Em seu primeiro discurso como ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro saiu em defesa do ensino público e prometeu “abrir um grande diálogo para ouvir acadêmicos e educadores” para a elaboração de políticas públicas do país, repetindo discurso do presidente Jair Bolsonaro, que, um dia antes de anunciá-lo, havia dito em live numa rede social que convidaria alguém que fosse conciliador e promovesse o diálogo.
“Tem que ser uma pessoa que promova o diálogo, o que não é fácil, com todas as esferas da educação. Essa é a nossa vontade: ter lá uma pessoa que seja conciliadora””, disse o presidente, no dia 9 de julho. “Queremos abrir um grande diálogo para ouvir acadêmicos e educadores, setores que estão entristecidos com o que tem acontecido com a educação no nosso país”, disse Ribeiro na posse nesta quinta-feira, 16.
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Clique e AssineA sinalização aponta para uma mudança de postura no Ministério da Educação (MEC), que antes era comandada por Abraham Weintraub, que impôs um sectarismo ideológico de direita na pasta, inspirado nas ideias do escritor de Olavo de Carvalho, guru do bolsonrismo, e vivia em confronto com estudantes, professores e reitores das universidades federais.
Ribeiro se tornou o quarto ministro a ocupar o MEC na gestão Bolsonaro – antes dele, a pasta foi comandada por Ricardo Vélez Rodríguez (outro que chegou ao cargo indicado por Olavo), Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decotelli, que ficou apenas cinco dias no posto e pediu demissão após a revelação de que seu currículo tinha uma série de inconsistências.
“Quando recebi o honroso convite do presidente para assumir o MEC, entre outras coisas, ele me disse: ‘Olhe com carinho para a educação das crianças e ao ensino profissionalizante’. Hoje, assumo publicamente o compromisso de cumprir essa orientação do presidente”, disse. Ele também defendeu a valorização da escola pública e ressaltou que estou nesse tipo de instituição.
Outra prioridade anunciada por Ribeiro é a de resgatar “o respeito pelo professor”. Antes de tomar posse, ele foi criticado por um vídeo, divulgado nas redes sociais, no qual afirma que, em alguns casos, é necessário educar crianças com “dor”. Em sua fala de aproximadamente cinco minutos, negou que defenda a violência contra crianças, mas afirmou que os professores são vítimas de agressões.
“Devido à implementação de políticas e filosofias educacionais equivocadas, em meu entendimento, que desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula, o que existem, hoje, são episódios de violência física de alunos contra professores. As mesmas vozes críticas de nossa sociedade [que se queixam contra a violência contra crianças] devem se posicionar contra tais episódios com a mesma intensidade. Muitas vezes, o que acontece é o que vemos na TV: professores sendo agredidos, desrespeitados. Precisamos resgatar o respeito pelo professor”, afirmou.
Também em seu discurso, Milton Ribeiro agradeceu nominalmente aos deputados federais Silas Câmara (Republicanos-AM), presidente da frente parlamentar evangélica, e Cezinha de Madureira (PSD-SP), outro influente membro da bancada. O novo ministro é pastor da Igreja Presbiteriana. No final do discurso o ministro, no entanto, enfatizou que o estado é laico, antes de fechar sua fala com um “que Deus me ajude”.
O presidente Jair Bolsonaro, que cumpre isolamento por estar com coronavírus, participou por videoconferência. Como VEJA mostrou, a Câmara dos Deputados iniciará, na segunda-feira, 20, a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna permanente o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). A tramitação do texto vai representar o primeiro grande teste do novo ministro.