Os desafios de Tarcísio, Zema e Leite, que emergiram fortes das urnas
Os governadores de SP e Minas já dão sinais de que topam assumir o protagonismo de disputar a Presidência caso Bolsonaro decida ficar fora de combate
As eleições estaduais naturalmente produzem potenciais candidatos à Presidência da República. Neste ano, pelo menos três emergiram das urnas. Em São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) rompeu a hegemonia tucana com um feito inédito: sem nunca ter disputado mandato eletivo, o carioca neopaulista costurou boas alianças e foi eleito graças a uma agenda voltada ao combate à criminalidade e pró-privatizações. No segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) alcançou a reeleição em primeiro turno, quatro anos após ser eleito, também sem nunca ter exercido nenhum mandato. Zema e Tarcísio ainda compartilham uma característica: saíram vitoriosos nas urnas pegando carona na popularidade de Jair Bolsonaro e, num breve futuro, podem disputar o espólio deixado pelo presidente derrotado — considerando, claro, a hipótese de que o ex-capitão estará fora de combate daqui a quatro anos, o que, por enquanto, parece improvável. Os governadores já dão sinais de que topam assumir esse protagonismo — em uma versão mais moderada do bolsonarismo. Recentemente, Zema disse ter diferenças com o presidente e que ele não alcançou a reeleição porque causou “ruídos” e “desgastes desnecessários”. Já Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro, tentou se distanciar dos aliados mais radicais do presidente e disse nunca ter sido um “bolsonarista raiz”.
A terceira força surge no Rio Grande do Sul, onde o tucano Eduardo Leite faz sombra ao partido que, antes de Bolsonaro, representava a direita brasileira. Cotado para disputar a Presidência já neste ano, ele acabou derrotado nas prévias do PSDB. As urnas estaduais também atrapalharam os planos de um quarto presidenciável. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) nunca escondeu o sonho de um dia chegar ao Palácio do Planalto. A estratégia estava traçada: após deixar a prefeitura, em 2021, ele se elegeria ao governo da Bahia em outubro passado. Seria o penúltimo passo em direção a Brasília. Mas deu tudo errado. Neto perdeu a disputa para o petista Jerônimo Rodrigues e ficará sem mandato em 2023.
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821