General de divisão, penúltimo posto na hierarquia do Exército, Eduardo Pazuello, 58 anos, é um militar treinado para atuar na retaguarda. Especialista em logística, comandou o Depósito Central de Munição do Exército no Rio de Janeiro e ajudou a viabilizar a Operação Acolhida, que recebeu refugiados venezuelanos durante a crise humanitária no país vizinho. Alçado ao Ministério da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro, Pazuello saiu de sua zona de conforto para a linha de frente do combate à pandemia e acabou abatido, pressionado pela explosão Brasil afora da Covid-19 sob sua gestão. Tornou-se, para piorar, o alvo preferencial dos senadores que conduzem a CPI da Pandemia e investigam superfaturamento na compra de vacinas no período em que ele comandava a pasta. Apesar de todas as adversidades, porém, o general não pensa em sair de cena. Ao contrário: é uma das apostas do bolsonarismo nas eleições do ano que vem.
Um dos principais motivos para Pazuello contar com o apoio do Planalto é a sua até então explícita fidelidade, exposta no famoso vídeo em que, em tom militar, diz obedecer a Bolsonaro “sem questionar suas ordens”. Há um mês, o próprio presidente encomendou uma pesquisa para testar nomes do Exército com potencial de votos — e Pazuello saiu-se bem entre eleitores do Rio de Janeiro, onde é visto como “autêntico representante bolsonarista”. Os detalhes da candidatura não estão de todo definidos — e nem poderiam, dadas as incertezas do cenário de hoje. Segundo integrantes do alto escalão no Planalto ouvidos por VEJA, Bolsonaro aguarda o desfecho da CPI para bater o martelo sobre a vaga que o general irá pleitear. As apostas já estiveram centradas no Senado, mas, considerado o desgaste na imagem do ex-ministro, avalia-se neste momento que ele terá mais chances concorrendo à Câmara de Deputados. “Em 2022, uma única vaga de senador estará em disputa no Rio e há candidatos mais fortes e populares no páreo, pelo menos por ora”, pondera um amigo de Pazuello.
Enquanto isso, o general move suas tropas, articulando informalmente com oficiais da ativa e colegas do Clube Militar. “Ele conta com o apoio de boa parte do círculo de militares do Estado”, diz o também general Eduardo José Barbosa, presidente do clube, com 5 000 associados. Além disso, o ex-ministro mantém sob sua influência uma engrenagem relevante da máquina pública. O atual superintendente do Ministério da Saúde no Rio, coronel Pedro Pinheiro dos Santos, um velho conhecido de Exército, é indicação sua para o cobiçado posto, nome que escolheu a dedo mesmo depois de já ter deixado a Esplanada. Pazuello emplacou o amigo após George Divério, outro colega de farda, ser afastado por suspeitas de irregularidades.
O que o indicado do agora ex-ministro tem nas mãos não é pouco: além de cargos vistosos, há o polpudo orçamento de 806 milhões de reais por ano dos seis hospitais federais fluminenses a gerenciar. Pazuello acompanha à paisana os trabalhos de Santos, que ainda exerce o controle sobre a concessão de leitos e o acesso a consultas. “O superintendente nomeia os diretores e administra a porta de entrada dos hospitais”, explica Luiz Henrique Mandetta, outro ex-ministro da Saúde. O cargo é tão visado que, nos bastidores, o primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), costura para colocar o seu preferido no lugar de Pinheiro, o cardiologista Marcelo Lamberti. Não à toa, Pazuello, até agora, tem mantido as rédeas. “Ao entender e estimular suas ambições, Bolsonaro quer tê-lo a seu lado, sem que lhe cause dor de cabeça”, diz um aliado do presidente.
A depender dos sacolejos na CPI, se as portas do Sudeste estiverem fechadas mais adiante, o plano B do general aponta para o Norte. Ex-comandante da 12ª Região Militar em Manaus, ele é apoiado por um desconhecido Movimento Conservador Amazonas para se lançar candidato a governador. Já tem até seu nome impresso em cartazes e santinhos espalhados pela capital amazonense. Em um deles, aparece ao lado de Bolsonaro sob o slogan “Juntos pelo Amazonas. Juntos pelo Brasil. A selva nos une”. Sérgio Kruke, empresário que preside o movimento e é próximo ao Planalto, conta que já transportou a campanha para as redes sociais. “A decisão final caberá exclusivamente ao general”, afirma, confiante. Aliados dizem que Bolsonaro espera para medir a temperatura e saber quanto irá se expor em prol do projeto Pazuello. Enquanto isso, o general se move na surdina, sua marca registrada.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751