Moradores reclamam de ‘maldição’ em prédio do tríplex de Lula
Edifício Solaris, no Guarujá, acumula problemas como funcionários demitidos, ameaças de processos trabalhistas e desvalorização
O Edifício Solaris, na Praia das Astúrias, no Guarujá, endereço do tríplex que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condenação em primeira instância pelo juiz Sergio Moro na Operação Lava Jato, vive o seu próprio drama ou, como dizem alguns moradores e veranistas, o seu próprio “carma” e “maldição”.
O prédio, que virou uma espécie de “ponto turístico acidental”, e passou a ser chamado de “prédio do Lula” ou “prédio do tríplex do Lula“, coleciona uma série de problemas: funcionários demitidos, ameaça de processos trabalhistas, desvalorização dos imóveis, reformas que demoram mais de um ano, piscina interditada e reparos que custam mais caro do que a média do mercado porque “o prédio é famoso”.
A primeira vítima do tríplex foi o zelador José Afonso Pinheiro, demitido em abril do ano passado. Na ocasião, ele afirmou que sua demissão foi consequência de uma entrevista em que confirmou a presença de Lula e dona Marisa no Solaris. “Eu perdi o emprego que era o sustento da minha família e a nossa moradia. Portanto, não tem como eu não ficar feliz com a condenação do Lula”, disse. Pinheiro, que foi candidato a vereador nas últimas eleições, aguarda o resultado de um processo que abriu contra o edifício.
Há uma semana, oito funcionários do Solaris também foram demitidos — com o argumento de que a administração iria terceirizar todos os funcionários para cortar custos. “O motivo pode ter sido a terceirização, mas, desde que essa loucura do tríplex começou, quem administra esse prédio tenta inventar demissões por justa causa e ameaça não pagar nossos direitos”, contou a ex-funcionária Shirley Nascimento.
Outro porteiro demitido, que pediu para não ser identificado, afirmou que uma despedida, “nesse contexto”, faz “a gente imaginar coisas”. Ainda assim, ele não pretende processar ninguém. “O Solaris foi vítima da crise no país. Naquele prédio, a crise nos atingiu em cheio”, afirmou. Procurado, o síndico do Solaris, Paulo de Távora, garantiu que as demissões seguiram critérios puramente econômicos e a “administração do prédio está normal”.
Pesadelo
Os moradores do Solaris e vizinhos disseram torcer para “o pesadelo acabar” e a vida nas Astúrias voltar ao normal. Na praia, um grupo de amigas comentou o transtorno causado pela presença constante de curiosos e de jornalistas. Além disso, elas colocaram uma questão prática: “Com o tríplex vazio, e ele deve continuar vazio por muito tempo, o condomínio deve subir para compensar esse imóvel sem uso. Quem vai pagar o prejuízo? Ora, serão os moradores”, disse Leonor Consil, vizinha do Solaris. As vizinhas disseram que “sempre souberam que o tríplex era do Lula”.
O morador Pedro Pimenta apontou outro problema: “Agora, qualquer reparo, por menor que seja, custa os olhos da cara. Qualquer troca de piso, qualquer probleminha elétrico. Os prestadores de serviço cobram mais porque “esse é o prédio do Lula”.
Pimenta e outros moradores contaram que a ocupação no prédio, apesar das férias de julho, anda muito baixa e “os apartamentos estão vazios”. Corretores procurados disseram que pouca gente tem se interessado em alugar e “apenas curiosos interessados em entrar no prédio do Lula” têm aparecido. Os mesmos corretores disseram que os apartamentos já desvalorizaram cerca de R$ 200 mil. “Tudo isso se agravou porque nós tivemos uma reforma que demorou mais de um ano e nossa piscina ficou interditada nesse período”, reclamou uma moradora que preferiu não se identificar.
Turistas
Alheios aos problemas no prédio, turistas não cansam de se postar na frente do edifício para registrar uma imagem do “tríplex do Lula”. O segurança Waldeci Marcelino fez uma parada na calçada do Solaris para fazer selfies e provar para os amigos que estava pertinho de um “escândalo político”. Já o aposentado Anésio França, além das selfies, faz uma proposta: “Tombar o Solaris como um patrimônio histórico nacional”. Com certeza, os moradores discordam e preferem ser esquecidos.
(Com Estadão Conteúdo)