Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

O que está por trás da insistência de Bolsonaro em Tarcísio para São Paulo

O presidente tem encontrado dificuldade para definir candidatos de confiança nos três maiores colégios eleitorais do país

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 13h43 - Publicado em 4 jun 2021, 06h00

Festejado nos primeiros tempos do governo como o “melhor ministro” de Jair Bolsonaro, principalmente por seu perfil reservado, técnico e de tocador de obras, o chefe da pasta da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, deixou a discrição de lado e surgiu no fim de maio na garupa do presidente em um famigerado passeio de moto pelas ruas do Rio de Janeiro. A “motosseata” terminou no Aterro do Flamengo, onde Bolsonaro, sobre um carro de som, vestiu o figurino de animador de auditório e repetiu o que vem fazendo com alguma regularidade: sugerir o nome do auxiliar como candidato ao governo paulista em 2022. “O Tarcísio vai para São Paulo ou não vai? Vai fazer uma limpeza em São Paulo ou não vai?”, exortou.

A insistência no nome do subordinado, que é capitão da reserva do Exército e nunca foi candidato a nada, reflete a necessidade do presidente de encontrar um nome de sua confiança para a disputa num estado estratégico. Mais do que isso, ela ainda ilustra a sua dificuldade para montar palanques nos três maiores colégios eleitorais do país: há incertezas também em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A questão em São Paulo, no entanto, é a que mais preocupa. Primeiro, porque é o maior colégio eleitoral do Brasil, com 31,6 milhões de votantes, e foi estratégico na vitória em 2018, quando Bolsonaro cravou 68% dos votos no estado, porcentual bem acima dos 55% registrados nacionalmente. Segundo, porque no estado estão alguns dos principais adversários do bolsonarismo, como o governador João Doria (PSDB), o PT de Fernando Haddad e o PSOL de Guilherme Boulos — os dois últimos podem ser candidatos ao governo.

***ATENÇÃO - USO RESTRITO - PAGAMENTO POR REUTILIZAÇÃO***
DO LADO - Paulo Skaf: melindrado com o apoio dado por Bolsonaro ao ministro – (Joel Silva/Folhapress/.)

Tarcísio não tem partido e sequer vota em São Paulo, mas é um nome identificado com o presidente, o que pode ajudar na colheita dos votos bolsonaristas. “Ele talvez não tenha viabilidade de vitória, mas pode se tornar um nome expressivo que ajude na articulação presidencial. Pela configuração, é possível que num segundo turno o antibolsonarismo se una em São Paulo”, diz o cientista político Rafael Cortez, professor da PUC-SP e sócio da Tendências Consultoria. O flerte, no entanto, não tem sido correspondido. Apesar da insistência do chefe, que já encomendou até pesquisas para saber o desempenho do auxiliar, há muitas dúvidas sobre se Tarcísio vai encampar a missão.

A resposta do ministro, ainda no carro de som no evento do Rio, foi a de um bolsonarista típico, com menções a “bandeiras verde-amarelas”, mas sem qualquer aceno aos paulistas. Nos bastidores, ele indica que não pretende abraçar tão cedo a carreira partidária, sob o argumento de que isso traria a política para dentro do ministério e comprometeria a sua atuação. Apesar de satisfeito com o reconhecimento público de seu trabalho, com postagens diárias do presidente nas redes sociais e presença constante nas viagens oficiais, ele teme que a fantasia de pré-candidato colocada pelo presidente atrapalhe as concessões previstas para 2022, como a da Via Dutra, que deve ocorrer em fevereiro. Ele receia que investidores saiam pela tangente com a promessa de Bolsonaro de isentar o pedágio para motociclistas — seu novo exército eleitoral —, tornando o projeto pouco atraente às empresas com capacidade de investimento na rodovia. “Tarcísio tenta se equilibrar como pode, para agradar ao Planalto e ao mercado”, afirma um secretário da pasta.

Continua após a publicidade
PÉ NA ESTRADA - Rogério Marinho: entrega de obras em todo o Nordeste e candidatura ao governo do Rio Grande do Norte -
PÉ NA ESTRADA - Rogério Marinho: entrega de obras em todo o Nordeste e candidatura ao governo do Rio Grande do Norte – (Alan Santos/PR)

A resistência do escolhido contrasta com o desejo de outros aliados de Bolsonaro, por ora preteridos. O principal é o presidente da Fiesp, Paulo Skaf — aliados de Bolsonaro dizem que ele não se empolga com o nome, principalmente pelo “cansaço” com a imagem do líder empresarial, que já disputou três eleições ao governo e não chegou nem ao segundo turno. Como mostrou a coluna Radar, o movimento de Bolsonaro em direção a Tarcísio melindrou Skaf, que foi um dos principais articuladores do fracassado projeto do Aliança pelo Brasil, o partido criado sob medida para o capitão. Outro que os bolsonaristas gostariam de ver candidato é o ex-­ministro da Educação Abraham Weintraub, que é amado pelos bolsonaristas radicais e aparece bem em pesquisas de intenção de voto encomendadas pelo entorno do presidente — embora a sua rejeição também chame a atenção. Bolsonaro, por ora, não dá sinal de que pretende se reaproximar de seu ex-auxiliar.

Se no maior colégio a situação é complexa, pode-se dizer o mesmo do segundo, Minas Gerais. Eleito na onda bolsonarista de 2018, o governador Romeu Zema (Novo) teve relações ora próximas, ora distantes com o capitão. O maior empecilho a uma aliança em 2022 vem de seu partido, o Novo, que lançou, na quarta 2, a pré-candidatura ao Palácio do Planalto de seu fundador, João Amoêdo. “Muito provavelmente o Novo terá um candidato à Presidência, que eu irei apoiar”, resume Zema, que, por sua vez, disputará a reeleição no estado. Bolsonaristas mineiros ainda acreditam em uma aliança com o governador, mas admitem que, caso ela não ocorra, não têm um nome. Aos 23 anos, o deputado estadual Bruno Engler (PRTB), apoiado por Bolsonaro para a prefeitura de Belo Horizonte, não tem nem a idade mínima de 30 anos para o cargo.

Continua após a publicidade
APOSTA - Onyx Lorenzoni: um dos nomes do presidente ao governo gaúcho -
APOSTA - Onyx Lorenzoni: um dos nomes do presidente ao governo gaúcho – (Clauber Cleber Caetano/PR)

A vida não anda fácil nem no berço do clã presidencial, o Rio de Janeiro. A novidade da semana foi a possibilidade de o Patriota, nova sigla do bolsonarismo, lançar o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, ao governo, conforme antecipou o site de VEJA — ele também estava na “motosseata” de Bolsonaro no estado. Se a candidatura não ganhar musculatura, Bolsonaro tem a quem recorrer: o governador Cláudio Castro (PL), que é próximo ao filho Flávio, o Zero Um, e se filiou ao PL, um dos partidos do Centrão, em cerimônia prestigiada pelo próprio presidente. Bolsonaristas locais avaliam que Castro não é o candidato ideal, mas pode acabar se tornando na falta de alternativa. Levantamento do Paraná Pesquisas mostra um desempenho fraco do governador, que oscila entre 13% e 16% das intenções de voto e tem 17,7% de avaliação ótima/boa. Na liderança do levantamento aparece Marcelo Freixo, do PSOL, com intenções de votos variando entre 20,5% e 25,2%.

A busca intensificada nas últimas semanas por nomes fortes nos principais estados retrata o diagnóstico feito por políticos próximos a Bolsonaro — com o qual ele concorda — de que a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022 não repetirá nem de longe o cenário de 2018, quando ele largou na corrida como um “lobo solitário” e foi atraindo por gravidade os apoios de candidatos aos governos estaduais à medida que crescia como antagonista do PT. “Vai ter de ser uma coisa mais profissional, até porque ele vai ter de prestar contas do mandato”, diz o senador Ciro Nogueira, chefão nacional do PP e candidato ao governo do Piauí — um dos palanques garantidos para o presidente em 2022. A migração do bolsonarismo para o Patriota não é avaliada por aliados como a ideal, como seria uma volta ao PSL, com seu gordo fundo partidário e tempo de TV, mas hoje é a única viável. Líderes do Centrão já se reuniram com Bolsonaro para delinear os candidatos mais fortes de cada grupo e começar a alinhar apoios.

Continua após a publicidade
Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro
PLANO B - Castro, no Rio: bolsonaristas apoiam, mas ainda buscam outro nome – (Eliane Carvalho/.)

Em alguns estados, no entanto, Bolsonaro tem alternativas mais certeiras. Na Bahia, onde deve haver um novo embate entre o carlismo e o petismo, o presidente pode ter João Roma (Republicanos), ministro da Cidadania e um dos pais do programa sucessor do Bolsa Família, que deve ser lançado em setembro. No Rio Grande do Norte, é quase certa a candidatura de outro ministro com dinheiro e visibilidade, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), presença constante nas inaugurações de obras pelo país. No Paraná, Bolsonaro é aliado de Ratinho Jr. (PSD), que vai disputar a reeleição. No Rio Grande do Sul, há dois pré-candidatos: o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), e o senador Luis Carlos Heinze (PP). Na Região Centro-Oeste, onde tem boa aprovação, Bolsonaro poderá ter os palanques de Ronaldo Caiado (DEM), em Goiás, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), cogitada a disputar o pleito em Mato Grosso do Sul (ela também pode se candidatar a deputada ou senadora).

O esforço em busca de nomes estaduais tem também motivos imediatos: fecha portas regionais ao confuso centro político, que ainda não tem um candidato competitivo, e começa a fazer frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também já está montando os seus palanques Brasil afora e cuja movimentação deu a largada na corrida para 2022. A ordem agora é acelerar, sem derrapar. E colocar o máximo possível de gente na garupa da moto.

Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.