Lula defende corte nos juros e ataca Campos Neto: ‘Tá louco?’
Declaração foi dada em Londres, após visita para acompanhar coroação de Rei Charles III; Presidente garantiu ainda que não mudará articulação política

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender um corte na taxa básica de juros (Selic) durante visita que fez a Londres para acompanhar a coroação do Rei Charles III. Durante entrevista coletiva, ele atacou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Esse cidadão nao tem compromisso com o Brasil, mas com o governo que o indicou e com quem gosta de juros alto. Outro dia, em uma entrevista ele disse: ‘para atingir a meta [de inflação] de 3%, a taxa de juros tem de chegar acima de 20%’. Tá Louco?, esse cidadão não pode estar falando a verdade”, afirmou, em tom de indignação.
Lula também voltou a justificar sua posição que, segundo ele, tem prejudicado o crescimento econômico e gerado desemprego. “Não bato no BC porque o BC não é gente, é banco. Quem concorda com a taxa de juros a 13,75% que defenda publicamente. Eu não concordo. Se eu, como presidente, não puder reclamar dos equívocos do BC, quem vai reclamar? O presidente americano? O Banco Central tem autonomia, mas não é intocável”, afirmou o presidente, que sinalizou que pode atuar para modificar a meta de inflação, por meio do Conselho Monetário Nacional.
Lula também negou que cogite retirar Alexandre Padilha, da articulação política do Planalto, depois de o governo ter enfrentado dificuldades na aprovação de projetos importantes para o Planalto, como as mudanças no marco do saneamento básico. “Eu tenho conversado com o presidente [Arthur] Lira (PP) e não vejo problema. Se tiver desavença na política, tudo se acerta. A coisa mais difícil é estar sempre acertando, são 513 deputados e só um articulador político”, disse.
O presidente também atirou para dentro do próprio governo e disse que os ministros vão ser proibidos de ter ideias. “Até o fim de maio, vamos lançar todos os projetos [para serem executados] até o fim do mandato. A partir dessas reuniões, vai ficar proibido ministro ter ideias. É para executar o que foi decidido”, afirmou o mandatário, para quem a gestão tem de ser menos teórica e mais prática.
Buscando se credenciar junto à comunidade internacional para intermediar um cessar fogo na guerra da Ucrânia, Lula contou que conversou sobre o conflito com o primeiro ministro britânico Rishi Sunak e falou a respeito do assunto brevemente com o presidente francês, Emmanuel Macron, de quem se sentou perto, durante a cerimônia de coroação. Os dois ficaram de ter uma conversa telefônica para aprofundar a questão.
O presidente informou que enviará o assesssor especial e ex-chanceler brasileiro, Celso Amorim, para um encontro com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, no próximo dia 10. “Alguém nesse mundo vai ter de se preocupar pela paz, tomar uma decisão e tentar convencer os que estão em guerra a parar a guerra e depois se sentar numa mesa para negociar”, disse.
Na sexta-feira, Lula se encontrou com Sunak, e obteve um reforço de 80 milhões de libras, cerca de 500 milhões de reais, no caixa do Fundo Amazônia. O valor, no entanto, foi considerado insuficiente pelo presidente brasileiro que quer convencer os países desenvolvidos a doarem até 100 bilhões de dólares para a preservação da floresta tropical.
Lula também saiu em defesa do ativista Julian Assange, dono do site Wikileaks, que está preso em uma penitenciária de segurança máxima, na cidade de Belmarsch. O ativista foi o responsável pelo vazamento de milhares de documentos secretos sobre o governo dos Estados Unidos e as Forças Armadas americana. “O cara não denunciou nada vulgar. O cara denunciou que um Estado estava vigiando os outros. E isso virou crime contra o jornalista?” , perguntou. Lula disse que iria ligar para o primeiro ministro britânico para tratar do assunto, porque havia esquecido de falar sobre isso com ele.
O presidente retorna ao Brasil hoje às 19h, horário local, partindo com sua comitiva e esposa Janja do aeroporto de Stansted.