Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

O maior desastre ambiental do RS impõe duro teste a Eduardo Leite

O saldo final da gestão da crise poderá ser decisivo para o futuro de sua carreira

Por Adriana Ferraz Atualizado em 3 jun 2024, 16h57 - Publicado em 10 Maio 2024, 06h00

A rotina é de guerra. Desde o dia 29, quando as chuvas se avolumaram e a destruição começou a se espalhar pelo Rio Grande do Sul, o dia a dia do governador Eduardo Leite (PSDB) e de seus principais auxiliares virou de cabeça para baixo. A nova agenda inclui ligações de prefeitos com pedidos de socorro na madrugada, monitoramento em tempo real dos eventos meteorológicos, reuniões de emergência para restabelecer serviços básicos e acompanhamento do atendimento aos atingidos pelos temporais. Tudo ao mesmo tempo e sem uma estrutura adequada, já que tanto o centro administrativo do governo quanto o centro logístico da Defesa Civil estão alagados. Com os deslocamentos praticamente impedidos em razão dos bloqueios de estradas ou das dificuldades de pousar um helicóptero, o Palácio Piratini, sede do governo, virou uma espécie de QG da tragédia. “Às vezes, a rede não funciona nem no meu gabinete e temos de trabalhar todos da área residencial do palácio, que atualmente é a minha casa”, contou a VEJA Leite, que diz dormir agora quatro horas por noite. “É adrenalina pura.”

O jovem e promissor político gaúcho enfrenta o maior desafio de sua carreira, em meio a uma enxurrada de emergências. O saldo final de sua gestão na crise pode ser determinante para o futuro de sua carreira. Para quem tinha dúvidas se ele estava à altura de um desafio desse tamanho, o começo do trabalho parecia confirmar as piores expectativas, quando concentrou a comunicação nas redes sociais. Apenas no X (ex-­Twitter) foram mais de cinquenta posts, inclusive um para pedir a ajuda de Lula para a catástrofe que se desenhava. Vários usuários ironizaram a publicação pelo fato de Leite acionar o presidente por esse canal, e ela se somou a outras mensagens polêmicas (veja o quadro). Para os mais críticos (e exagerados), a opção soou como uma tentativa do tucano de gerir a crise pela internet em busca de likes.

Independentemente de o governador ter escolhido um meio heterodoxo para acionar o presidente, o fato é que o tuíte foi respondido pelo petista pouco tempo depois, por meio de uma ligação telefônica que selou a entrada do governo federal em peso na cena. “O Brasil é um país federativo e, em situações como essa, o socorro tem que vir mesmo de Brasília, que comanda as Forças Armadas”, afirma o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV. O alinhamento é desejável também para o período pós-crise, pois caberá à União o financiamento de um projeto de reconstrução da infraestrutura e da economia do estado. O diálogo do governador tucano com o presidente petista, deixando de lado divergências políticas, foi um bom sinal, mas era o mínimo que se poderia esperar de autoridades neste momento. Para Lula, o reconhecimento da população foi quase que imediato. Pesquisa Genial/Quaest feita entre 2 e 6 de maio mostra que no Sul a aprovação a Lula subiu 7 pontos — foi a única região onde a avaliação do petista melhorou. O mesmo instituto apontou que a aprovação de Leite é de 54%.

No comando do estado que se tornou símbolo dos extremos climáticos no Brasil, ora com seca, ora com chuvas, Leite tem sido cobrado nessa área. Uma das críticas é sobre a flexibilização radical na legislação ambiental promovida por ele em 2019, que teria aberto caminho para o desmatamento de áreas protegidas. Também é lembrado o fato de ele ter reservado apenas 50 000 reais para aparelhamento da Defesa Civil em 2024, mesmo após o estado ter vivido outra catástrofe ambiental em setembro de 2023, quando 55 pessoas morreram. O governo alega que os investimentos totais previstos com prevenção e combate a desastres climáticos chegaram a 117 milhões de reais. “Os governantes precisam trabalhar muito ainda para mitigar as consequências dessa era de catástrofes”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Continua após a publicidade

Eleito governador pela primeira vez aos 33 anos, o mais jovem do país à época, o tucano se orgulha de ter avançado com as reformas administrativa e da previdência que fizeram o estado voltar a pagar os salários em dia, de ter colocado de pé um robusto programa de concessões e privatizações e de ter negociado a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, numa tentativa de retomar a capacidade de investimento. Não conseguiu ser candidato à Presidência em 2022, mas permanece com a intenção de disputar o posto daqui a dois anos, como uma alternativa de centro. Antes disso, precisa mostrar serviço no Sul. Infelizmente, mais chuvas virão — e há um estado a ser reconstruído. O maior desafio da carreira dele está longe de acabar.

Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.