Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez críticas ao Partido dos Trabalhadores, ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e também ao próprio partido, que, segundo ele, precisa “repensar” e “reconstruir a casa”, se quiser ter um futuro. Em uma longa entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o ex-presidente analisou o atual cenário eleitoral e ponderou sobre a polarização que tomou o Brasil.
“Não creio que seja por influência do que ele [Bolsonaro] diz ou pensa que votam nele. O voto é anti-PT. O eleitorado parece estar contra o PT. No olhar de uma boa parte dele, o PT é responsável pelo que aconteceu no Brasil, na economia, cumplicidade com a corrupção e etc” diz. Ao ser questionado sobre suas opiniões em relação ao candidato do PSL, FHC reforça: “Bolsonaro representa tudo que não gosto. É possível que a maioria dos líderes do PSDB seja pró-Bolsonaro, mas não é o meu caso.”
Sobre Fernando Haddad (PT), oponente de Bolsonaro nas urnas no segundo turno, FHC tem críticas, mas se mostra aberto ao diálogo. “Como pessoa é uma coisa, como partido é outra. A proposta que o PT representa não mudou nada”, diz. “Quero ouvir primeiro. Não sei o que vão fazer com o Brasil. O Bolsonaro pelas razões políticas está excluído. O outro eu quero ver o que vai dizer”, diz.
Apesar da fala amigável, o ex-presidente garante que a porta não está totalmente aberta para Haddad. “O outro [Bolsonaro] não tem porta. Um tem um muro, o outro uma porta. Figura por figura, eu me dou com Haddad. Nunca vi o Bolsonaro”, diz, antes de garantir que não possui relações pessoais e cordiais com o candidato do PT.
O Partido dos Trabalhadores, aliás, continua na mira de Cardoso. “O PT tem uma visão hegemônica e prepotente. Isso não é democracia. Democracia implica em abrir o jogo e aceitar a diversidade”, diz. Ele aproveita e reforça a decisão do PSDB em se manter neutro durante o próximo turno eleitoral. “Política não é boa intenção” diz. “ Quem inventou o nós e eles foi o PT. Eu nunca entrei nessa onda. Agora o PT cobra… diz que tem de (apoiar). Por que tem de automaticamente apoiar? É discutível. (O PT) Não faz autocrítica nenhuma. Por que tenho que, para evitar o mal maior, apoiar o PT? Acho que temos de evitar o mal maior defendendo democracia, direitos humanos, liberdade, contra o racismo o tempo todo.”
Sobre o futuro do próprio partido, que viu seu pior resultado em uma eleição este ano, o ex-presidente é categórico. “O PSDB, se quiser ter futuro, precisa se repensar. Depois de um terremoto, precisa reconstruir a casa. A onda conservadora é mundial”, diz. Sobre um cenário em que outro nome da sigla, em vez de Geraldo Alckmin, tivesse concorrido, se o resultado seria diferente, ele analisa: “Nas circunstâncias atuais, dificilmente um candidato do PSDB, fosse quem fosse, estaria isento de sofrer as consequências do terremoto. Não creio que seja o caso de culpar A, B ou C. Na situação que vivemos, você vai precisar de liderança forte, o que não significa autoritária. O governador de São Paulo tinha experiência e é uma pessoa correta, mas não teve apoio.”