Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Mudança nas regras: propostas no Congresso podem ter forte impacto nas eleições

Do fim da reeleição à campanha em templos, passando pelo aumento de vagas para deputados, eles têm o interesse político como fio condutor

Por Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 Maio 2025, 08h00

A sessão plenária da Câmara dos Deputados de terça-feira 6 foi um bom exemplo de como a classe política se move rápido quando seus interesses estão em jogo. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-­PB), reuniu os parlamentares em torno de uma pauta com mais de vinte projetos de lei. Porém, só um foi realmente analisado. Por volta das 20h, os deputados deram seu “sim” a um regime de urgência que lhes permitiu, menos de três horas depois, votar e aprovar, sem o aval de quaisquer comissões, uma proposta que cria dezoito cadeiras a mais na Casa (de 513 para 531) e gera um gasto de 65 milhões de reais por ano aos cofres públicos.

A maneira como se chegou a isso também é exemplar. Essa movimentação ocorreu para atender a uma decisão do Supremo Tribunal Federal de 2023, determinando que a Câmara ajuste sua quantidade de vagas por estado ao Censo de 2022. O prazo concedido pela Corte foi junho de 2025, sob o risco de a Justiça assumir a questão e fixar a nova distribuição. Se a ordem fosse seguida à risca, alguns estados iriam ganhar cadeiras e outros, perder, entre eles colégios eleitorais importantes como Rio Grande do Sul, Bahia e Rio de Janeiro. Um projeto da deputada Dani Cunha (União Brasil-­RJ) abriu as portas para evitar isso: segundo a proposta, quem tivesse de ganhar deputados ganharia, e quem tivesse de perder permaneceria como está. Na sessão, os colegas aprovaram ainda um substitutivo de Damião Feliciano (União Brasil-­PB) que propunha uma “abordagem política” do problema, sugerindo dezoito novas vagas, e não treze, como estava no projeto inicial. “Precisamos decidir se vamos legislar ou se vamos dar um cheque para o Judiciário preencher essa conta para a gente pagar com os nossos mandatos”, disse Dani Cunha, logo depois de questionar o Censo, que classificou como “malfeito” e “desordenado”. O resultado da votação mostrou a aderência desses argumentos entre os parlamentares.

CRÍTICA - Dani Cunha: deputada diz que é “malfeito” o Censo que tira vagas do Rio
CRÍTICA - Dani Cunha: deputada diz que é “malfeito” o Censo que tira vagas do Rio (Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

A mudança que criou dezoito novas cadeiras de deputados é só mais uma entre tantas outras que vêm ganhando tração no Congresso em ano pré-eleitoral e que têm o interesse político como fio condutor. Entre as propostas em pauta estão a flexibilização das restrições para manifestar preferência de votos (até em igrejas), o uso de dinheiro público em pré-campanhas nas redes sociais, a desobrigação de partidos reservarem 30% de suas candidaturas para mulheres, o perdão para multas por descumprir cotas para negros e até o fim da reeleição, com a extensão de mandatos (veja o quadro). Com exceção da reeleição, que teria carência, tudo pode valer para 2026.

Os “ajustes” nas regras para atender aos interesses da vez não chegam a ser novidade no Brasil. Desde a redemocratização, o país promoveu todo tipo de alteração, incluindo a aprovação da reeleição em 1997, a adoção do financiamento público de campanha em 2017 (o Fundo Eleitoral saltou de 1,7 bilhão de reais em 2018 para 4,9 bilhões de reais em 2024) e a criação de federações para evitar que partidos sem voto perdessem tempo de TV e dinheiro. Enquanto atuam para adequar a lei a seus interesses, os políticos fogem de outros temas, como combater o uso de fake news. A postura obriga o Tribunal Superior Eleitoral a baixar uma infinidade de resoluções para regular questões como campanhas digitais e uso de inteligência artificial. “Queremos uma lei mais perene, que traga mais estabilidade e que não seja só para as próximas eleições”, diz o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator da PEC que acaba com a reeleição. “As regras do jogo não podem mudar conforme o técnico”, acrescenta Eduardo Tavares, advogado eleitoralista e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).

Continua após a publicidade

arte código eleitoral

Mesmo quando se trata de uma ideia que faz sentido ser debatida, como o fim da reeleição, sempre há um penduricalho. Na quarta-feira 7, a Comissão de Constituição de Justiça do Senado quase votou a proposta que acaba com a reeleição para o Executivo e expande os mandatos de prefeito, governador e presidente para cinco anos. Na esteira disso, os parlamentares também teriam seus mandatos aumentados para cinco anos (deputados) e dez anos (senadores), mas manteriam, claro, o direito a reeleições. Por fim, a análise da proposta acabou sendo adiada mais uma vez.

A reeleição, por sinal, é um bom exemplo de como medidas casuísticas podem virar um problema. O instituto, criado para reeleger Fernando Henrique Cardoso em 1998, mudou a política. Em 2024, alavancada pelo uso da máquina e por emendas parlamentares, a taxa chegou a 82%, a maior da história. Em 2020, o próprio FHC admitiu que não deveria ter patrocinado a mudança na lei para beneficiá-lo. “Historicamente foi um erro”, escreveu. A história também poderá mostrar que ajustar as regras do jogo para atender aqueles que estão disputando o jogo — e, pior, no afogadilho — talvez não seja uma boa ideia.

Publicado em VEJA de 9 de maio de 2025, edição nº 2943

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.