O empresário Marcelo Odebrecht apresentou ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira, 21, uma série de e-mails enviados entre 2010 e 2012 que comprovariam suas alegações de que a empreiteira comprou um imóvel para abrigar o Instituto Lula, em São Paulo, mas que acabou descartado pela instituição. Os documentos foram anexados ao processo da Operação Lava Jato que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus, acusado de receber 12,9 milhões de reais em propina da Odebrecht por meio das compras do prédio, supostamente adquirido por 12,5 milhões de reais, e de uma cobertura vizinha à do petista em São Bernardo do Campo, por 504.000 reais.
Ao incluir os e-mails na ação, Odebrecht alega a Moro que só teve o acesso ao conteúdo após dezembro, quando foi transferido para a prisão domiciliar e recuperou um HD com arquivos de seu computador, e que as mensagens corroboram o que ele relatou em seu acordo de delação premiada. Os e-mails mostram tratativas entre o empresário e executivos da empreiteira com referências que, segundo Marcelo Odebrecht, dizem respeito ao prédio.
O nome do ex-presidente aparece diretamente no material em uma única ocasião. Em 8 de novembro de 2010, o ex-diretor da Odebrecht Realizações Paulo Ricardo Baqueiro de Melo enviou a Marcelo Odebrecht e a Paul Altit, presidente da empresa, uma mensagem que reproduziu uma reportagem publicada pelo portal UOL, com o título “Instituto Lula já tem patrocinadores e sede”. A notícia tratava do projeto da entidade idealizada pelo petista.
Respondendo a este e-mail, o então presidente do Grupo Odebrecht disse ter “avisado ao Italiano [referência ao ex-ministro Antonio Palocci] que estamos batendo na trave” e que ele temia que “algum repórter xereta” acabasse “chegando na DAG”. Empresa de Demerval Gusmão, amigo de Marcelo Odebrecht, a DAG Construtora é a compradora formal do imóvel que abrigaria o Instituto Lula, localizado na rua Haberbeck Brandão, 178, Vila Clementino, na capital paulista.
Em outra mensagem, Paulo Melo questiona Odebrecht sobre a origem dos recursos, três parcelas de pouco mais de 1 milhão de reais, para o pagamento do imóvel. O empresário responde, então, que os valores sairiam de uma conta mantida por “HS”, que ele alega ser Hilberto Silva Mascarenhas, diretor do Departamento de Operações Estruturadas, o “setor da propina” na empreiteira.
Em um e-mail anterior, datado de 21 setembro de 2010, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, enviou a três pessoas “para análise e conferência, ainda incompleta, a minuta da escritura do imóvel da Haberbeck Brandão”. Executivos da Odebrecht não estão entre os destinatários da mensagem, que, no entanto, acabou sendo encaminhada a eles. Teixeira também está entre os réus do processo, acusado de intermediar, em nome de Lula, as tratativas que levaram à compra do imóvel.
Além do compadre do petista, outra figura próxima ao ex-presidente, o pecuarista José Carlos Bumlai, também é citado nas trocas de mensagens entre executivos da Odebrecht. Em 3 de novembro de 2010, Paulo Melo informa a Marcelo Odebrecht e a Paul Altit que Bumlai o havia procurado para tratar da sede do Instituto Lula: “Fui procurado hoje por José Carlos Bumlai. Ele deseja retomar rapidamente o assunto de reforma / construção do Instituto e me comunicou uma expectativa de prazo bastante desafiador para inauguração: maio/2011. Ele espera contar com o nosso suporte neste assunto”.
No mesmo e-mail, Melo diz a Odebrecht e Altit ter informado a Bumlai que foi orientado “apenas a viabilizar a aquisição do prédio e dar suporte técnico nas questões construtivas, sem orientação específica quanto ao investimento futuro. Segundo estimativas do próprio José Carlos, o investimento na reforma será da ordem de R$ 30 MM a R$ 40 MM”. Segundo o Ministério Público Federal, José Carlos Bumlai participou, ao lado de Roberto Teixeira, das transações para a aquisição do imóvel.
Em outro e-mails, de março de 2012, Marcelo Odebrecht pondera que era “importante ter certeza” de que a empreiteira estava tratando com interlocutores do Instituto Lula sobre o assunto. “Tem que ser o japones [sic.] ou o italiano”, pede o empresário, em referências ao presidente da entidade, Paulo Okamotto, e a Palocci. Em resposta ao pedido do empreiteiro, Paulo Melo afirma que “é o Japonês. E pelo que entendi, o próprio titular irá aprovar o imóvel”.
Leia aqui os e-mails anexados por Marcelo Odebrecht no processo.
Defesa de Lula
Por meio de nota, a defesa do ex-presidente Lula afirma que “os documentos juntados hoje por Marcelo Odebrecht em nada mudam a realidade de que Lula jamais solicitou ou recebeu a propriedade ou a posse de qualquer imóvel para o Instituto Lula. Tampouco demonstram que qualquer recurso ilícito tenha sido direcionado a Lula. A iniciativa é mais um factoide que tem por objetivo mascarar que nenhuma prova foi produzida contra Lula após a coleta de inúmeros depoimentos e diversas diligências”.