O “saldo do luto” decidirá a próxima eleição
Para auxiliares de Jair Bolsonaro, o presidente tem tempo e instrumentos para recuperar popularidade até a votação em outubro de 2022
Auxiliares de Jair Bolsonaro dizem que a retomada econômica e o avanço da vacinação contra Covid-19 ajudarão o presidente a recuperar popularidade. Afirmam também que o fator que decidirá a próxima eleição será o que eles chamam de “saldo do luto” — se no dia da votação o eleitor priorizará um eventual ambiente econômico e sanitário mais favorável, que o governo promete colocar de pé até 2022, ou a lembrança das mortes, do desemprego, da inflação e das suspeitas de irregularidades na compra de vacinas que hoje derretem a imagem do candidato à reeleição.
Na luta para melhorar a avaliação de sua gestão, reprovada por metade da população, Bolsonaro já deixou claro que recorrerá aos cofres públicos. Ele anunciou a prorrogação do auxílio emergencial por mais três meses e promete, entre outras coisas, corrigir a faixa de isenção do Imposto de Renda de pessoa física e lançar um novo Bolsa Família, turbinado tanto no número de beneficiários quanto no próprio valor do benefício. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também projeta uma vigorosa recuperação da economia este ano. Coisa de 5%. O problema para Bolsonaro é que, até aqui, nenhuma dessas iniciativas ou promessas tem impedido o derretimento de sua imagem.
No campo da economia, a inflação corrói o poder de compra e o humor do eleitorado e se sobrepõe a qualquer projeção rósea dos assessores palacianos ou da equipe econômica. Uma pesquisa da Quaest Consultoria até mostrou que há mais otimistas do que pessimistas quando os temas são o crescimento da economia (38% a 22%) e a geração de empregos (56% a 41%), mas revelou que a ampla maioria (64%) aposta que os preços continuarão a subir nos próximos meses. Em outra pesquisa, do Ideia Big Data, 63% dos entrevistados afirmaram ter mudado seus hábitos de consumo alimentar em 2021. Está faltando dinheiro para servir a mesa.
Na seara política, a CPI da Pandemia — que deve ser prorrogada por mais três meses, até novembro — tem se mostrado um potente catalisador do desgaste presidencial ao detalhar a demora do governo para negociar vacinas e ao dar voz a suspeitas de corrupção na compra de imunizantes. Em pelo menos duas pesquisas, a maioria dos entrevistados disse não confiar na honestidade ou no empenho do presidente para combater a corrupção. Sondagens de aliados do próprio mandatário detectaram que, em algumas regiões, a aprovação ao governo é de 12%, metade do porcentual registrado em todo o país. O tal “saldo do luto” está no vermelho e cresce a cada dia. Mesmo que consiga algum tipo de reação, Bolsonaro corre o risco — diante de tamanho passivo — de deixar de ser credor da confiança dos eleitores.
Segundo levantamento do Datafolha divulgado na sexta-feira, 9, o ex-presidente Lula lidera a sucessão presidencial com 46% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 25%, e Ciro Gomes, com 8%. Em eventual segundo turno contra o ex-capitão, o petista ganharia por ampla vantagem.