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Moro direcionou a Lava Jato a atacar Lula na imprensa, diz site

Conversa privada mostra que Moro procurou o Ministério Público para sugerir texto à mídia que mostrasse 'contradições' do petista

Por Da Redação Atualizado em 15 jun 2019, 10h34 - Publicado em 14 jun 2019, 21h57

O ex-juiz Sergio Moro pediu aos procuradores da Operação Lava Jato uma nota à imprensa para responder o que classificou como “showzinho” da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o depoimento do petista no caso do triplex do Guarujá, em São Paulo. A revelação está em outra conversa do atual ministro da Justiça e Segurança Pública vazada, esta privada com o então procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima. O conteúdo foi exibido na noite desta sexta-feira, 14, pelo site The Intercept.

Reportagem da capa de VEJA desta semana mostrou como a atuação de Moro nos casos da Lava Jato alçou o juiz ao posto de celebridade – imagem que começa a mudar com a divulgação das mensagens. Os diálogos são inequívocos: mostram o estabelecimento de uma relação de coope­ração incompatível com a imparcialidade exigida por lei de qualquer juiz. 

Segundo o Intercept, os procuradores acataram a sugestão dada por Moro no dia 10 de maio de 2017, quando o então juiz já presidia um processo criminal contra o ex-presidente no caso do triplex do Guarujá, no litoral de São Paulo. Moro perguntou “o que achou?” ao procurador do Ministério Público Federal em Curitiba. Santos Lima respondeu: “Achei que ficou muito bom. Ele começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. Ele cometeu muitas pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem compreendido pela população. Você ter começado com o triplex desmontou um pouco ele“.

Moro respondeu que “a comunicação é complicada, pois a imprensa não é muito atenta a detalhes. E alguns esperam algo conclusivo“. E concluiu: “Talvez vocês devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele. Porque a defesa já fez o showzinho dela“. Santos Lima respondeu: “Podemos fazer. Vou conversar com o pessoal. Não estarei aqui amanhã. Mas o mais importante foi frustrar a ideia de que ele conseguiria transformar tudo em uma perseguição sua“.

Na ocasião, Lula havia feito um pronunciamento de 11 minutos na Praça Santos Andrade, em Curitiba, no qual atacou a Lava Jato, a imprensa e Sergio Moro, afirmou que estava sendo “massacrado” e que estava “se preparando para voltar a ser candidato a presidente”.

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Dez minutos depois de conversar com Moro, Carlos Fernando dos Santos Lima abriu o grupo “Análise de clipping”, onde estavam também assessores de imprensa do MPF do Paraná. Ele estava em Recife para um congresso jurídico no dia seguinte. Ali, ele fez o pedido: “Será que não dá para arranjar uma entrevista com alguém da Globo em Recife amanhã sobre a audiência de hoje?

Um assessor respondeu: “Possível é, só não sei se vale a pena. E todos os jornalistas que estão aqui e já pediram entrevista?“. Outro assessor perguntou: “Mas dr., qual o motivo? Qual a necessidade, na realidade…“. Santos Lima explicou: “Uma demanda apenas. Como será a repercussão da coletiva dos advogados?“. “Rito normal do processo… Vcs nunca deram entrevista sobre audiência… vai servir para defesa bater… mais uma vez…“, respondeu um dos assessores.

Logo depois, Santos Lima copiou a conversa que teve em seu chat privado com Moro e colou em outro chat privado, com o coordenador da Lava Jato do MPF, Deltan Dallagnol, que mandou uma série de mensagens no grupo “Filhos de Januário 1”, com procuradores da força-tarefa: “Então temos que avaliar os seguintes pontos: 1) trazer conforto para o juízo (Moro) e assumir o protagonismo para deixá-lo mais protegido e tirar dele um pouco de foco; 2) contrabalancear o show da defesa. Esses seriam porquês para avaliarmos, pq ng tem certeza. O ‘o quê’ seria: apontar as contradições do depoimento. E o formato, concordo, teria que ser uma nota, para proteger e diminuir riscos. O JN (Jornal Nacional) vai explorar isso amanhã ainda. Se for para fazer, teríamos que trabalhar intensamente nisso durante o dia para soltar até lá por 16h”.

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Depois, Dallagnol mandou mensagem ao grupo “Análise de clipping”, dos assessores de imprensa: “Caros, mantenham avaliando a repercussão de hora em hora, sempre que possível, em especial verificando se está sendo positiva ou negativa e se a mídia está explorando as contradições e evasivas. As razões para eventual manifestação são: a) contrabalancear as manifestações da defesa. Vejo com normalidade fazer isso. Nos outros casos não houve isso. b) tirar um pouco o foco do juiz que foi capa das revistas de modo inadequado“. Um dos assessores respondeu alertando que a medida poderia ser um “tiro no pé” e que a mudança de postura poderia gerar outros questionamentos.

Deltan também escreveu a Moro, o elogiando pela condução da audiência: “Caro, parabéns por ter mantido controle da audiência de modo sereno e respeitoso. Estamos avaliando eventual manifestação. A GloboNews acabou de mostrar uma série de contradições e evasivas. Vamos acompanhar“. Moro respondeu: “Blz. Tb tenho minhas dúvidas da pertinência de manifestação, mas é de se pensar pelas sutilezas envolvidas“.

Então os procuradores acataram a sugestão e distribuíram uma nota à imprensa, na qual expôs três contradições do depoimento de Lula, além de refutar uma alegação da defesa. Naquela noite, Dallagnol mandou nova mensagem a Moro para explicar os motivos de não ter explorado tanto as contradições do ex-presidente: “Informo ainda que avaliamos desde ontem, ao longo de todo o dia, e entendemos, de modo unânime e com a ascom, que a imprensa estava cobrindo bem contradições e que nos manifestarmos sobre elas poderia ser pior. Passamos algumas relevantes para jornalistas. Decidimos fazer nota só sobre informação falsa, informando que nos manifestaremos sobre outras contradições nas alegações finais.”

Ainda de acordo com o Intercept, a assessoria do ministro Sergio Moro foi procurada, mas disse que ele “não iria comentar as supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa de hackers e que podem ter sido adulteradas e editadas”.

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