O ex-presidente da OAS José Aldemario Pinheiro, o Léo Pinheiro, afirmou nesta quinta-feira ao juiz Sergio Moro que o tríplex 164 do edifício Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo, pertencia ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O apartamento era do presidente Lula desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop [cooperativa habitacional dos bancários]. Já foi me dito que era do presidente Lula e de sua família. Que eu não comercializasse”, afirmou o empreiteiro após ser perguntado pelo advogado do petista, Cristiano Zanin Martins, se ele “entendia” que a OAS havia repassado a propriedade ao ex-presidente.
No depoimento, que foi dividido em seis vídeos, o empreiteiro ainda afirmou que o dinheiro gasto para bancar as reformas no tríplex provinha de propinas de contratos da Petrobras.”A OAS não teve prejuízo na reforma porque foi paga através da Rnest (refinaria Abreu e Lima, da Petrobras), do encontro de contas dela e de outras obras. Isso é muito claro”, afirmou. Mais adiante, ele confirmou que usou “valor de pagamento de propina” nas obras. Desde que a informação veio à tona, a defesa de Lula nega que ele seja proprietário do apartamento.
Durante o mesmo interrogatório, Pinheiro revelou ao juiz que foi orientado pessoalmente por Lula a destruir provas que pudessem incrimina-lo. Segundo ele, a destruição de evidências foi discutida com o petista em um encontro em junho. “O presidente (Lula) me fez a seguinte pergunta: ‘Léo — notei que ele estava até um pouco irritado —, você fez algum pagamento a João Vaccari (ex-tesoureiro do PT) no exterior’. Não, presidente. Eu nunca fiz pagamento a essas contas no exterior. ‘Como é que o senhor está procedendo os pagamentos para o PT?’ Através de João Vaccari, de orientação de caixa dois, doações diversas a diretórios, e tal.’ Você tem algum registro de encontro de contas, de alguma coisa que tenha feita com João Vacari. Se tiver, destrua’, relatou o empreiteiro, reproduzindo a conversa que supostamente teve com o petista. Após a fala, os advogados de Lula ficaram por alguns minutos em silêncio.
Léo Pinheiro é réu por corrupção e lavagem de dinheiro junto com o ex-presidente na ação penal que tramita na 13ª Vara Federal de Curitiba e está na fase de oitiva dos acusados. O interrogatório de Lula está marcado para o dia 3 de maio.
As declarações do empreiteiro foram dadas num momento em que ele negocia um acordo de colaboração premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato. A informação foi confirmada pelo próprio Ministério Público no início da audiência.
Em nota, a assessoria de Lula afirmou que a afirmação de Pinheiro é “desprovida de provas e faz ilações sobre supostos acontecimentos de três anos atrás que jamais ocorreram”. “Ela foi feita por alguém que busca benefícios penais”, diz o texto.