Faltando poucas semanas para o primeiro turno das eleições, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho estava decidido a levar o próprio partido à Justiça para conseguir a liberação de cerca de 500.000 reais em doações privadas retidas indevidamente. Embora tivesse conseguido amealhar pouco mais de 1 milhão de reais junto a empresários e investidores, sua legenda, o União Brasil, havia represado parte dos valores, paralisando atividades de sua campanha a deputado federal. Dez dias e uma ameaça de processo depois, o dinheiro caiu na conta.
No Paraná, o ex-juiz Sergio Moro, candidato ao Senado, resolvera ainda no início do processo eleitoral poupar-se do constrangimento de passar o chapéu entre doadores após ter recebido a promessa, também do União, de que teria à disposição o teto de gastos permitido por lei – 4,44 milhões de reais. Recebeu menos de 60% disso. Embora nunca tenha havido tanto dinheiro público para bancar empreitadas políticas em ano de eleição – são 4,9 bilhões de reais, quase o triplo dos valores da disputa de 2018 – o fundo eleitoral se tornou o principal fator de brigas entre candidatos na reta final das campanhas, com acusações de privilégios financeiros e de distribuição de verbas com base em critérios nem sempre confessáveis.
No União Brasil, dono do maior naco do fundo eleitoral, com 758 milhões de reais, são inúmeros os casos de briga por financiamentos mais generosos. No mais recente deles, a candidata do partido à Presidência da República Soraya Thronicke e seu vice Marcos Cintra tiveram de cancelar parte dos compromissos políticos porque não havia recursos para deslocamento e hospedagem.
Em São Paulo, candidatos filiados ao partido mais rico do país também vivem em clima de guerra na divisão dos recursos. Lideranças da seção paulista da legenda enviaram um relatório para o presidente Luciano Bivar listando divergências na distribuição do dinheiro, entre as quais o repasse de 90.000 reais para nove candidatas que sequer fizeram campanha, divulgação das candidaturas ou mesmo propaganda em redes sociais. Em outro caso, mulheres com míseros 81, 33 e 17 votos na eleição passada receberam 70.000 reais cada para disputar a preferência do eleitor nas urnas. Em Mato Grosso do Sul, uma suplente de vereadora que agora concorre a uma vaga de deputada embolsou mais do que o candidato ao Senado e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Por trás da definição dos valores que cada candidato recebe de fundo eleitoral está a convicção de grande parcela dos partidos de que é mais importante montar uma ampla bancada na Câmara dos Deputados do que eleger governadores ou senadores ou mesmo despejar dinheiro em candidaturas presidenciais com poucas chances de êxito. O raciocínio leva em conta o fato de que o tamanho das futuras representações no Congresso é o critério usado pela Justiça Eleitoral para definir quanto cada sigla receberá de dinheiro público tanto para suas despesas diárias quanto para eleições futuras. Não por outra razão potenciais puxadores de voto, como o ex-ator pornô Kid Bengala ou a advogada e esposa de Sergio Moro, Rosangela Moro, receberam 2,2 milhões e 2,5 milhões de reais, respectivamente, do mesmo União Brasil. Eles são parte do pelotão dos (poucos e raros) políticos que não reclamam de falta de dinheiro.