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Os impactos na imagem do Exército após o envolvimento de altos oficiais na trama golpista

O Exército tem realizado pesquisas para avaliar a opinião da população em relação à Força. VEJA obteve os dados dos últimos quatro anos

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 set 2025, 11h42 - Publicado em 12 set 2025, 06h00

O indisciplinado Cavalão, como Jair Bolsonaro era conhecido em seus tempos de farda, deixou a caserna pela porta dos fundos com a patente de capitão para, 31 anos depois, voltar a pisar nos quartéis como comandante ­em chefe das Forças Armadas. Em seu governo, colocou um número recorde de militares em postos-chave, empossou generais em ministérios estratégicos como o da Saúde e a Casa Civil e teve como braço direito na Vice-­Presidência um oficial quatro estrelas. Bolsonaro também fez constantes acenos às tropas. Sua agenda estava sempre aberta para solenidades de cadetes e promoções de oficiais, e até o brado dos paraquedistas — o famoso “Brasil acima de tudo” — foi incorporado como slogan de seus quatro anos de mandato. Doze militares ou ex-militares chefiaram em algum momento seus 23 ministérios — dez deles, aliás, oriundos do Exército. A história mostra que essa aproximação não costuma produzir bons resultados. A condenação dos generais Braga Netto, ex-­ministro da Casa Civil, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, além do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente, é prova disso.

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ANORMALIDADE - Manifestantes: acampamentos na porta de quartéis
ANORMALIDADE - Manifestantes: acampamentos na porta de quartéis (//Reprodução)

As investigações sobre a tentativa de golpe têm entre os principais personagens representantes das Forças Armadas. São generais, coronéis e tenentes-coronéis. Entre eles, há acusadores, acusados e a rara figura do delator, prática rejeitada dentro dos preceitos de lealdade e fidelidade dos quartéis. Dos 31 réus da trama, 21 já serviram a alguma Força — sem contar Bolsonaro — e cinco deles agora estão condenados por integrar o núcleo central de uma organização criminosa que arquitetou uma ruptura institucional para prolongar a estadia de Bolsonaro na Presidência da República. Atualmente, há sete militares presos em alojamentos do Exército — o delator Mauro Cid está em regime domiciliar. Ao proferir seu voto, o ministro Alexandre de Moraes relatou diversas atuações indevidas dos fardados, como uma “nota esdrúxula” emitida pelo Ministério da Defesa sobre uma possível fraude nas urnas e a efetiva participação deles em reuniões de cunho golpista. “O Brasil demorou a concretizar sua democracia. Nós tivemos vinte anos de ditadura, torturas, desrespeito à independência do poder Judiciário e do poder Legislativo. As pessoas sumiam, as pessoas eram mortas. Não é possível banalizar o retorno a esses momentos obscuros da história”, disse o relator do caso.

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arte militares

Na sequência, o ministro Flávio Dino ressaltou que não se tratava de um julgamento das Forças Armadas, mas fez críticas à presença dos oficiais em “convescotes partidários”. “Os acampamentos não foram em porta de igreja. Foram na porta de quartéis. Eu sei que se reza nos quartéis, mas lá sobretudo há fuzis e tanques”, disse o magistrado, que era ministro da Justiça à época do 8 de Janeiro e chegou a bater boca com o então comandante do Exército, Júlio César de Arruda, que acabou demitido dias depois. Arrastada para o centro do processo, a cúpula das Forças Armadas trabalha numa frente de contenção de danos para evitar que a imagem da instituição volte ao patamar da década de 80. Um dos principais esforços visa blindar a instituição e fazer crer que, ao contrário de 1964, não houve adesão ao golpismo. Os episódios revelados no apagar das luzes do governo Bolsonaro, segundo essa narrativa, tiveram a participação de alguns poucos que se encantaram com o ex-capitão e, mesmo assim, acabaram contidos pela postura legalista de seus comandantes.

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HISTÓRIA - Movimento no Rio de Janeiro, em abril de 1964: início do período ditatorial mais longo do Brasil
HISTÓRIA - Movimento no Rio de Janeiro, em abril de 1964: início do período ditatorial mais longo do Brasil (Agência O Globo/.)

O Exército, responsável pelo maior número de investigados, tem realizado pesquisas para avaliar a opinião da população em relação à Força. Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), VEJA obteve os dados dos últimos quatro anos. O levantamento segue os padrões dos principais institutos e foi feito em quase todos os estados, ouvindo 2 000 pessoas presencialmente. Para este ano, houve uma inovação nos questionamentos. O Exército quis saber, por exemplo, o que poderia atrapalhar sua imagem. Para a maior parcela dos entrevistados, que responderam de maneira espontânea e sem uma lista predeterminada, o maior dano envolve justamente a presença de militares no governo. Na sequência, citam repulsa à corrupção e ao regime militar. Ações que envolvam autoritarismo e golpe de Estado também foram lembradas como algo negativo — o que demonstra que, apesar de aparecer em menor proporção, os últimos acontecimentos influíram negativamente na imagem da Força.

PROVOCAÇÃO - Exibição de força: tanques desfilaram em frente ao Palácio do Planalto em 2021
PROVOCAÇÃO - Exibição de força: tanques desfilaram em frente ao Palácio do Planalto em 2021 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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A pesquisa também perguntou qual era a primeira coisa que vem à cabeça dos entrevistados quando se fala em Exército. As principais finalidades, entre elas segurança, defesa e guerra, foram apontadas em maior quantidade. Mas novamente ficou demonstrada a contaminação: os entrevistados voltaram a citar autoritarismo e golpe, e incluíram até o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro como referência. A Força também buscou um comparativo com as demais instituições. Em uma resposta estimulada, os bombeiros despontam com o maior índice de confiança da sociedade, com a lembrança de 95,3% dos entrevistados. Na sequência aparecem a Força Aérea (77,9%), a Marinha (77,2%), a Polícia Federal (72,2%) e o Exército (71,9%) — à frente de órgãos como a Polícia Militar (57,5%), a igreja evangélica (57,3%) e o Supremo Tribunal Federal (44,6%). Esses dados são similares aos da pesquisa Quaest divulgada no início da semana, que indicou um nível de confiança de 70% da população em relação aos militares das Forças Armadas. Em novembro de 2022, o índice era de 79%. Os eleitores do presidente Lula mantiveram o patamar quase inalterado, enquanto o tombo foi relatado por bolsonaristas, que registravam uma confiança de 91% nos derradeiros dias do ex-capitão à frente do governo, número que agora é de 72%.

NORMALIDADE - Lula, os comandantes e o ministro: clima de camaradagem
NORMALIDADE - Lula, os comandantes e o ministro: clima de camaradagem (Ricardo Stuckert/PR)

Passada a hecatombe das revelações da trama golpista e com a previsão de ter dezenas de militares encarcerados pelos próximos anos, o Exército recebeu com um certo alívio os dados da pesquisa. Reservadamente, militares em postos de comando consideram que, diante da dimensão do escândalo e do envolvimento de importantes e influentes generais no caso, pode-se dizer que as Forças saíram quase ilesas de toda a confusão. Muito embora haja insatisfações com o que são considerados excessos e até perseguições por parte do Judiciário, a ordem é manter silêncio e distância do processo dentro da caserna. O ministro da Defesa, José Múcio, por exemplo, costuma repetir que “as Forças Armadas estão roucas de não falar” — e assim devem continuar. A situação, afinal, ainda é delicada, mas a orientação é para deixar transparecer o máximo de normalidade. No fim da tradicional solenidade do Dia da Independência, no último dia 7, o presidente Lula pegou pelos braços o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, e ambos se juntaram ao general Tomás Paiva, comandante do Exército, ao brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da Aeronáutica, e ao ministro da Defesa. O fotógrafo oficial do governo registrou — e divulgou — a imagem.

Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2025, edição nº 2961

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