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Mais mulheres, menos Estado: o que pensam as feministas de direita

VEJA entrevistou cinco eleitoras que defendem um governo forte na defesa dos direitos das mulheres, mas políticas econômicas liberais

Por Mariana Lajolo
Atualizado em 2 out 2018, 16h54 - Publicado em 2 out 2018, 15h24
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  • Elas pregam o empoderamento, lutam pelo fim da violência contra a mulher, querem direitos iguais, participar da política, ter vez e voz. Pautas que, tradicionalmente, têm sido mais associadas à esquerda. Algumas mulheres, entretanto, unem essas visões a posições e ideologias também apresentadas pelo outro lado do espectro político. Elas se consideram feministas, mas se identificam com pautas da direita.

    Esse grupo de mulheres que foi entrevistado por VEJA está na casa dos 40 anos. São profissionais bem-sucedidas, que já encararam obstáculos no mercado de trabalho pelo simples fato de serem do sexo feminino e identificam a necessidade de criação de políticas e ações voltadas para a mulher.

    Uma de suas bandeiras comuns é a busca por aumentar a participação delas na política e nos cargos eletivos. Outra é a preocupação com a educação, vista como essencial para o enfrentamento da violência, para a melhoria das condições de vida e da consciência sobre seus direitos e espaços.

    Elas refutam fichas-sujas e extremismos — na política e no movimento feminista — e procuram candidatos que estejam atentos à pauta feminina e também à governança da máquina pública.

    O Brasil tem hoje 147,3 milhões de eleitores registrados. Destes, 52,5% são mulheres. Os números, no entanto, não se refletem na disputa pelos votos.

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    A lei eleitoral exige que os partidos tenham pelo menos 30% de candidatas do sexo feminino concorrendo a cargos legislativos. A cota foi atingida em 2018, mas a participação delas ainda raspa na nota de corte: são 30,7% das concorrentes às câmaras estaduais e 31,59% dos candidatos ao Congresso Nacional.

    A publicitária Cristina Tosta Mosciaro, 43, tem sua própria história como exemplo na hora de escolher candidatos. Ela cresceu em uma família de classe média baixa de São Paulo e diz que foi criada para “conseguir um bom marido e cuidar da família”. Cristina, no entanto, não se identificava com esse horizonte e encontrou na escola pública professores que a incentivaram a alçar voos maiores.

    “As pessoas precisam ter acesso a uma educação formal de qualidade. Isso deve ser prioridade. Existem muitas desigualdades no país. Tenho consciência de que, mesmo vindo de baixo e tendo lutado muito, eu tive oportunidades que outras mulheres poderiam não ter”, afirma Cristina, que é a favor de programas sociais que ajudem a diminuir esses abismos e procura priorizar a contratação de funcionárias e fornecedoras mulheres.

    “As mulheres têm que se ajudar. Somos metade da população, metade do eleitorado. Temos de olhar para esse cenário e perceber que temos o poder de movimentar isso. Hoje, associam o movimento feminista ao radicalismo, mas isso é proposital. A gente perde muito como sociedade com essa polarização de 8 ou 80. Enquanto isso, os caras estão tomando cafezinho”, diz.

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    Depois de uma longa carreira em uma multinacional, hoje ela comanda uma consultoria de marketing e é sócia do marido em outra empresa. Sua visão da economia é mais liberal. Por isso, escolheu João Amoêdo, do Novo, como candidato a presidente, embora discorde de algumas de suas posições, como a liberação do porte de arma.

    “Não escolhi só pela questão feminista, foi pelo conjunto. É preciso acabar com o aparelhamento do Estado. Acho que o Estado precisa investir em educação básica, saúde e segurança. Para o restante, se a privatização for o melhor caminho, sou a favor. Mas desde que haja uma agência reguladora séria que acompanhe e cobre a gerência desses serviços”, afirma ela.

    Feministas de direita
    ‘A gente perde muito como sociedade com essa polarização de 8 ou 80. Enquanto isso, os caras estão tomando cafezinho’, diz Cristina Tosta Mosciaro (Heitor Feitosa/VEJA.com)

    Gisele Agnelli, 40, vai votar em uma das duas mulheres entre os treze candidatos à Presidência: Marina Silva, da Rede. Socióloga de formação, ela trabalhou durante quinze anos com consultoria em marketing e decidiu investir no ativismo político desde que voltou a São Paulo em 2017, após dois anos de sabático nos EUA. Um dos grupos em que atua é o Vote Nelas, que busca incentivar o aumento da representação feminina na política. O movimento pretende dar visibilidade a candidatas de diferentes partidos e ideologias de todos os estados do país que respeitem a democracia e os direitos humanos.

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    “Minha escolha não é só porque ela (Marina Silva) é mulher. Ela tem um plano de governo que me agrada, uma pauta forte para educação e prega políticas públicas sustentáveis. Também gosto do Eduardo Giannetti, seu economista”, explica Gisele, que se identifica como de centro, com posições progressistas, mas com visão econômica que pende mais à direita.

    “Acho que é preciso fazer reformas para lidar com a crise fiscal, controlar gastos, enxugar o Estado e manter as contas públicas em dia. Mas também não quero que o teto de gastos possa impactar os mais pobres. É um equilíbrio delicado”, completa.

    Gisele também procura candidatos que estejam comprometidos com a democracia. “Sendo homem ou mulher, precisa ter uma sensibilidade real para esse tema.”

    Além de buscar prioritariamente candidatas mulheres, a consultora tributária Ana Carolina Cortopassi, 40, leva em conta as propostas para educação na hora de definir em quem votar. Embora se defina como de centro-direita, não tem problemas em escolher nomes da esquerda que estejam alinhados a essa pauta.

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    “As pessoas precisam ter a oportunidade de aprender, pensar e discutir. A educação ajuda inclusive nas questões do feminismo e do machismo, desde a discussão sobre o desequilíbrio salarial até coisas superbásicas como o pai poder ir buscar o filho na escola sem o chefe achar ruim ou estranho”, afirma ela, que mora em São Paulo.

    Quando o assunto é economia, ela tem uma visão mais liberal e busca candidatos que prezam pela governança. “Não acredito na estatização do país, em ter tudo da mão do Estado. Mas não vejo problema em serviços essenciais como saúde, educação e transporte estarem na mão do governo, desde que ele preste um bom serviço ao cidadão. É preciso ter uma boa gestão da coisa pública”, afirma ela, que gosta da posição de Marina Silva sobre educação e da visão que Amoêdo tem da economia, mas ainda não decidiu seu voto.

    Feministas de direita
    Ana Carolina Cortopassi gosta da posição de Marina Silva sobre educação e da visão que Amoêdo tem da economia, mas ainda não decidiu seu voto (Heitor Feitosa/VEJA.com)

    Adriana Souza Gibrail, 47, prioriza a questão feminina quando procura um candidato, mas diz que tem sido difícil encontrar mulheres que aliem essa preocupação a outras pautas com as quais se identifica. Ela deve votar em João Amoêdo para presidente. Para os cargos legislativos, está em busca de candidatas.

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    “As mulheres precisam se valorizar, a batalha por igualdade não vai ser vencida do dia para a noite.”

    Formada em administração de empresas, Adriana construiu uma longa carreira em multinacionais. Depois de uns anos, decidiu empreender e abriu uma franquia de calçados femininos e uma loja de aluguel de vestidos de noiva em Jundiaí, mas percebeu que não estava feliz e voltou para o antigo mercado, atuando como diretora de marketing.

    “Concordo com a visão que o Novo tem da questão do Estado e com sua preocupação com educação, saúde e infraestrutura”, diz.

    Josele Delazeri de Oliveira, 40, mora há um ano e meio em Manaus e já está envolvida em ações relacionados a mulheres. Empresária da área de tecnologia, a gaúcha se mudou para a capital amazonense, porque o marido, militar, foi transferido.

    “Sempre fui revoltada com essa questão de quererem limitar a mulher. Mulher é tão capaz quanto o homem e pode fazer o quiser. Sempre procuro me envolver em projetos que possam ajudar nessas questões”, afirma ela, que integra o movimento Mais Amor, que busca orientar e acolher mulheres vítimas de violência e vai a escolas para conversar também com os meninos e conscientizá-los sobre o problema.

    Josele procura candidatos que não sejam alvos de denúncias de corrupção, tenham boas propostas para as mulheres e priorizem a educação. Em relação à economia, tem uma visão mais liberal e busca nomes que apoiem e incentivem o empreendedorismo.

    “A gente vive em uma sociedade de certa forma machista, com as mulheres sendo menos beneficiadas. Procuro saber o que o candidato vai fazer para diminuir essa desigualdade. Educação e ética também são primordiais. E se estiver em corrupção, não serve. Ainda estou estudando cada um deles”, diz.

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