Deputados da oposição ao governo de Michel Temer (PMDB) disseram que o novo pronunciamento do presidente sobre as acusações contra ele no escândalo da JBS não muda sua situação, que os fatos continuam gravíssimos e que ele não tem mais condições de seguir à frente da Presidência da República.
“Não muda nada. A única novidade foi que ele anunciou que vai pedir ao STF que barre as investigações, porque ele sabe que, se elas continuarem, ele será condenado criminalmente. Ele apenas ataca o delator [Joesley Batista] como se isso fosse o suficiente para autorizar um presidente da República a integrar uma organização criminosa, praticar corrupção e obstruir a Justiça. Ele não menciona nenhuma das outras provas, como as malas de dinheiro carregadas por quem ele indicou para representá-lo [o deputado federal Rodrigo Loures, do PMDB-PR] junto ao dono da JBS e não desmente os trechos principais”, disse o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), autor do primeiro dos oito pedidos de impeachment de Temer protocolados na Câmara ao longo da semana.
Para ele, Temer “tenta se apegar a detalhes, a uma frase ou outra, mas não contesta o sentido da gravação”. “De alguma maneira, o presidente estava combinando os próximos passos com alguém que estava falando de delitos”, afirmou.
Os oitos pedidos de impeachment são assinados por deputados da Rede, Psol, PT, PCdoB, PHS, PSB, PDT e até do PSDB. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é aliado de Temer e participou de audiência no Palácio do Planalto assim que as denúncias da JBS vieram a público. “Lamentavelmente, não tivemos nenhuma palavra do presidente da Câmara [sobre a instalação da comissão especial do impeachment], desde a divulgação dos fatos. Nada. O país está sem rumo e parou aguardando Temer fazer mais uma reunião para tentar explicar o inexplicável”, afirmou.
O parlamentar afirmou que os ministros que ainda não deixaram seus cargos – Roberto Freire (PPS) foi o único a entregar o Ministério da Cultura e retornar ao mandato de deputado – “vão afundar junto com governo”. “Os que estão apegados a cargos e verbas, preocupados em sugar até a última gota, vão acabar afundando junto com o governo, que não tem mais condição de sobrevivência. O governo acabou.”
Na mesma linha, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o governo “agoniza”. “Temer sabe que vai cair. Não explicou por que se reuniu com Joesley num porão, por que adiantou [a redução da taxa de] juros do Banco Central ao empresário, o que é ilegal, nem por que ouviu tentativas de intervenção em investigações e nada fez”, disse.
Miro Teixeira (Rede-RJ) considerou decepcionante o discurso do presidente. “Creio que ele não está abordando o foco da discussão, isso decepciona. Ele atuou como advogado em causa própria e não como presidente da República, esclarecendo a população. A apresentação dele é quase que perfeita em termos técnicos, porém não muda a convicção de que fatos muito graves geram a instabilidade do governo que afeta os interesses do país. Convivi com Michel, éramos deputados, de relacionamento habitual, tenho tristeza de ver que de repente ele está agindo como alguém culpado que exerce o sagrado direito de defesa de forma pouco convincente. As fitas não são o que existe de principal nos autos”, afirmou.
“Mais uma vez o povo brasileiro assiste a um pronunciamento vago e desrespeitoso com a população. Palavras que não respondem a qualquer questionamento feito pelas denúncias nas quais ele se encontra envolvido. Ainda teve a audácia de pedir o arquivamento de suas denúncias junto ao STF. A crise econômica tende a ficar mais grave com o aprofundamento da crise política. O presidente, que assumiu de forma ilegítima o cargo, deveria ter humildade e renunciar para o bem do país. Neste domingo, ocuparemos as ruas exigindo diretas já”, diz José Guimarães (PT-CE), líder da oposição na Câmara.
Carlos Zarattini, líder do PT na Câmara dos Deputados, também criticou, no Twitter, o discurso do presidente. “Temer vai à TV negar as acusações numa desfaçatez inacreditável. É hora de ele renunciar e deixar o Brasil avançar. Diretas já!”, postou.
“O pronunciamento não muda a situação dele diante a população, nem diante do Congresso. Ele não conseguiu explicar de forma convincente o encontro tarde da noite com um investigado da Lava Jato, nem o fato de ouvir a confissão de uma série de crimes sem que tenha tomado nenhuma providência”, disse o deputado federal Weverton Rocha, líder do PDT na Câmara. “O PDT ainda espera que ele renuncie para poupar o país de uma crise prolongada.”
Durante o pronunciamento, Temer atacou duramente as acusações feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS, desqualificou a conversa gravada pelo empresário em reunião com ele no Palácio do Jaburu, afirmou que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do inquérito contra ele e reafirmou que vai continuar no cargo.