Papuda ou prisão domiciliar? Nos bastidores, o destino de Bolsonaro já parece traçado
Aliados e governo se movem para evitar crise política
A cena de um ex-presidente da República entrando em um presídio é, por si só, um símbolo poderoso — e, no caso de Jair Bolsonaro, carrega o peso adicional de uma trajetória marcada por polarização e instabilidade. Segundo análise do jornalista José Benedito da Silva, feita no programa Ponto de Vista, da VEJA, o desfecho mais provável para o ex-presidente é uma passagem breve pela Papuda, em Brasília, seguida de retorno ao regime domiciliar por razões médicas e de segurança.
“A tendência é que ele vá para um presídio, possivelmente a Papuda, fique pouquíssimos dias e depois volte para prisão domiciliar. As condições de saúde dele e o contexto político recomendam isso”, avaliou Benedito.
A decisão caberá ao governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha, aliado de longa data de Bolsonaro. Segundo o comentarista, há um esforço nos bastidores para que o ex-presidente receba tratamento carcerário digno, evitando o acirramento das tensões políticas. “Qualquer medida precipitada pode inflamar as ruas e reacender a militância mais radical”, alertou.
Entre a lei e a política
Condenado a 27 anos de prisão por crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro aguarda o julgamento dos embargos de declaração, primeira etapa do ciclo de recursos. O Supremo Tribunal Federal deve analisar o caso em plenário virtual a partir do dia 7, sexta-feira, com prazo de votação até o dia 14.
Benedito lembra, porém, que a defesa pode prolongar o processo. “Há possibilidade de novos embargos e até de embargos infringentes, embora essa chance seja pequena. Se os advogados conseguirem empurrar o caso até dezembro, o recesso do Judiciário pode adiar qualquer decisão definitiva para o ano que vem.”
Esse cálculo jurídico tem um componente político evidente. Para setores do governo federal, manter Bolsonaro em prisão domiciliar é a forma mais segura de evitar confrontos e de preservar a imagem institucional do país, num momento em que o Planalto tenta projetar estabilidade econômica e política.
Precedentes e bastidores
A comparação com o caso de Fernando Collor de Mello, lembrada por Benedito, reforça a tese de que o ex-presidente pode não permanecer muito tempo em um presídio comum. Collor, condenado por corrupção, cumpriu apenas alguns dias na prisão antes de obter o direito de cumprir pena em casa, em Maceió.
“Se Collor conseguiu a domiciliar, Bolsonaro, com histórico médico documentado e idade avançada, tem grande chance de obter o mesmo benefício”, disse o comentarista.
Nos bastidores do Palácio do Planalto e do STF, há uma preocupação adicional: garantir que o cumprimento da pena não se transforme em espetáculo político. Integrantes do governo defendem que a execução da decisão judicial ocorra com discrição, sem imagens ou transmissões que alimentem discursos de perseguição.
O silêncio e a expectativa
Com a anistia enterrada e a defesa em modo de contenção, o entorno de Bolsonaro adota discurso de resignação. O ex-presidente, por sua vez, mantém-se isolado e abatido.
Nos próximos dias, o país deve assistir à tentativa de equilíbrio entre a letra fria da sentença e o peso político da biografia. Entre a Papuda e o silêncio da prisão domiciliar, Jair Bolsonaro entra na fase mais delicada — e simbólica — de sua história pública.







