Os negócios de Renan Bolsonaro, o Zero Quatro
O filho do presidente da República estreia como empreendedor, solicitando audiência ao Planalto e levando empresários a reunião com ministro
Em setembro passado, Renan Bolsonaro esteve em Vitória, no Espírito Santo, em busca de parcerias para o seu novo negócio. Prestes a inaugurar o escritório da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, a empresa que ele criou recentemente, o filho Zero Quatro do presidente da República se reuniu com vários empresários. Um deles, dono de uma fornecedora de granitos e mármores, se mostrou particularmente interessado em levar a Brasília um projeto de grande apelo social: um protótipo para construção de casas populares de pedras, com custos, segundo ele, muito mais baixos em relação aos que o governo costuma contratar. “O seu pai, que está à frente desse governo, vai certamente aprovar e vai agradecer por essa iniciativa”, discursou um dos parceiros do projeto, ao anunciar a aliança entre as duas empresas.
Duas semanas depois, o filho do presidente abriu sua empresa de eventos, com a ajuda de patrocinadores, entre eles, a administradora do Estádio Mané Garrincha, onde funciona a sede da Bolsonaro Jr, em Brasília, e os empreendedores do Espírito Santo. A administradora do estádio contribuiu com um bom desconto no preço do aluguel. O grupo capixaba doou um carro elétrico. No dia da inauguração, havia uma grande expectativa. Contando com a provável presença do presidente, convidados viajaram para Brasília para prestigiar a festa, mas Jair Bolsonaro não compareceu. A parceria, por sua vez, apresentou resultados imediatos. No mês seguinte, os empresários conseguiram apresentar ao governo o projeto das casas populares construídas com pedras. E não foi uma apresentação qualquer. O grupo foi recebido, em 13 de novembro, por ninguém menos que o ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho, responsável, entre outros programas, pelo Minha Casa Minha Vida.
Na reunião, que não constou na agenda oficial do ministro, estavam presentes, além de Marinho e dos empresários, Renan e um assessor especial do presidente da República. O grupo discorreu sobre o projeto e o alcance social que ele poderia ter, especialmente diante de uma eventual parceria com o governo. Ao final, todos posaram para uma fotografia, imediatamente postada nas redes sociais. John Lucas Thomazini, presidente da Gramazini Granitos e Mármores, explicou a VEJA como conseguiu chegar a um dos ministros mais poderosos da Esplanada: “O Renan começou tudo, levou para Brasília. O projeto foi enviado para o pai dele, que o encaminhou para o Ministério do Desenvolvimento Regional”. O MDR confirma que o pedido de audiência foi feito pelo gabinete da Presidência, por meio de Joel Fonseca, assessor especial de Jair Bolsonaro, que também estava na reunião. Em relação à presença de Renan, o ministério informou que ele “participou na qualidade de ouvinte e por acreditar que o sistema construtivo teria potencial de reduzir custos para a União”.
Essa não foi a primeira incursão de Renanzinho no governo. Em agosto, ele se reuniu com o secretário de Cultura, Mario Frias, para discutir uma possível parceria em um projeto para promover competições de jogos eletrônicos. O sobrenome famoso tem ajudado o filho do presidente não só a abrir portas em Brasília como também a atrair colaboradores importantes. Tão logo Renan teve a ideia de começar sua empresa, o advogado Luís Felipe Belmonte, suplente de senador e um dos dirigentes do Aliança pelo Brasil, o partido criado para abrigar o presidente Bolsonaro, se apresentou para auxiliá-lo. “Dei uma pequena ajuda no começo, para fazer a montagem do camarote onde funciona a empresa. Foi de uns 10 000 reais mais ou menos”, afirma Belmonte. A empresa de Renan nasceu com um capital social de 105 000 reais. O logotipo — “JB” Bolsonaro Jr — chama atenção. Antes que se faça alguma ilação, o nome completo do Zero Quatro é Jair Renan Bolsonaro.
Quando se mudou para Brasília, Renan disse a amigos que tinha planos de seguir os passos da família na política, mas logo foi informado de que a lei só permite que familiares do presidente se reelejam no mandato em exercício. Ele, portanto, está impedido de disputar eleição enquanto o pai estiver no cargo. Tímido, o Zero Quatro não gosta de falar em público nem de dar entrevistas. Prefere interagir por meio das redes sociais. Ao se decidir pelo empreendedorismo, o objetivo dele, em princípio, era se tornar um influenciador digital e lucrar com os patrocínios. Brasília tem revelado outras oportunidades de negócios.
Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715