Mandetta não aceita demissão de secretário: ‘Entramos e sairemos juntos’
Secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson de Oliveira pediu demissão nesta quinta-feira; titular da pasta deve ser demitido até o final desta semana
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, negou, na tarde desta quarta-feira, 15, a demissão do secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson Kléber de Oliveira.
“Entramos no Ministério [da Saúde] juntos, estamos no Ministério juntos e sairemos do Ministério juntos. Hoje teve muito ruído por causa do Wanderson. O Wanderson já mandou para o setor dele falando que ia sair, aquilo virou uma, chegou lá para mim. Eu falei que não aceito, o Wanderson continua. Está aqui, acabou esse assunto. Nós vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde”, afirmou Mandetta, em um anúncio no início da coletiva de imprensa concedida diariamente pela equipe da pasta.
Como mostrou o Radar, o secretário de Vigilância e Saúde pediu demissão na manhã desta quarta-feira. Oliveira participava diariamente das longas explanações do ministério e era quem se responsabilizava por divulgar os números da pandemia de coronavírus no Brasil.
Em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro por se contrapor às declarações do chefe do Executivo sobre o isolamento social como ferramenta para combater o avanço do coronavírus, Mandetta balança no cargo há algumas semanas, mas sua situação se tornou ainda mais delicada após a entrevista concedida por ele ao Fantástico, da TV Globo, no domingo 12.
Na ocasião, o titular da Saúde cobrou um discurso unificado do governo, para que a população não tenha dúvidas sobre seguir as orientações do ministro ou do presidente da República. Na terça-feira 14, Mandetta afirmou que não tem a intenção de deixar o cargo, mas sua demissão deve ser oficializada até o final desta semana.
Antes de deixar o cargo, porém, Mandetta definiu três ações que pretende realizar como ministro: deixar pronto o plano de manejo de combate ao vírus em regiões de favelas, o painel nacional de leitos hospitalares disponíveis no país e os processos de compras de equipamentos e insumos hospitalares em curso.
Debandada
Cotado para assumir o Ministério da Saúde após a iminente saída de Mandetta, o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, afirmou que possui um compromisso com o atual chefe da Saúde. “Tenho um compromisso com o ministro Mandetta. O dia em que ele sair, eu saio junto com ele. Entrei no Ministério da Saúde muito jovem, em 1981. Ano que vem completo 40 anos de Ministério da Saúde. Não vou jogar no lixo este meu patrimônio. Se o presidente [Jair Bolsonaro] indicar uma nova equipe, não vou abandonar o barco. Ficarei no ministério o tempo que for necessário para fazermos a transição com tranquilidade. A população espera a continuidade deste trabalho. A descontinuidade do trabalho pode ter um resultado muito significativo. Não vou abandonar o barco no meio do caminho”, disse Gabbardo.
Na sequência, Mandetta complementou a fala do número dois da pasta. “Já pedi esta conduta [de auxiliar na transição para uma nova equipe] a todos os secretários. Se vier outra pessoa, se precisar, é para ajudar, é para permanecer. A gente sai, todos são cargos de confiança, não tem ninguém que não seja de confiança. Todos foram convidados por mim, é uma equipe técnica. É lógico que quando eu saio, todos eles colocam os cargos à disposição. Entrando uma pessoa, precisa passar o serviço? Passa o serviço. Precisa trabalhar mais um tempo? Trabalhe mais um tempo. Sabe como os escolhi? Por currículo do que fez. A segunda coisa que fiz foi olhar no olho, para saber se era gente firme. Hoje não é uma equipe, é praticamente uma família. Todos que foram testados, sentimos firmeza”, acrescentou Mandetta.
Mandetta afirmou que sua equipe é pautada em três pilares: defesa da vida, do Sistema Único de Saúde (SUS) e defesa da ciência. “Esse caminho, claramente, não tem ressonância para que seja conduzido desta maneira”, afirmou, em resposta às críticas que tem recebido nos últimos dias.