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Lula coloca governo no palanque e faz oposição acelerar escolha do adversário para 2026

Com a condenação de Bolsonaro, o petista assume de vez a candidatura e antecipa a corrida para as eleições

Por Daniel Pereira Atualizado em 19 set 2025, 16h38 - Publicado em 19 set 2025, 06h00

A construção de uma candidatura presidencial nem sempre é fácil. Em 2002, a então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, liderava as pesquisas quando uma ação da Polícia Federal na empresa do marido dela fez ruir sua pretensão de concorrer ao Planalto. Em 2010, o eterno postulante Ciro Gomes até tentou, mas foi obrigado a desistir do páreo pelo próprio partido, que preferiu embarcar na chapa de Dilma Rousseff. Uma série de fatores pode viabilizar ou impedir uma campanha, desde acordos políticos a condenações judiciais, além de traições de aliados, armações de adversários e até mesmo o imponderável. A pouco mais de um ano da próxima eleição, sobram pretensões presidenciais na praça, que apontam para um quadro indefinido. Algumas tendências, no entanto, estão ganhando corpo. Uma delas é a candidatura à reeleição de Lula. Outra é a pressão para que Jair Bolsonaro, inelegível e condenado a 27 anos e três meses de prisão, indique logo quem será seu sucessor. Honrando a tradição nacional de campanha eleitoral permanente, a disputa de 2026 já está a pleno vapor.

Com a direita dividida e envolvida na busca de uma saída que alivie a situação jurídica de Bolsonaro, Lula é quem atua com mais desenvoltura atualmente. No início deste ano, oposicionistas e até petistas falavam da possibilidade de o presidente não disputar a reeleição devido ao derretimento de sua imagem pessoal e da avaliação do governo. Ele não concorreria por medo de ser derrotado e ter um fracasso como epílogo de sua carreira política. Essa especulação perdeu força em razão de múltiplos fatores. Apesar de ainda ter uma gestão mais reprovada do que aprovada, Lula interrompeu a trajetória de queda de sua popularidade e recuperou terreno entre os eleitores, o que injetou ânimo em sua equipe. Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira 17 mostrou que a aprovação a seu trabalho se manteve estável entre agosto e setembro, em 46%, 5 pontos a mais do que o registrado em março, quando ele ainda lidava com os danos provocados pela campanha da oposição segundo a qual o governo taxaria o Pix, o que não era verdade.

PLANO A - Tarcísio de Freitas: o governador de São Paulo é tido como a melhor opção da direita para enfrentar o petista
PLANO A - Tarcísio de Freitas: o governador de São Paulo é tido como a melhor opção da direita para enfrentar o petista (Edilson Dantas/Ag. O Globo/.)

Outro catalisador da arrancada do presidente foi a descoberta de um discurso de apelo popular por um governo que não tinha nem marca nem rumo. Com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% às exportações brasileiras como forma de pressionar pela absolvição de Bolsonaro, Lula e o governo abraçaram a bandeira da defesa da soberania, do setor produtivo e dos trabalhadores nacionais. Num primeiro momento, deu certo. Essa pregação, somada à redução do mau humor da população com o preço dos alimentos, fez a avaliação positiva do governo atingir sua melhor marca neste ano, 33%, conforme pesquisa Datafolha divulgada no último dia 11. A avaliação negativa continua maior, em 38%, mas o Planalto recuperou o otimismo e passou a acreditar na virada. Com a experiência de quem disputou seis das nove eleições presidenciais diretas após a redemocratização, Lula está fazendo uma das coisas em que se especializou para fortalecer sua candidatura: o uso da máquina e o anúncio de medidas populares — ou populistas, a depender do gosto do freguês.

O presidente já anunciou a isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 000 reais mensais (algo que depende ainda da aprovação no Congresso), a ampliação da distribuição de gás de cozinha — que beneficiará 15,5 milhões de famílias carentes, a um custo de 5 bilhões de reais em 2026 — e a isenção ou diminuição da conta de luz para até 60 milhões de pessoas. Outras medidas importantes estão no forno. Secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior recebeu do mandatário a missão de negociar com a equipe econômica um espaço no Orçamento que permita ao governo aumentar o valor do benefício do Bolsa Família e implantar um programa de passe livre no transporte urbano. Vale tudo por um novo mandato. Aliados do presidente dizem que ele só não concorrerá se não estiver bem de saúde. Enquanto se deixa filmar ou fotografar correndo ou treinando na academia, Lula também joga para insuflar aliados e pressionar rivais. Na última reunião ministerial, ele afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deve disputar a Presidência. O PT, então, aproveitou a propaganda partidária para tentar desgastar Tarcísio, associando-o ao tarifaço de Trump e a supostos problemas decorrentes do investimento dele na privatização da Sabesp, a maior companhia de saneamento básico do país.

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ESPERANÇA - Bolsonaro: inelegível e condenado, ele ainda aposta numa reviravolta com uma improvável anistia
ESPERANÇA - Bolsonaro: inelegível e condenado, ele ainda aposta numa reviravolta com uma improvável anistia (Andre Borges/EFE)

A escolha da candidatura oposicionista — ou das candidaturas — ainda está muito atrelada à vontade de Jair Bolsonaro, que, apesar de inelegível e sentenciado à cadeia, insiste que concorrerá em 2026, apegando-se à possibilidade de aprovação de uma anistia no Congresso (leia a reportagem na pág. 36) ou de uma reviravolta no Judiciário. Como o ex-presidente é o maior ativo e cabo eleitoral da oposição, os demais pré-candidatos agem com cautela — ou não assumem a postulação, como faz Tarcísio, ou se movimentam com manifestações de apoio e juras de lealdade ao capitão, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Há um complicador adicional nesse jogo: os familiares de Bolsonaro, alguns dos quais cotados para concorrer ao Palácio do Planalto.

Mesmo diante da prisão iminente do patriarca, os filhos de Bolsonaro criticam os governadores que se insinuam para duelar com Lula. Já usaram até a expressão “ratos” para defini-los. Nem Tarcísio, afilhado político dileto do ex-presidente, escapa dos ataques. No clã, ele é visto com desconfiança principalmente por ter resistido durante muito tempo a confrontar o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes. Pressionado, o governador resolveu pagar o pedágio cobrado e vestiu o figurino de bolsonarista-raiz, dizendo que não confiava na Justiça e reclamando de uma suposta tirania de Moraes. Ele também tomou a frente por alguns dias da articulação pela aprovação da proposta de anistia no Congresso. A estratégia rendeu frutos em parte da direita radical, mas levou setores simpáticos a uma candidatura presidencial de Tarcísio a lembrá-lo de que esperam dele moderação e a implosão da polarização reinante no país. Foram manifestações de certo desapontamento, mas não de abandono do barco, cujo timão continua reservado para o governador.

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CATALISADOR - Marco Rubio: ameaças dos Estados Unidos anteciparam embates entre governo e oposição
CATALISADOR - Marco Rubio: ameaças dos Estados Unidos anteciparam embates entre governo e oposição (Nathan Howard/AFP)

Se depender da federação formada por PP e União Brasil, que têm as maiores bancadas da Câmara e do Senado, Tarcísio disputará a Presidência. Caciques de legendas de centro estão trabalhando no Congresso para que a proposta de anistia beneficie Bolsonaro, com uma redução de pena, por exemplo, mas não devolva a ele os direitos políticos. O plano é tirar o capitão do caminho, com o devido cuidado para não transformá-lo em inimigo. Contrariado, Bolsonaro poderia sacar um nome alternativo do colete, como um de seus parentes, para rivalizar com o que seu filho Carlos chama de “direita limpinha”. Como se sabe, os rebentos Flávio, senador, e Eduardo, deputado, estão no aquecimento. Os dois alegam que só o sobrenome Bolsonaro pode derrotar Lula. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro chama a atenção por aparecer bem cotada nas pesquisas. Já líderes do Centrão pensam diferente. Em conversas com representantes do grupo, um especialista em pesquisa disse que Lula seria muito forte contra um representante da família do ex-presidente porque, como ocorreu em 2022, uniria o establishment para derrotar novamente o radicalismo.

Contra qualquer outro nome, acrescentou esse mesmo especialista, Lula perderia fôlego. Numa campanha, Tarcísio não teria de ficar dando explicações sobre tentativa de golpe e mortes por covid-19, por exemplo. Ele teria condições de obrigar Lula a “trocar o disco” e poderia tratar de outros temas, como gestão, corte de gastos e investimentos em infraestrutura. Pessoas próximas têm saído das conversas recentes com Tarcísio convencidas de que ele se prepara para concorrer ao Planalto. As negativas em público a essa pretensão seriam apenas uma tática para evitar desgaste com Bolsonaro e não dar a oportunidade a Lula de aumentar a artilharia contra ele. Enquanto isso, os outros presidenciáveis de oposição seguem buscando apoio para viabilizar suas candidaturas. Caiado e Zema estão há tempos nas ruas. Ratinho Jr., mais jovem e cauteloso, costura pelas beiradas.

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NO PÁREO - Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr: governadores buscam apoios para 2026
NO PÁREO - Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr: governadores buscam apoios para 2026 (ABCZ/Divulgação)

Nessa fase preliminar, Lula aparece na frente. De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira 18, o presidente lidera nos oito cenários de primeiro turno testados, sempre com vantagem superior a 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado, com exceção de Bolsonaro, que fica atrás por 8 pontos. Nas simulações de segundo turno, a vantagem do presidente varia de 7 pontos, sobre Ciro Gomes, para 8, no caso de Tarcísio, e de 12 e 15 contra Ratinho Jr. e Michelle, respectivamente. A expectativa é de uma disputa tão acirrada quanto a de 2022. E esse nem é o principal desafio dos concorrentes. Muitas vezes, ganhar a eleição é mais fácil do que governar o país. Lula e Bolsonaro, incentivadores e reféns da polarização, sabem disso. A campanha já começou.

Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962

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