Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Mudanças sobre o STF devem ser discutidas sem preconceito, diz Guimarães

Líder do governo Lula na Câmara defende o debate sobre a delimitação do papel de cada poder e sai em defesa de Arthur Lira

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 13h06 - Publicado em 20 abr 2024, 09h53

Em seu quinto mandato, o deputado federal José Guimarães (PT-CE), 64 anos, enfrenta o desafio de atuar como uma ponte do governo Lula com a Câmara, formada em sua maioria por parlamentares conservadores e de centro. Defensor do diálogo e de uma relação harmônica, Guimarães viu, nos últimos dias, o nível de tensão escalar diante da rusga entre o presidente da Casa, deputado Arthur Lira, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a quem recaiu a pecha de “incompetente”.

Em meio ao fogo cruzado, Guimarães articula uma conversa para desanuviar o ambiente – da qual o presidente Lula também deve participar -, afirma que o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, errou ao demitir um primo do Arthur Lira da superintendência do Incra em Alagoas e faz até um aceno a mudanças nas regras relativas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à definição das prerrogativas de cada poder. O posicionamento se dá após a Corte mandar prender o deputado Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, e em meio a críticas sobre uma suposta interferência do Judiciário no Legislativo.

“Não se pode discutir isso com preconceito. Isso tem de ser discutido à luz do dia, com todo mundo, para ver o que é melhor para a democracia e para o funcionamento entre os três poderes, de forma harmônica e respeitosa”, afirma Guimarães. A entrevista foi concedida a VEJA na última quarta-feira, 17, no gabinete da liderança do governo. Confira a íntegra.

Nos últimos dias, houve um movimento do Congresso em reação ao Supremo Tribunal Federal, inclusive se falando em CPIs. O debate, antes restrito à oposição, está escalando? O mesmo respeito que o presidente Lula tem com o Parlamento, ele tem com o Supremo. Os três poderes precisam se relacionar harmonicamente, não pode ter guerra entre um e outro. O que se precisa discutir, e eu tenho em tese, é delimitar os papeis de cada um. As ações no Supremo: quais são o limite delas? Qual é o limite das decisões monocráticas dos ministros? Pode ou não prender deputado sem a devida autorização legislativa? Não estou nem entrando no mérito. Essas questões, para o bem da democracia, e por uma relação harmoniosa e civilizada, nós precisamos discutir.

Mas há um tabu em discutir esses temas? No Senado, as mudanças foram chamadas de uma agenda anti-Supremo. Aqui, os líderes querem rediscutir toda essa questão se um deputado pode ou não ser condenado em primeira instância, se é segunda ou se é terceira [instância]. [Também querem discutir] As prerrogativas, a questão do foro das autoridades. Não se pode discutir isso com preconceito. Isso tem de ser discutido à luz do dia, com todo mundo, para ver o que é melhor para a democracia e para o funcionamento entre os três poderes, de forma harmônica e respeitosa. Não pode ninguém querer punir um dos entes federados porque está insatisfeito ou porque recebeu isso e aquilo.

Continua após a publicidade

Bolsonaristas falam em algum tipo de anistia ao ex-presidente e aos envolvidos no 8 de janeiro, como um jeito de pacificar o país. Tem alguma chance de prosperar? Não. Não pode ter anistia para quem comete crime, para quem comete delito. E quem tem de dizer se o ex-presidente cometeu algum crime ou não é a Suprema Corte. Não sou eu que estou dizendo. É o que eu tenho visto nas condenações que estão correndo. Qualquer exagero que possa ter é infinitamente inferior frente ao paradeiro que foi dado com aqueles que tentaram um golpe.

Mas o senhor concorda que há exageros? Aí eu tenho que avaliar cada processo.

O que está acontecendo na articulação política? É absolutamente natural que numa relação democrática entre o Executivo e o Legislativo esses momentos de pico ocorram, porque nós não somos iguais, a Câmara tem uma composição majoritariamente conservadora que não foi a composição que foi vitoriosa no poder Executivo e nós temos de saber lidar com essa dinâmica. O dado é que, com todos esses picos da chamada crise, nós não deixamos de aprovar nada que o governo quis. Portanto, o saldo é muito superior aos problemas, às picuinhas, às coisas menores, às dificuldades de relação pessoal.

Continua após a publicidade

Como esses problemas afetam a sua atuação? O que prevaleceu na nossa ação na liderança do governo foi pensar aquilo que foi decisivo para a retomada do crescimento da economia brasileira. Parecia impossível, mas aprovamos tudo. E vamos agora em 2024 concluir os dois temas centrais. O primeiro é a regulamentação da reforma tributária.  Esse feito tem de ser atribuído à comissão, ao governo, ao [Fernando] Haddad e ao presidente Lira. Todo mundo deu uma contribuição para que essa proposta fosse aprovada. A segunda votação importante é a do Perse, porque ela tem impacto econômico na vida do gerador de emprego e na vida do governo. É claro que no meio disso tem as disputas, teve a história do Chiquinho Brazão, que a Câmara se dividiu e nós fomos vitoriosos.

O senhor considera a manutenção da prisão do Brazão uma vitória do governo? Considero uma vitória da democracia e do combate ao crime organizado.

Mas a suposta ingerência do governo foi justamente um dos pontos de irritação do Arthur Lira. Teve gente que defendeu fortemente a revogação da prisão, e teve gente que defendeu a manutenção. Qual é a crise nisso? Esse plenário é democrático. Tem gente que sai chateado? Tem. Teve gente que saiu vitorioso? Teve. Mas isso não pode ser um elemento de crise, porque não é uma questão de governo.  Eu vi vários líderes fortemente atuando: eu atuei fortemente para manter, o Elmar Nascimento atuou fortemente para soltar. Eu não vi dentro nenhuma ação do Arthur Lira para manter ou soltar. Eu não recebi nenhuma menção por parte do Arthur Lira porque o governo estava envolvido nisso.

Continua após a publicidade

Neste caso, a menção foi ao ministro Alexandre Padilha. Se teve ministro ‘a’ ou ministro ‘b’ que atuou, ou foi atribuído a ele, eu não vi. Eu atuei publicamente, e não fui criticado por conta disso. Não vi nenhuma ação do Padilha para  tirar voto, virar voto, nada.

O senhor concordou com a demissão do primo do Arthur Lira? Está muito acirrado. Nós temos o Abril vermelho, do MST, a derrota que eles sofreram, estratégica, na semana passada, e temos as matérias de interesse do governo. E no meio disso aparece a história da demissão do primo do Arthur Lira. Foi um negócio descabido, na minha opinião. O ministro [Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário] não poderia fazer isso sem ser combinado. Isso é que atrapalha. Mas a partir disso, se espalha que tem uma crise. Eu conversei com o presidente Lula hoje [quarta-feira] por telefone. Ele vai conversar com o próprio Arthur Lira.

Qual balanço o senhor faz desses primeiros 15 meses de governo? O país que nós recebemos e o país desses 15 meses de governo é outro. Em todos os dados: exportações, saldo da balança comercial, queda do dólar, controle da inflação, lançamento do PAC, a renda, desemprego caindo. Quando nós assumimos, eu ouvia os agourentos dizendo que íamos crescer menos de 1% – crescemos quase 3%. Então a economia está se recuperando pelas ações do governo e pelo o que nós votamos aqui na Câmara. Por isso, eu não posso deixar de reconhecer o papel do Legislativo. Tudo o que aconteceu: as brigas, os problemas pessoais, as futricas são menores do que aquilo que nós fizemos, numa relação de respeito, civilizada, que quando diverge tem transparência. Ninguém dá golpe em ninguém aqui dentro.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.