Irmão mais novo de Geddel Vieira Lima, que, como mostra a edição de VEJA, voltou desenvolto às articulações político-eleitorais, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima conseguiu pegar carona no descrédito de parte das investigações da Lava-Jato e ganhou na justiça o direito de que seja desconsiderada do acervo de provas contra ele a famosa planilha da Odebrecht.
O documento reunia, com o registro por apelidos, políticos para quem a empreiteira dizia ter pagado propina. A decisão judicial é um respiro porque Lúcio – cuja alcunha na tabela era “Bitelo” – tenta há quase dois anos postergar o início do cumprimento da pena de nove anos de cadeia imposta a ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi condenado por atuar ilegalmente em benefício da Odebrecht na aprovação de uma medida provisória que beneficiava a Braskem, braço petroquímico da empresa.
Desqualificar o documento que o aponta como destinatário de 1,5 milhão de reais em tese abre caminho para que ele tente uma nova rodada de recursos para se desvincular da condenação que resta, a de lavagem de dinheiro. Não será tarefa fácil. Embora boa parte dos políticos pilhados na Lava-Jato tenham conseguido transferir seus casos para a Justiça Eleitoral ou reduzir o delito à crime eleitoral, o que os livra do risco de cadeira, a imagem do bunker em que a dupla de irmãos armazenou 51 milhões de reais é uma das mais reveladoras da operação – e Geddel já até cumpriu pena pelo episódio. Na época, investigadores encontraram malas e caixas com dinheiro num apartamento em Salvador alugado pelo irmão mais novo.
Uma das maiores preocupações da defesa era de outra natureza: a condenação de ambos ao pagamento de 51 milhões de reais em danos morais coletivos. Em crimes contra a administração, como os apurados na Lava-Jato, a reparação do dano pode ser condição para a progressão de regime. Em 2021, o STF anulou o pagamento extra e ainda derrubou a penalização de ambos pelo crime de associação criminosa. Depois de ter cumprido um sexto da pena de 13 anos e quatro meses e abatido mais de 600 dias de detenção por trabalho e estudo na cadeia, Geddel está em liberdade condicional. A via crucis de Lúcio, porém, ainda está longe do fim.