Uma das razões que seguraram o ministro da Saúde, Mandetta, no cargo até esta quarta-feira, 15, foi a sua popularidade crescente. Com mais do que o dobro de aprovação em relação ao presidente Jair Bolsonaro na condução da crise de coronavírus, Mandetta ganhou o apoio até em panelaços na semana passada, quando esteve prestes a ser demitido pelo chefe do Executivo.
Os ventos começaram a mudar nesta semana, após a entrevista que ele deu no domingo 12 ao programa Fantástico, da TV Globo, na qual deixou clara a sua discordância com o presidente. Segundo uma pesquisa da consultoria Quaest, a partir de então, o seu índice de popularidade digital caiu de 50 para 44 até esta quarta-feira. Já o de Bolsonaro subiu no mesmo fim de semana e permanece estável desde então, em 78. O índice calcula as menções positivas e negativas, os número de seguidores e compartilhamentos e as buscas pelos nomes no Twitter, Facebook, Instagram, Wikipedia, Youtube e Google.
A queda recente de Mandetta é pequena, se comparada ao crescimento que ele acumula desde fevereiro, quando passou de um ministro desconhecido para um dos mais populares do governo, ficando à frente até dos ministros até então mais importantes como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) em relação a citações na internet. O movimento, no entanto, é revelador neste momento em que Bolsonaro está mais do que decidido a apeá-lo do posto.
“A avaliação é que Mandetta exagerou na dose. E Bolsonaro conseguiu agrupar seus aliados e voltou a ter alta mobilização nas redes em torno de debate economia versus saúde”, analisa Felipe Nunes, professor de Ciência Política da UFMG e diretor da Quaest. Não é desprezível também a ação de perfis bolsonaristas que vinham desde a semana tentando manchar a imagem de Mandetta.
Além da popularidade digital, o ministro da Saúde também contava com o apoio da ala militar, que convenceu Bolsonaro a mantê-lo no posto na semana passada. Mas a entrevista ao Fantástico não foi bem vista por alguns militares que trabalham no Planalto, que a interpretaram como uma “quebra de hierarquia”.
Diferente do que deseja o presidente, Mandetta, no entanto, não deve sair dos holofotes tão cedo – o governador de Goiás Ronaldo Caiado (DEM) já o convidou a assumir a Secretaria de Saúde do estado. Aliás, a entrevista que ele deu no domingo foi feita no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. Talvez, já era um sinal de que a sua estadia em Brasília estivesse chegando ao fim.