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Novo governo precisa mostrar firmeza com militares, diz especialista

Professor defende combate à politização das Forças Armadas e diz que caserna conhece Bolsonaro há décadas - e por isso não pode alegar "inocência"

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 jan 2023, 11h33

Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), João Roberto Martins Filho estuda as Forças Armadas há mais de 30 anos e, diante dos episódios de vandalismo em Brasília no último dia 8, diz que o governo precisa agir com “firmeza” depois do que considera uma excessiva politização da caserna, sob o risco de os militares poderem criar problemas futuros. O mais visível deles, afirma, são potenciais novos acampamentos golpistas e uma estratégica vista grossa dos quartéis.

Em entrevista a VEJA, ele considera que o governo já tem indícios sobre os responsáveis pelo apedrejamento das sedes dos três poderes no dia 8 de janeiro – a edição de VEJA que chega nesta semana nas bancas e plataformas digitais mostra mensagens do GSI minimizando os atos – e analisa que os alertas do presidente Lula de que militares podem ter sido omissos diante da escalada da violência do protesto serve como aviso aos fardados. “Diante do fato de que nem o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] nem o Batalhão da Guarda Presidencial previram os atos violentos, se Lula não tivesse feito nenhuma declaração [sobre omissão das Forças Armadas], os militares iam se sentir muito fortes, os problemas seriam empurrados com a barriga e as crises militares apareceriam de novo”, afirma. “O problema com os militares é que o presidente da República tem de comandá-los. Caso contrário, acaba comandado”, completa.

Para Martins Filho, “o novo governo precisa mostrar firmeza com os militares porque eles podem criar problemas, continuando, por exemplo, a fechar os olhos para futuros manifestantes, como os que acamparam em frente ao Quartel do Exército”. “Alguma coisa precisa ser feita para que os militares não interfiram mais a política. (…) Desde o primeiro momento eles sabiam com quem estavam mexendo. Os militares não eram inocentes, conheciam Bolsonaro desde 1975”, diz.

Na avaliação do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, todos os responsáveis pela destruição das sedes dos três poderes em Brasília devem ser responsabilizados, sejam eles civis ou militares. Rompido com o ex-capitão desde que foi defenestrado do governo após um embate com o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, Santos Cruz diverge, porém, da avaliação majoritária de que o Brasil presenciou uma tentativa de golpe de Estado com a invasão do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, e defende a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar o quebra-quebra. “Tem que responsabilizar quem tem responsabilidade sobre os fatos, pode ser militar, civil ou político. Este caso tem amplitude para fazer uma boa investigação. Uma CPI seria muito boa para abordar todos os aspectos, caso contrário fica um jogo político. Temos que tomar cuidado para que não haja um discurso de radicalismo ou revanchismo político”, diz.

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