Para as autoridades, o vendedor de carros Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, é o comandante da temida Sintonia da Restrita em São Paulo, o setor de inteligência do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável por reunir informações sobre traidores, detratores e alvos específicos que, por ordem da cúpula da facção, precisam ser eliminados. Preso em março após investigadores descobrirem um plano de sequestro do senador e ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro, Nefo apresentou ao delegado da Polícia Federal Martin Purper, responsável pelo caso, uma – no mínimo – extravagante versão sobre os motivos pelos quais ele havia feito um inventário completo da vida do parlamentar.
Segundo Nefo, vasculhar milimetricamente a rotina do ex-magistrado, mapear endereços, locais de trabalho e elementos da vida privada do político e dos filhos dele não teria relação com sequestro algum, e sim era uma forma de protesto político. No depoimento sigiloso, a que VEJA teve acesso, o líder do bando que, segundo investigadores, recebeu da cúpula do PCC a missão de sequestrar e possivelmente assassinar Sergio Moro, afirma que buscava elementos para que pudesse trombar com seu desafeto nas ruas e jogar nele ovos e frutas podres. Sobrou até para a Vaza-Jato, consórcio de veículos de imprensa, entre os quais a VEJA, que mostrou a partir de mensagens hackeadas de procuradores da Lava-Jato que juiz e acusação atuaram em uma ilegal parceria para punir acusados de integrar o esquema de corrupção instalado na Petrobras.
“Minha intenção foi motivação política. (…) Eu desafio achar alguma palavra escrito sequestro, alguma coisa que indique sequestro ou extorsão do doutor, hoje senador Sergio Moro. Isso nunca ocorreu. (…) Sem eu dar a senha [dos celulares apreendidos], sem eu ter feito nada, sem eu ter cometido crime eu já tô preso, tive a casa invadida, pessoas ligadas a mim com mandado de prisão, minhas casas foram todas invadidas de familiares, carro preso e eu não cometi crime algum”, disse ele no depoimento. Nefo e outros oito foram detidos no dia 22 de março após a Polícia Federal ter chegado à quadrilha depois do depoimento de um detrator do PCC. Detalhes inéditos do plano de sequestro, incluindo revelações sobre o cativeiro escolhido para Moro, estão na edição de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais.
“Se fala em sequestro quando a minha ação era de catar fruta, ovo, [fazer] faixa, protesto político. (…) A minha motivação política é em cima da forma que na época o juiz Sergio Moro, um juiz parcial, um juiz partidário se juntou com delegado e investigador para reunir provas e condenar o réu. Não existe maior covardia e injustiça dentro do processo judiciário que um juiz sentar com parcialidade. Eu espero aí, doutor, que Deus e Nossa Senhora coloque um juiz imparcial que veja as provas do meu processo”, continuou.
A versão – por óbvio – não convenceu, e Nefo, que nega ter qualquer relação com o PCC, se tornou réu por crimes como extorsão mediante sequestro. A ficha de antecedentes criminais do líder da Restrita já incluía furto, roubo, receptação, motim de presos, dano e sequestro.