A ofensiva do Tribunal de Contas da União (TCU) contra o pré-candidato à Presidência Sergio Moro, alvo de um procedimento na Corte por suspeitas de que pode ter municiado uma empresa que o contratou com dados confidenciais da Lava-Jato, perdeu tração nos últimos dias, mas provocou o primeiro abalo na relação do presidenciável com o partido que o abrigou, o Podemos. Moro não pretende vir a público explicitar a insatisfação, mas ficou contrariado com o que considera falta de apetite da legenda em comprar briga com o tribunal e o defender no caso.
O processo para apurar supostas ilicitudes na contratação de Moro pela consultoria americana Alvarez & Marsal havia sido aberto no início de 2021 e foi tomando corpo na medida em que o ex-ministro da Justiça dava sinais mais claros de que entraria de vez na disputa pela Presidência da República. A A&M foi notificada no final do ano passado a apresentar os honorários pagos a Moro e cópias do contrato com o ex-juiz, mas não entregou os documentos alegando confidencialidade e falta de legitimidade do tribunal para atuar no caso.
Coube ao senador Alessandro Vieira, que não é do Podemos, mas do Cidadania, arguir um possível abuso de autoridade do ministro Bruno Dantas, relator do caso que decidiu dar seguimento ao processo mesmo após parecer da equipe técnica ter afirmado não haver irregularidades na contratação do ex-magistrado pela iniciativa privada. O partido do presidenciável só agiu depois de o subprocurador-geral do MP no TCU Lucas Furtado ter pedido, no dia 4 de fevereiro, o bloqueio de bens do pré-candidato por uma eventual sonegação fiscal e entrou com uma representação na Procuradoria-geral da República (PGR) contra a medida.
Independentemente das contestações de Vieira e do Podemos, ainda permanecem abertas novas frentes da controversa investigação na Corte de Contas. Furtado notificou empreiteiras para que informem todos os contratos de consultoria que celebraram desde o início da Lava-Jato e se algum deles teve as digitais do então juiz ou da A&M, e Bruno Dantas encomendou um relatório de inteligência à equipe técnica do TCU em busca de uma suposta relação ilícita de Moro com empresas pilhadas no petrolão. O pedido de bloqueio de bens, por exemplo, só deve ser analisado depois da entrega do relatório – o que não tem prazo para ocorrer.
Fontes do TCU afirmam, no entanto, que as duas ofensivas podem levar Furtado a abrir um novo processo contra Sergio Moro a qualquer momento ou mesmo pedir novas diligências em casos da Lava-Jato que já tramitam no tribunal, como investigações relacionadas à refinaria de Abreu e Lima, ao Comperj ou à usina de Angra 3, mantendo assim o presidenciável sob constante escrutínio da Corte.