O Ministério Público Federal emitiu na última segunda-feira um parecer favorável à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que um pedido de suspeição do petista contra o juiz federal Sergio Moro seja julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A manifestação do MPF, assinada pela subprocuradora-geral da República Aurea Maria Etelvina Nogueira Lustosa Pierre, deu-se depois de o próprio Moro e o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, recusarem o recurso de Lula contra o magistrado. A decisão sobre o pedido do ex-presidente no STJ caberá ao ministro Felix Fischer.Os advogados de Lula enumeram, em nove pontos, que Sergio Moro é parcial para julgá-lo e pedem a anulação de todos os atos dele no processo sobre o tríplex no Guarujá, em que o ex-presidente já foi condenado. A defesa afirma, entre outros aspectos, que o magistrado teria dado indicativos de que condenaria o petista no despacho em que aceitou a denúncia do MPF; que Moro teria “esclarecido” pontos da acusação feita pelos procuradores; que o juiz federal participou de eventos ao lado de políticos investigados na Lava Jato e fez provocações aos advogados do petista após uma audiência no processo.Sergio Moro condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo o imóvel no litoral paulista. O magistrado considerou que o tríplex e as reformas nele, no valor de 2,3 milhões de reais, representam vantagens indevidas pagas pela OAS ao ex-presidente a partir de uma “conta de propinas” reservada pela empreiteira ao petista e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na mesma sentença, o juiz inocentou o petista da acusação do MPF de que o custeio do armazenamento de seu acervo presidencial, pela OAS, era propina.Lula é réu em outros dois processos sob responsabilidade de Sergio Moro. Na quarta-feira passada, o petista prestou depoimento em um deles, que apura se ele recebeu cerca de 13 milhões de reais em propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno que abrigaria o Instituto Lula, em São Paulo, e de um apartamento vizinho ao dele, em São Bernardo do Campo (SP). No final da oitiva, o ex-presidente questionou Moro se poderia considerá-lo imparcial.“E vou terminar fazendo uma pergunta para o senhor. Eu vou chegar em casa amanhã e vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu fui a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”, indagou Lula, que ainda disse ao juiz que, em sua opinião, ele não agira assim no processo do tríplex do Guarujá.O magistrado respondeu que não caberia ao petista fazer essa pergunta, mas que, “de todo modo, sim [poderia considerá-lo imparcial]”. “Eu não vou discutir a outra ação com o senhor, senhor ex-presidente. Se nós fossemos discutir aqui, a minha convicção foi de que o senhor é culpado. O senhor está discutindo lá no tribunal, que apresente suas razões no tribunal. Se nós fossemos discutir aqui, não seria bom para o senhor”, rebateu Moro, que em seguida interrompeu a gravação do depoimento de Lula.