Na quarta-feira 31, Jair Bolsonaro foi homenageado por um grupo de pilotos da reserva da Força Aérea Brasileira. A solenidade, realizada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, chamou atenção pelo forte esquema de segurança. O presidente eleito chegou ao local num comboio de carros blindados, usava colete à prova de bala e estava cercado por pelo menos vinte policiais. Perto dali, postados no alto de um prédio, dois atiradores de elite observavam com binóculos o movimento, posicionados — e autorizados — para agir em caso de alguma ameaça. A extrema preocupação com a segurança do deputado já havia se revelado no domingo, quando ele saiu de casa para votar. A Polícia Federal, a Polícia Militar e a Polícia do Exército — armadas com metralhadoras e fuzis — escoltaram Bolsonaro até a seção eleitoral. Eleitores e jornalistas foram obrigados a passar por um detector de metais, e bolsas e mochilas foram revistadas.
Antes da eleição, Bolsonaro já receava por sua vida. Por medo de um atentado, ele contratou seguranças e se recusava a viajar em aviões particulares temendo uma eventual sabotagem. O deputado nunca se convenceu de que o acidente aéreo que causou a morte do ex-governador Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014 foi uma falha do piloto. O ataque sofrido em Juiz de Fora exacerbou suas preocupações, que se haviam provado corretas, afinal. No momento em que foi esfaqueado, Bolsonaro já estava sob os cuidados da Polícia Federal. Doze agentes encontravam-se na cena do crime, mas foram insuficientes para impedir a agressão. Depois disso, o esquema foi vastamente ampliado. Agora, são 55 homens, incluindo integrantes do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, destacados exclusivamente para fazer a segurança do presidente eleito. Por ora, o maior receio são as aparições programadas, aquelas anunciadas com antecedência. Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou Bolsonaro, soube da visita a Juiz de Fora dois dias antes, o que lhe permitiu planejar o ataque, segundo ele mesmo contou ao ser preso.
Depois de eleito, Bolsonaro participou de dois eventos sem aviso prévio: além da homenagem dos pilotos da reserva, ele foi à igreja comandada pelo pastor Silas Malafaia, no Rio de Janeiro. No domingo, logo após a vitória, Bolsonaro quis sair para agradecer aos milhares de apoiadores que se reuniam em frente ao seu condomínio, na Barra da Tijuca. No entanto, foi informado de que uma mulher havia sido identificada no meio da multidão com uma faca dentro da bolsa. O caso era aparentemente banal, mas ganhou dimensão. A Polícia Federal localizou e interrogou a suspeita, que alegou portar a arma apenas para se defender. Bolsonaro desistiu de saudar os apoiadores. O esquema de segurança foi estendido aos filhos e à mulher do presidente eleito.
Esse clima de tensão em torno de sua integridade física tem levado Bolsonaro a cancelar compromissos e já ameaça até comprometer uma tradição que remonta à decada de 50, anterior à inauguração de Brasília. No dia da posse, 1º de janeiro, o presidente eleito desfila a bordo de um Rolls-Royce conversível. Juscelino Kubitschek, por exemplo, participou do desfile. Atualmente, de pé dentro do carro, já com a faixa presidencial no peito, o eleito percorre o 1,7 quilômetro que separa a catedral do Congresso, em Brasília. Essa parte da solenidade pode não acontecer. Assessores de Bolsonaro argumentam que é um risco desnecessário. Os mais exaltados dizem que o desfile em carro aberto é por demais parecido com o que permitiu o assassinato do presidente americano John F. Kennedy, em Dallas.
Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2018, edição nº 2607