O PDT, o PSB e a Rede Sustentabilidade anunciaram nesta quarta-feira, 17, uma aliança para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro na próxima eleição. A chapa será formada pela deputada estadual Martha Rocha (PDT) e pelo ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello (Rede). No entanto, os partidos ainda não decidiram quem encabeçará a disputa na capital – o escolhido será o mais bem colocado nas pesquisas – e o vice. O acordo foi articulado pelo deputado federal Alessandro Molon (PSB) e divulgado durante transmissão ao vivo na internet com os caciques das legendas, incluindo Carlos Lupi, presidente nacional do PDT. Marina Silva, fundadora da Rede, não participou. A união ocorre um mês depois de o deputado federal Marcelo Freixo desistir de concorrer ao pleito pelo PSOL. Freixo tentou, em vão, unificar em torno de seu nome candidatos de esquerda, no chamado campo progressista.
Martha Rocha é ex-chefe de Polícia Civil do governo Sérgio Cabral, preso na Operação Lava-Jato. Em janeiro de 2019, a deputada foi alvo de tiros quando passava de carro pela Avenida Brasil, uma das principais vias que liga o Centro da cidade a bairros da Zona Oeste. Ela não se feriu. O veículo era blindado. O acordo com PSB e Rede significa um passo atrás do PDT. Em entrevista a VEJA em 30 de janeiro deste ano, a parlamentar declarou que “não seria vice de ninguém” e descartou qualquer aproximação com o ex-prefeito Eduardo Paes, pré-candidato do DEM. Paes sonhava em ter Martha como sua vice na briga pela sucessão do atual prefeito Marcelo Crivella, que buscará a reeleição pelo Republicanos.
“Não vejo como um retrocesso, um passo atrás. É uma construção. A Rede tem experiência em defesa do meio ambiente. O PSB tem toda uma história política. A Martha tem experiência. O Bandeira foi gestor do BNDES e comandou o time mais popular do país. Agora, as nossas pesquisas vão decidir (o cabeça de chapa). Não é só o nome melhor pontuado. Mas também quem tem menos rejeição. Vejo o acordo como um avanço”, afirmou Lupi.
“É uma aliança de forças progressistas que se unem para tentar interromper o processo de decadência do Rio”, disse Bandeira de Mello. O ex-presidente do rubro-negro carioca foi um dos indiciados pela Polícia Civil por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar) pela morte de dez atletas das divisões de base do clube, em fevereiro do ano passado. A tragédia ocorreu durante um incêndio no alojamento improvisado no Ninho do Urubu, o Centro de Treinamento do time, em Vargem Grande, Zona Oeste. Bandeira acredita, porém, que o caso não o prejudicará na eleição: “De forma alguma. Acho que vão tentar usar, mas tenho total interesse em que esse assunto seja debatido e que todos fiquem esclarecidos”.
PSOL ainda rachado
Enquanto isso, o PSOL de Marcelo Freixo ainda não encontrou um denominador comum sobre o representante do partido na eleição. Na corrente ligada ao deputado, por exemplo, há três possibilidades para concorrer: as deputadas estaduais Renata Souza e Mônica Francisco, ambas ex-assessoras da vereadora assassinada Marielle Franco, e o ex-deputado federal Chico Alencar. Na outra ponta, está o vereador Renato Cinco. O grupo liderado por Freixo é mais flexível a alianças com legendas de esquerda. Já o de Cinco é restrito ao apoio de siglas da esquerda socialista, mais radical, como o PCB e o PSTU.
“O partido deverá escolher um nome nas próximas semanas. Mas a nossa prioridade continua a ser o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus”, ressaltou o vereador Tarcísio Motta. Antes de desistir, Freixo se aproximou do PT. Apareceu, inclusive, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, no primeiro discurso dele após deixar a prisão, em novembro do ano passado. Lula citou Freixo seis vezes no microfone na presença de milhares de pessoas. O deputado, por sua vez, fez questão de ser fotografado e filmado com o petista para divulgar em suas redes sociais. “A esquerda precisa ter maturidade”, declarou o parlamentar ao jornal “O Globo” após anunciar a saída da disputa, o que representou uma mudança importante no quadro eleitoral. O PT lançará a ex-governadora Benedita da Silva. O PCdoB terá Brizola Neto, ex-ministro do governo Dilma Rousseff.
Paes quer o ‘Centrão’
Em conjunto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o ex-prefeito Eduardo Paes planeja reunir, em uma frente ampla, todos os pré-candidatos de centro para chegar ao segundo turno. A tarefa é difícil e, por enquanto, não há sinal de união para o primeiro turno. Neste campo, se apresentam alguns nomes, como Paulo Marinho, do PSDB, e o deputado federal Marcelo Calero, do Cidadania. Além do vereador carioca Paulo Messina, ex-chefe da Casa Civil de Crivella e recém-filiado ao MDB, partido dizimado pela Lava-Jato. O PV também está no horizonte. Paes ainda não fechou acordo com nenhum deles. Por enquanto, só conseguiu os nanicos Avante e Democracia Cristã.
Desde 2018, quando foi derrotado para o governo do estado, Paes luta para se descolar das imagens de antigos aliados presos na Lava-Jato. Em eleições passadas, o ex-prefeito teve em seu palanque Cabral, o ex-governador Luiz Fernando Pezão, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e os ex-presidentes da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani e Paulo Melo. E não é só. O seu secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, foi condenado pela Justiça Federal, no último dia 10, por corrupção passiva e por integrar uma organização criminosa que desviou dinheiro das obras da Transcarioca. Na sentença contra Pinto, o juiz Marcelo Bretas não cita Eduardo Paes.
Em março, Paes virou réu, também na Justiça Federal, por fraude e corrupção em obra da Olimpíada de 2016 quando ele era prefeito. De acordo com o Ministério Público Federal, a suspeita é de desvios de 119 milhões de reais na construção do Complexo Esportivo de Deodoro. O caso está na 3ª Vara Federal Criminal do Rio. No Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), há ainda um inquérito contra Paes que tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação é sobre supostos crimes de corrupção, evasão de divisas e caixa dois nas campanhas de 2010 e 2012. “Infelizmente, você governar fica sujeito a ação a dar com o pé e eu tenho sido absolvido em todas” declarou Paes a VEJA.
Mesmo no MDB, Paulo Messina diz que terá “autonomia” dentro do partido: “Não acredito que atrapalhe a candidatura porque o povo entende que, pela legislação eleitoral, é preciso um partido para concorrer a cargo público. O MDB aceitou meu programa de governo, acreditou na minha proposta de campanha, sabe de minha vida pública limpa de 12 anos sobre a qual não respondo a um processo sequer. Nossa única combinação é a total autonomia, inclusive para formar o futuro governo. Quanto ao envolvimento de pessoas do MDB em processos, cada um deve responder por seus atos, diante da Justiça”.
Crivella e os Bolsonaro
Marcelo Crivella continua a saga para agradar o presidente Jair Bolsonaro. O mais recente movimento do bispo licenciado da Igreja Universal foi a flexibilização do isolamento social no Rio. Desde o início da pandemia, Crivella era contra o relaxamento. Mas um encontro com Bolsonaro, em Brasília, mudou tudo. Bolsonaro sempre foi favorável à liberação total das medidas restritivas de enfrentamento da Covid-19. Os filhos de Bolsonaro – o vereador Carlos e o senador Flávio – se filiaram ao Republicanos. Nos bastidores, Crivella tenta criar agendas positivas do governo no combate ao coronavírus. O prefeito distribuiu ainda secretarias e cargos para atrair partidos para a sua aliança. Fez isso com o Podemos, Progressistas, Solidariedade, Patriota, PTC, PL e PMN.
Em sua delação premiada à Lava Jato, Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor (federação que representa as empresas de ônibus no estado), disse que o ex-tesoureiro de Crivella, Mauro Macedo, pediu “apoio financeiro” de 2,5 milhões de reais para a campanha do então candidato em 2016 por meio de caixa dois. No depoimento, Teixeira disse ainda que os acordos ocorriam desde a candidatura de Crivella ao Senado, em 2004, e em 2010.
Já o doleiro Sérgio Mizhay, preso na Lava-Jato em 2018, apontou o empresário Rafael Alves como operador de um suposto esquema de propina na Prefeitura do Rio em troca da liberação de pagamentos a empresas credoras do município. O Ministério Público abriu inquérito para investigar o caso. Rafael é irmão do ex-presidente da Riotur Marcelo Alves. O empresário foi homem de confiança de Crivella. Ele ajudou o então candidato a prefeito a conseguir doações em dinheiro para a campanha também em 2016. Após a vitória nas urnas, Crivella nomeou Marcelo para comandar a Empresa Municipal de Turismo. O prefeito sempre negou irregularidades.
Eleição adiada?
Por causa do coronavírus, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, não descarta adiar as eleições municipais, previstas inicialmente para outubro. Barroso tem declarado que o primeiro turno poderia ocorrer em 15 de novembro e o segundo turno até 20 de dezembro. A decisão depende da aprovação do Congresso.