Na noite de domingo, 16, Sergio Moro sentou-se na primeira fila do auditório do estúdio da Bandeirantes naquele que seria o primeiro debate presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições. O plano havia sido desenhado seis dias antes, quando o ajudante de ordens do presidente, Mauro Cid, telefonara para Moro. Do outro lado da linha, Bolsonaro pediu ao ex-auxiliar, que havia rompido com o chefe de forma traumática ao acusá-lo, em abril de 2020, de tentar interferir na Polícia Federal, que cerrasse fileiras em torno da campanha à reeleição. O momento político, disse o mandatário, exigia dos dois união em torno do adversário em comum: Lula.
Às 19h51, acompanhado do ministro das Comunicações Fabio Faria e do ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, o mentor da reaproximação, o ex-juiz da Lava-Jato entrou nos estúdios e se sentou estrategicamente em uma das duas únicas cadeiras reservadas à equipe mais próxima de Bolsonaro. O assento escolhido ficava bem na frente do petista. A distância que separou os dois quando o petista se aproximava da câmera para falar diretamente com o eleitor não superava os cinco metros. Foi tudo minuciosamente planejado para constranger Lula.
Com a sisudez que lhe é típica, Moro passou a maior parte do debate encarando o ex-presidente, a quem condenou a quase dez anos de cadeia na Lava-Jato. Nos intervalos, circundou o ex-chefe e deu conselhos de como poderia alvejar o adversário. Foi do ex-juiz, por exemplo, a sugestão a Bolsonaro para perguntar a Lula o motivo de o governo dele não ter atendido um pedido de autoridades de segurança para retirar Marcola, o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), de um presídio estadual de São Paulo e o transferir para uma penitenciária de segurança máxima administrada pelo governo federal. O questionamento tinha o objetivo de reforçar uma peça da campanha do presidente que tenta associar o PT ao PCC.
Conforme revelou VEJA, a transferência de Marcola, hoje explorada eleitoralmente, foi um dos primeiros desgastes entre Sergio Moro e o então chefe – em grande parte motivado pelo senso de paranoia do presidente. Ainda no início do governo, Bolsonaro estava convicto de que, em protesto contra a transferência do traficante, haveria uma série de rebeliões no país, e o Congresso, pressionado, acabaria por aprovar um pedido de impeachment contra ele.