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Morre Gervásio Baptista, ícone do fotojornalismo brasileiro

Em mais de 70 anos de profissão, fotógrafo registrou boa parte da história política do país e cobriu a Guerra do Vietnã e a Revolução Cubana

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 5 abr 2019, 20h31 - Publicado em 5 abr 2019, 17h52

Ícone do fotojornalismo brasileiro, Gervásio Baptista morreu, aos 95 anos de idade, nesta sexta-feira, 5, em Brasília (DF) deixando uma coleção invejável de imagens capturadas por suas câmeras. Em mais de 70 anos de atividade profissional, Baptista documentou boa parte da República brasileira em fotografias do Brasil, de suas missões no exterior e atuação como correspondente na Guerra do Vietnã e de revoluções.

Há cinco anos, ainda trabalhava como fotógrafo oficial do Supremo Tribunal Federal (STF) e da estatal Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Circulava com desenvoltura, sempre com a câmera na mão e chapéu na cabeça, pelos corredores e salões do poder.

De suas lentes saíram feitos do fotojornalismo, como os registros do enterro de Getúlio Vargas em São Borja (RJ), em 1954, e do aceno de Juscelino Kubitschek ao povo na inauguração de Brasília, em 1960. Também é dele a última imagem de Tancredo Neves, quando estava internado no Hospital de Base de Brasília, em 1985.

Não houve político ou autoridade de relevância em Brasília incólume a suas lentes. No ano passado, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) o homenageou com a Medalha Ranulpho Oliveira, destinada aos maiores nomes do jornalismo da Bahia.

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“Ele foi um pai e um mestre para todos nós, fotógrafos do poder, em Brasília”, resumiu André Dusek, um dos veteranos do fotojornalismo brasileiro. “Era um profissional muito ético, mas sempre brincalhão. Eu me lembro que, sempre que nos encontrávamos, ele me agradecia por uma ajuda que eu lhe havia dado para fazer foto do Collor em Alagoas”, completou, referindo-se ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.

“Gervásio era um ídolo, um símbolo para os fotógrafos de Brasília. Era muito respeitado”, afirmou Tânia Monteiro, veterana repórter de O Estado de S Paulo, com mais de trinta anos de cobertura do Palácio do Planalto.

Nascido em 1923 em Salvador (BA), Gervásio Baptista começou ainda adolescente na profissão. Aos 27 anos, foi destacado pelo Diário de Notícias, de Salvador, para uma reportagem sobre Assis Chateaubriand, o magnata dos Diários Associados, a quem fotografou montado em um burro. A ousadia desdobrou-se em convite de Chateaubriand para integrar a equipe de O Cruzeiro, a maior revista de notícias daquela época.

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Em 1952, Baptista foi convidado por Adolpho Bloch para o primeiro time da revista Manchete, onde trabalhou até ser chamado pelo presidente eleito Tancredo Neves, em 1985, para ser o fotógrafo oficial de seu mandato. A morte de Tancredo não o afastou do Palácio do Planalto, onde exerceu essa mesmo função durante o governo de José Sarney.

Seu primeiro contato com Tancredo Neves deu-se no enterro de Vargas, quando subiu em uma árvore para registrar a comoção do então ministro da Justiça, de João Goulart e de Osvaldo Aranha. “Cuidado para não cair, menino”, teria lhe dito Tancredo, que repetia a mesma frase sempre que se encontrava com o fotógrafo.

Pela Manchete, embarcou para as cobertura do conflito no Vietnã, nos anos 1970, da Revolução Cubana, em 1959, e da Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974. Registrou sete Copas do Mundo e dezesseis concursos de Miss Universo. Durante a ditadura militar, porém, Gervásio Baptista foi preso e dividiu sua cela com o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Boa parte de seus negativos arquivados pela Manchete se perdeu com a falência da revista, em 2000.

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O corpo de Gervásio Baptista será cremado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Suas cinzas serão espalhadas na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Ele deixou os filhos Júlio e Selma.

(Com Agência Brasil)

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