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‘Não sou Adhemar de Barros, rouba mas faz’, diz Cabral a Bretas

Interrogado como réu em processo, ex-governador do RJ ainda classificou anel de luxo dado por empreiteiro à sua mulher como 'presente de puxa-saco'

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h34 - Publicado em 5 dez 2017, 19h14

Réu em 16 processos abertos a partir da Operação Lava Jato e já condenado em três deles a 72 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) declarou nesta terça-feira ao juiz federal Marcelo Bretas que não pode ser comparado a Adhemar de Barros, o ex-governador de São Paulo conhecido pela expressão “rouba, mas faz”.

“Excelência, eu não sou Adhemar de Barros, rouba mas faz. Eu não sou. Não sou rouba mas faz. Eu realizo, eu realizei, eu não roubei, eu não pedi propina a nenhum construtor, nenhuma prestadora de serviço”, afirmou Cabral, interrogado na ação é acusado de receber propina nas obras do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014 e o PAC das Favelas. Preso desde outubro de 2016 na Lava Jato, Cabral está custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio.

A declaração sobre Barros foi dada no momento em que Sérgio Cabral vinha defendendo o propósito das obras e Bretas o interrompeu, questionando se um político perderia os “louros” das iniciativas positivas ao “se locupletar” dos contratos públicos. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o peemedebista e seu grupo político cobravam 5% de propina dos contratos com as empreiteiras Odebrecht, Delta, Carioca Engenharia, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez.

Na oitiva, Cabral voltou a afirmar que “jamais” pediu propina a empresas ou combinou resultados de licitações durante sua gestão no Palácio Guanabara, entre 2007 e 2014. O ex-governador repetiu o argumento de que as vantagens indevidas apontadas pelo MPF não envolveram corrupção, mas eram, na verdade, dinheiro de caixa dois de suas campanhas eleitorais que ele destinou a “uso pessoal”.

O peemedebista ainda classificou como “presente de puxa-saco” o anel comprado pelo empreiteiro Fernando Cavendish em 2009, por 220.000 euros, e dado à mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, no aniversário dela naquele ano. Conforme a denúncia do MPF e relatos de Cavendish, a joia, da marca Van Cleef, foi adquirida pelo então dono da empreiteira Delta durante uma viagem a Nice, na França, na qual Cabral lhe pediu a compra do anel. “Comprei a joia e, na sequência, acertei o Maracanã. Não foi um presente, foi um negócio”, disse Fernando Cavendish a Marcelo Bretas em seu depoimento, ontem.

“O senhor acha que eu vou entrar em uma loja com o sujeito e pedir pra ele comprar um presente pra minha mulher? E dizer que isso foi propina do Maracanã um ano depois? Chega a ser risível, é o desespero de um empreiteiro encalacrado, um réu que lavou mais de 300 milhões de reais, desesperado lá na domiciliar dele, com medo de ser preso novamente, e tenta converter um presente dado um ano antes da licitação como se fosse uma negociata pra ele entrar no maracanã. Chega a ser surreal”, rebateu Cabral, que ainda afirmou que a joia foi devolvida em 2012, quando a Delta foi declarada inidônea pelo governo do Rio de Janeiro e teria havido um rompimento da amizade entre o empreiteiro e o governador.

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