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“O caixa dois acabou”, diz Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT

O ex-deputado assumiu o posto em 2005, logo depois do escândalo de corrupção que levou para a cadeia seu antecessor

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h13 - Publicado em 22 abr 2022, 06h00
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  • O ex-deputado Paulo Ferreira assumiu a tesouraria do PT em 2005, logo depois do escândalo de corrupção que levou para a cadeia seu antecessor. Em 2016, ele também foi preso e condenado por suposto envolvimento em um esquema de desvio de dinheiro desvendado pela Operação Lava-Jato — sentença que depois foi anulada. Nesta entrevista, ele fala sobre caixa dois, as dificuldades do cargo e repete a ladainha de que seu partido foi perseguido.

    Existe alguma maldição na função de tesoureiro? O problema é que o tesoureiro fica premido pela enorme demanda que tem uma campanha eleitoral. É uma logística gigantesca, que envolve enormes recursos, num país continental como o Brasil. Imagina você preparar um material em São Paulo e distribuí-lo para os 27 estados.

    Estou me referindo aos casos de corrupção envolvendo os ex-tesoureiros do PT.  Não vou entrar nesse tema.

    Delúbio Soares e o João Vaccari são corruptos? Já disse: não vou entrar nesse tema. Eles são meus amigos e cumpriram uma função de financiamento do partido. Muitas dessas condenações, à luz não dos fatos, não poderiam ter ocorrido. Foi uma perseguição ao PT. Pode escrever aí: houve uma campanha persecutória contra o Delúbio e o Vaccari.

    A proibição de doações de empresas facilita o trabalho da tesouraria? Hoje, a situação do secretário de finanças, do tesoureiro de campanhas, está num patamar de tranquilidade muito maior. Não é mais necessária a exposição de ter de ir a uma empresa, pedir doação, o que todo secretário de finanças do PT, do PSDB, de qualquer partido, sempre fez, entendeu?

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    O que os doadores pediam em contrapartida? Eles queriam uma relação. Às vezes, você recebe uma doação de uma empresa e não tem vinculação com o doador. Mas a empresa quer uma relação, e essa relação ali na frente vai se refletir num pedido, numa agenda, uma coisa assim. O fim do financiamento privado cortou essa interferência do poder econômico nas eleições e diminuiu muito a pressão sobre os gestores e sobre o Estado.

    O caixa dois acabou? O caixa dois é um fenômeno, né? Aliás, foi um fenômeno. Hoje não existe mais. Pelo menos nas campanhas que eu acompanhei recentemente, não tem mais disponibilidade nesse tipo de situação. O financiamento informal, digamos assim, fez parte da política brasileira desde sempre. O Fundo Eleitoral mudou essa cultura.

    Como assim? Primeiro, os candidatos não precisam mais ficar passando o pires, pedindo doações a empresas privadas, algo, como disse, que expõe muito as campanhas. E o mais importante: cria-se um nível de igualdade na distribuição dos recursos que não havia antes, o que fortalece a democracia. Agora, o partido pode dizer abertamente quem serão seus candidatos, o que eles vão defender, independentemente do interesse financeiro-eleitoral.

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    Houve alguma manifestação de solidariedade do partido quando o senhor foi preso? O presidente Lula me mandou uma mensagem. Eu nunca tive relação próxima ao Lula. Conheço ele, ele me conhece e prestou solidariedade quando fui preso. O presidente me mandou uma mensagem assim: “Olha, fica aí, fica firme, coisa e tal”. Depois, é natural que cada um siga seu caminho. Como eu não tenho reservas financeiras, tenho de cuidar da minha vida, e é isso que estou fazendo agora.

    Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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