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Os dilemas de Guilherme Boulos na corrida pela prefeitura de São Paulo

O político trabalha para manter o PT ao seu lado, precisa acenar ao centro e tenta não deixar sua estrela se apagar na estreia no Congresso

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h05 - Publicado em 2 abr 2023, 08h00
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  • O início da virada da imagem de Guilherme Boulos (PSOL-SP), de um líder radical do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) à de uma estrela em ascensão com potencial para rejuvenescer a esquerda no país, deveu-se a alguns feitos. Um deles foi o resultado das eleições à prefeitura de São Paulo em 2020, quando surpreendeu chegando ao segundo turno. Ao final, mesmo derrotado pelo tucano Bruno Covas, saiu maior do que entrou na disputa, com 2,1 milhões de votos. “Com apenas dez segundos na TV consegui chegar longe”, lembra. Na sequência, abortou o plano de concorrer ao governo do estado em 2022 após um acordo partidário, no qual abriu espaço a Fernando Haddad em troca da promessa de o PT apoiar seu nome no pleito municipal de 2024. Acabou elegendo-se deputado federal com mais de 1 milhão de votos e, em meio a sua estreia no Congresso, iniciou já a movimentação para tentar conquistar a prefeitura paulistana no ano que vem. Na primeira sondagem sobre a eleição, feita pela Paraná Pesquisas no mês passado, apareceu na liderança, com 32,9%, quase o triplo das intenções de votos de Ricardo Nunes (MDB), que tentará se manter no cargo.

    Essa eleição tende a ter uma importância ainda maior para o cenário nacional, pois será o grande palco de enfrentamento no país entre direita e esquerda após a batalha entre Lula e Jair Bolsonaro de 2022. É difícil prever se o favoritismo de Boulos vai perdurar (com o caixa municipal cheio, Nunes tende a crescer; à esquerda, a deputada Tabata Amaral, do PSB, pode dividir votos), assim como há ainda dúvidas sobre se o PT realmente vai honrar o acordo estabelecido por Lula de não ter candidato próprio na cidade pela primeira vez desde 1988, apoiando o político do PSOL.

    Sem o número 13 nas urnas para o chefe do Executivo municipal, os postulantes a vereador tendem a se sentir órfãos. Além disso, as candidaturas historicamente sempre passaram pelo crivo de seus filiados (atualmente são 184 000, distribuídos em 37 diretórios regionais). Algumas alas ainda não engoliram a ordem de apoio que veio de cima para baixo. “Não dá para o Boulos chegar e falar que temos um candidato e pronto”, afirma o ex-deputado Francisco Chagas, vice-presidente do PT na capital, reproduzindo um sentimento que cresce nos bastidores. O deputado do PSOL tenta aparar arestas com a turma ressabiada à base de conversas intensificadas nas últimas semanas. “A palavra que uso não é convencimento, mas construção conjunta”, afirma. O argumento mais poderoso, e implícito, é de que o PT não tem nenhuma alternativa melhor.

    RIVAL - A deputada Tabata Amaral: caso se viabilize, candidatura pelo PSB pode se tornar competitiva
    RIVAL - A deputada Tabata Amaral: caso se viabilize, candidatura pelo PSB pode se tornar competitiva (Luca Jardim/.)

    Além de fazer valer o acordo, Boulos tem o desafio de convencer os paulistanos a eleger um candidato de esquerda na cidade (o último foi Haddad, em 2012), tendo o peso extra de carregar no currículo o histórico com o MTST. Como é fundamental ampliar o eleitorado, ele vai partir para a busca dos votos de centro e uma das estratégias para conquistar essas pessoas é mostrar uma imagem mais internacionalizada e atualizada de gestor público. Para isso, Boulos inicia nas próximas semanas um périplo internacional para ver de perto boas experiências em capitais como Paris, na França, e Barcelona, na Espanha, tendo como objetivo final incorporar ideias de fora a sua campanha daqui. “Verei por lá novas ações de mobilidade, de redução de carbono, de urbanismo”, enumera. “São Paulo ficou para trás com relação ao resto do mundo.” O discurso de modernidade, no entanto, se choca com ultrapassadas bandeiras do PSOL, como aversão a privatizações e ao enxugamento da máquina pública, ainda carregadas com fervor por Boulos.

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    Os primeiros passos da campanha municipal têm sido dados em paralelo ao trabalho como congressista, com o cuidado para não prejudicar a estreia do deputado na Câmara e passar ao eleitor a ideia de que está em Brasília, mas com toda a energia concentrada em São Paulo. Nos discursos, o parlamentar estreante engrossa o coro do governo federal nos ataques exagerados ao Banco Central por causa do debate sobre a atual taxa de juros (veja a entrevista abaixo). No dia a dia da Casa, figura como líder do PSOL e integra quatro comissões, incluindo a de Desenvolvimento Urbano. “Vou ajudar o Lula a governar e quero aprovar neste semestre um projeto que estabelece políticas para a construção de cozinhas populares”, diz.

    Na ida a Brasília, Boulos carregou junto seu Chevrolet Celta, o carrinho popular que foi utilizado em sua propaganda como símbolo da frugalidade e do desapego do político. Vira e mexe, o veículo dá problema e dia desses o deputado precisou de ajuda para tirá-lo da garagem por uma falha do motor de arranque. Em seus planos políticos, Boulos trabalha e torce para que a carreira promissora não enguice na próxima esquina — entre outras coisas, falta (re)combinar com o PT.

    “Não serei traído”
    Guilherme Boulos garante que acordo com Lula será cumprido e terá apoio dos petistas em 2024.

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    O PT estará com o senhor no ano que vem? Confio na palavra do Lula, não serei traído pelo PT. Ele é o maior partido de esquerda do país, tenho respeito pelas convicções do partido e tenho certeza absoluta de que vamos caminhar juntos.

    De que forma pretende vencer a eleição em 2024 na maior cidade do país? São Paulo está abandonada e temos um problema crônico de gestão. Vamos aprofundar a discussão sobre como tornar a cidade sustentável. Ela parou no século XX.

    No cenário nacional, como avalia os primeiros meses da gestão Lula? É um momento de reconstrução. E na primeira semana teve uma tentativa de golpe de estado. Foi preciso aprovar uma PEC da transição para poder fazer com que as obras de saneamento, infraestrutura e moradia no Brasil não parassem em janeiro.

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    Lula voltou suas baterias contra Campos Neto. O senhor é a favor de uma atitude mais radical? Já defendi publicamente destituí-lo do BC, mas o tema cabe ao Senado. Campos Neto não tem tido isenção e tem um nível de comprometimento com os agentes de mercado maior que com o crescimento econômico brasileiro.

    Publicado em VEJA de 5 de abril de 2023, edição nº 2835

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