabia disso, então não tem por que ficar no governo”, declarou Gleisi.

ARTICULADOR - Davi Alcolumbre ouve Lula: presidente do Senado é aliado valioso do governo no dia a dia do Congresso
ARTICULADOR – Davi Alcolumbre ouve Lula: presidente do Senado é aliado valioso do governo no dia a dia do Congresso (Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Essa ofensiva de Lula por dentro das legendas mais arredias também avança por causa da política pragmática de caciques dessas siglas. É o caso do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que foi poupado da tesoura retaliatória do governo — um dos postos mais importantes que controla, o da presidência da Caixa, seguiu intocado, com o nome de Carlos Vieira. Lira, que deve concorrer a uma vaga no Senado, foi o relator da isenção do imposto de renda para quem recebe até 5 000 reais por mês, um dos trunfos de Lula. Embora tenha sido aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, o alagoano é hoje um dos interlocutores do governo no Congresso e segue prestigiado no Planalto, independentemente do que disser o presidente de seu partido, senador Ciro Nogueira, que promete levar o PP integralmente para a oposição.

Outro nome significativo para a estratégia de Lula é o de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, que tem influência em ao menos três ministérios e é mais assíduo no Planalto do que muitos ministros. O senador é a bola de segurança de Lula no Congresso, como mostrou ao adiar duas vezes a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias a pedido do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ou ao cancelar uma sessão que poderia derrubar mais de sessenta vetos de Lula à lei de licenciamento ambiental.

EMBATE - Ciro e Gleisi: petista fez lista com nomes de quem seguiu orientação do cacique do PP e votou contra o governo
EMBATE - Ciro e Gleisi: petista fez lista com nomes de quem seguiu orientação do cacique do PP e votou contra o governo (Andressa Anholete/Agência Senado; Ton Molina/Fotoarena/.)
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Completa a trinca dos amigos pesos pesados de Lula no Centrão o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-­PB), que tem feito acenos ao petista, principalmente ao defender a tramitação das “pautas positivas” do governo. Essa agenda legislativa tem sido em grande parte a responsável pela recuperação da popularidade de Lula, fustigada no início do ano por polêmicas como a suposta taxação do Pix e o escândalo do INSS, exploradas à exaustão pela oposição. Pesquisa Quaest divulgada neste mês mostra que a popularidade do governo chegou ao melhor patamar de 2025: 48% de aprovação ante 49% de rejeição. O índice negativo ainda é alto, mas especialistas de institutos de pesquisa dizem que o governo tem potencial para ampliar o número positivo se der publicidade a suas iniciativas mais populares — 79% apoiam a ampliação da isenção de IR para faixas salariais mais baixas e 90% acham que sua vida financeira terá alguma melhora.

A estratégia de Lula para os partidos de centro leva em conta também o cenário de indefinição que se arrasta no campo da oposição. Com o ex-­presidente Jair Bolsonaro fora do jogo e sem apontar um herdeiro eleitoral, o petista ganha liberdade para ir montando os palanques locais. No caso do MDB, por exemplo, o presidente Baleia Rossi já disse que a decisão sobre para onde ir será tomada apenas na convenção do ano que vem, quando Lula já poderá ter consolidado a divisão da legenda pelo país. Em 2022, a cúpula teve que liberar filiados no segundo turno porque a sigla estava rachada entre Lula e Bolsonaro. O mesmo comportamento foi adotado por União e PSD, que liberaram os diretórios em razão da falta de unidade sobre com quem caminhar na reta final.

PLANO - Silvio Costa Filho: ministro do Republicanos quer apoio de Lula para ser senador por Pernambuco
PLANO - Silvio Costa Filho: ministro do Republicanos quer apoio de Lula para ser senador por Pernambuco (Aloisio Mauricio/Fotoarena/.)
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Enquanto isso, Lula segue firme em sua estratégia de ataque ao Centrão. No dia 2, em Belém, visitou obras da COP30 ao lado de Celso Sabino. “Nada, nem partido político nem cargo ou ambição pessoal, vai me afastar desse povo que eu amo. Conte comigo para segurar na sua mão, presidente”, disse o ministro a Lula. Quatro dias depois, o petista entregou casas e uma arena esportiva ao lado de André Fufuca em Imperatriz, no Maranhão. “Eu estou com Lula”, afirmou o titular do Esporte em discurso. A eleição ainda está longe e o movimento de recuperação da popularidade do governo pode estancar, apesar do otimismo atual do Planalto. A oposição, por sua vez, não perdeu a força, a despeito da indefinição de candidato. Por ora, no entanto, é Lula — que na quinta-feira 23, na Indonésia, confirmou que irá disputar um quarto mandato — quem está na ofensiva, punindo “desertores”, afagando amigos e dividindo inimigos.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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