Fernando Haddad sabia antes mesmo de assumir o cargo mais importante da Esplanada que o posto de ministro da Fazenda na grande maioria das vezes precisa estar na contramão dos interesses da classe política, que sempre pressiona para flexibilizar planos de ajuste fiscal ou aumentar repasses a programas de governo. Com esta cartilha, desde os primeiros dias à frente da pasta ele via em colegas de partido o principal flanco de resistência às linhas gerais da política econômica, mas, nas últimas semanas, o desconforto do chefe da Fazenda passou a ser direcionado também a outro integrante do primeiro escalão de Lula: o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira (PSD).
Parceiro do comandante da Casa Civil Rui Costa, por quem Haddad está longe de morrer de amores, Silveira é descrito como um auxiliar que tenta construir um círculo de intimidade com o presidente, que concorda com o mandatário de forma quase servil e que tem ganhado cada vez mais força no governo porque, entre outras coisas, tenta emplacar discursos que soam como música aos ouvidos de Lula. Em um caso emblemático, o imbróglio sobre o pagamento de dividendos da Petrobras, Silveira disse que não era admissível que a petroleira tivesse “um único e exclusivo objetivo de ter lucros exorbitantes para poder distribuir a seus acionistas”.
“Haddad tem detectado que hoje um dos ministros mais fortes do governo e íntimo do presidente é o Alexandre Silveira”, disse um interlocutor do ministro da Fazenda.
A grita do ministro contra o colega de Esplanada também tem como pano de fundo uma medida provisória que beneficia a Âmbar Energia, do grupo J&F. Dias antes da edição da MP, no mês passado, a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista acertou a aquisição de usinas térmicas da Eletrobras na Amazônia. Elas não tinham nenhum comprador há meses principalmente porque a distribuidora Amazonas Energia, principal cliente das usinas, está inadimplente e acumula dívidas bilionárias com as térmicas. Quem as comprasse, portanto, levaria junto o prejuízo.
A medida provisória endossada por Alexandre Silveira não só repassou milhões de reais do custo mensal das usinas para a conta de luz do contribuinte como impôs à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) encontrar uma solução para a Amazonas Energia – se der errado, quem assume o calote bilionário é a União, sem qualquer responsabilidade para os Batistas.
Em viagem recente, o presidente Lula até saiu em defesa do chefe da equipe econômica – “o Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim”, declarou no mês passado na Itália. Àquela altura, a MP já havia sido editada – e com ou sem afago presidencial, o desconforto de Fernando Haddad não diminuiu.