Perdeu o debate entre candidatos a vice? Veja os principais momentos
Evento de VEJA apoiado pelo Facebook teve discussões sobre economia, alianças políticas, saúde, cultura, BNDES, imigração e até o fim da morte de animais
Corte de impostos, contradições em apoios políticos nos estados, descaso com a cultura e com os museus, refugiados venezuelanos nas fronteiras brasileiras e até abolição do “trabalho escravo animal” e o consequente fechamento de churrascarias.
O debate de VEJA entre os candidatos a vice-presidente, realizado com apoio do Facebook nesta terça-feira (4), em São Paulo, tocou em diversos temas. Participaram do evento Ana Amélia (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSDB), Eduardo Jorge (PV), vice de Marina Silva (Rede), General Hamilton Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (PSL), e Paulo Rabello de Castro (PSC), vice de Alvaro Dias (Podemos). A senadora Kátia Abreu (PDT), vice de Ciro Gomes (PDT), cancelou a participação. Fernando Haddad (PT), vice de Lula (PT), também foi convidado.
Veja a seguir alguns momentos do evento.
Porque quero ser vice-presidente
Os candidatos foram convidados a responder, no primeiro bloco, por que decidiram ser candidatos a vice na sucessão presidencial. Confira as respostas.
Ana Amélia: “Quero ajudar Alckmin a fazer as reformas dentro de um clima de democracia e respeito ao Congresso, recuperar a confiança para a retomada dos investimentos e a esperança num país que foi dividido entre ‘nós’ e ‘eles’. Precisamos voltar a nos entender, com mais compreensão com as diferenças raciais, religiosas, de gênero e fazer um combate duro à corrupção”.
Eduardo Jorge: “O Brasil viveu um naufrágio de um governo que jogou o país numa polarização e no desemprego. A extrema esquerda e a extrema direita têm soluções simplistas. Acredito na história da Marina, que vai trazer justiça social e equilíbrio ambiental. É a candidata para reconstruir o país, da paz e do trabalho, e a chapa de uma professora e de um médico, da saúde e da educação”.
Hamilton Mourão: “Precisamos de um projeto de país, de um governo austero, em que a moralidade seja a tônica, com eficiência gerencial, em que a confiança dos governados seja total. O relacionamento com entes das federação tem de ser de forma republicana e não a política do toma-lá-dá-cá”.
Paulo Rabello de Castro: “Quero ser vice porque sou rebelde em relação à corrupção, que precisa ser debelada. Alvaro Dias me convenceu e vamos botar o vice para trabalhar, como um piloto e copiloto, para que o Brasil faça um voo nos próximos quatro anos de 40 anos de desenvolvimento”.
Ana Amélia x Paulo Rabello de Castro
Paulo Rabello e Ana Amélia trocaram farpas logo e durante todo o debate. Em pergunta à senadora, o vice de Alvaro Dias criticou uma peça de campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) que mostra o tucano entregando um bolo a uma jovem que se recuperava de um câncer.
“Com todo o respeito, fiquei escandalizado com seu cabeça de chapa, que em vez de falar como médico sobre as soluções que tem para a saúde, passou os minutos em excesso que tem e que faltam para os outros candidatos servindo bolo de açaí para uma moça que teve leucemia, a Verônica”, disse o candidato. Ele pediu para que Ana Amélia, a quem disse admirar, compensasse “essa falta” apresentando ideias efetivas para a saúde.
“Querido amigo, fico triste que, com sua sensibilidade, você não entenda um presente tão singelo quanto um bolo para um criança que se recuperou de um câncer”, afirmou a senadora.
Ela disse que gesto foi de mostrar que se pode fazer para o resto do país, na área da saúde, aquilo que se fez em São Paulo. “Por que ela teve de vir a São Paulo? Porque aqui encontrou atendimento que todos deveriam ter”, respondeu. A senadora afirmou ainda que a ideia é “oferecer mais bolos a mais pessoas” e ressaltou a qualidade do atendimento oferecido em hospital de São Paulo, como o InCor.
Rabello de Castro criticou, na sequência, a administração do PP no Ministério da Saúde, dizendo que o partido não apresentou soluções. Ana Amélia respondeu que a gestão de seu partido na pasta foi “elogiada”.
Apoios políticos
Em outro momento do debate, o jornalista de VEJA Fábio Altman perguntou à senadora se o apoio do presidente de seu partido, Ciro Nogueira, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não a constrangia, solicitando que Rabello de Castro comentasse a resposta dela.
Ela negou o problema, lembrou que apoiou Aécio Neves (PSDB) em 2014, ao contrário de Ciro Nogueira, que ficou com o PT, afirmou que todos os partidos possuem contradições nas eleições estaduais e disse que tem uma relação respeitosa e institucional com o líder de sua legenda. Ela defendeu ainda uma reforma política.
“Imagino o que um jovem está pensando sobre essa esculhambação”, comentou Rabello de Castro. “Não sou político, mas gostaria de sugerir a quem eu tanto admiro que assine um compromisso programático, e não essa Arca de Noé”, disse, em referência a coligação dos partidos do chamado centrão em torno da candidatura de Alckmin.
Ana Amélia respondeu que “não é necessário assinar qualquer documento para ter lealdade, seriedade e responsabilidade de apontar equívocos”. Lembrou ainda que o tucano tem se comprometido em montar ministérios com nomes técnicos.
Corte de impostos
Por fim, ainda durante a troca de farpas entre os dois candidatos, Rabello de Castro perguntou se o governo Alckmin, influenciado por assessores, elevaria impostos como medida de emergência. A senadora afirmou que o governo tucano irá fundir cinco impostos em um e que, ainda no governo de São Paulo, Alckmin reduziu o ICMS para a produção do etanol.
“Eu acredito na senhora, talvez a melhor senadora da República, mas não sei se seu candidato merece tanto crédito, porque escolhe economistas do mercado financeiro que já estão ameaçando elevação. Como farão em 2019 um ajuste multibilionário que exigirá coragem? Não vejo coragem no candidato”, disse o economista.
Ana Amélia respondeu que Alckmin vai ter autoridade para fazer aquilo que já definiu: redução da carga tributária. “Não há como voltar atrás”, disse.
Corte de subsídios no campo
A vice de Geraldo Alckmin perguntou a General Mourão se ele iria cortar subsídios para a agricultura. “Ouvi do comandante da economia de sua campanha [o economista Paulo Guedes] que ele vai cortar subsídios”, comentou.
Mourão respondeu que serão mantidos e expandidos, defendeu a incorporação da tecnologia no campo e disse que o Brasil tem que ser o “celeiro do mundo”.
Ana Amélia disse estar surpresa que o vice de Bolsonaro defenda posições contrárias à de Guedes e afirmou ser impossível “retirar subsídios”.
Museus e cultura
Em pergunta do diretor de Redação de VEJA, André Petry –que lembrou o incêndio no Museu Nacional, no Rio–, sobre qual seria a política cultural do governo Bolsonaro, o candidato Hamilton Mourão, afirmou que o incêndio foi uma grande tristeza e resultado do descaso. Ele defendeu que a cultura não pode ser “ideologizada” e que, nos grandes países, a manutenção dos museus está ligado à iniciativa privada. “É feita por grandes investidores e por fundações”, afirmou.
Eduardo Jorge ironizou a resposta dizendo ter pesquisado o programa de Bolsonaro e não ter encontrado uma única palavra sobre cultura. “O que não é estranhável. Só dois programas falavam desse tema, um desses era o nosso. A cultura é uma das grandes riquezas do Brasil, é preciso investir em serviço e turismo”, disse.
Mourão disse que o tema será “bem trabalhado” e que está ligado à educação.
Vegetarianismo e churrascarias
Num dos momentos mais descontraídos do debate, a redatora-chefe de VEJA Thaís Oyama perguntou sobre as posições de Eduardo Jorge em relação ao agronegócio e pediu para o candidato explicar sua defesa do “abolicionismo animal” e a sua declaração de que é “inadmissível que escravos de outras espécies sofram para nos alimentar”.
O vice de Marina Silva afirmou que “não vivemos mais nas selvas, como feras contra feras” e que o desenvolvimento da agricultura nos permite “evitar torturar esses nossos companheiros que vivem nesse lindo planeta Terra”.
“Vamos viver dos produtos vegetais. Não precisamos torturar animais para isso. Existe segurança alimentar para que isso possa ser feito. É uma questão de filosofia”, disse. Ele falou ainda que o mundo irá evoluir, pelo exemplo, para esse modelo.
Ao ser questionado pela jornalista se todos terão de ser vegetarianos, Jorge respondeu que o “vegetarianismo não é totalitário”. “É uma mudança cultural de longo prazo. Estudos mostram que vegetarismo atingiu 20% da população”, afirmou.
Ao comentar o assunto, Ana Amélia brincou: “Fechem-se todas as churrascarias do Brasil e do mundo”. Segundo ela, a proteína animal alimenta o mundo, e é uma cadeia produtiva que se preocupa com a sustentabilidade e com o “cuidado com animais”.
Eduardo Jorge voltou a afirmar que a mudança será “progressiva, pelo exemplo”. “Espero que a senhora siga. É mais saúde para a senhora e para mim”, disse. Ao ser lembrado pela senadora, que é gaúcha, que seus conterrâneos gostam de churrasco, o candidato afirmou: “Existem vegetarianos no Rio Grande do Sul, pode procurar”.
BNDES e os governos petistas
Questionado pelo editor especial de VEJA Daniel Bergamasco sobre ter elogiado a atuação do BNDES nos governos petistas e ser vice de Alvaro Dias, que criticou o uso da instituição nas gestões Lula e Dilma, falando inclusive em corrupção, Paulo Rabello de Castro, que presidiu o banco no governo Temer, disse que duas CPIs no Congresso e duas comissões internas não apontaram irregularidades. “Os funcionários do BNDES aplicaram políticas de estado”, afirmou.
Ele disse que Dias criticou apenas uma política de privilégios, que faz “chicanas financeiras” para obter propinas. Disse ainda que o banco não “financia uma nota que não seja produzida por brasileiros”.
General Mourão, que comentou o tema, afirmou que o BNDES teve uso político na gestão petista e que sua política foi responsável pelo déficit fiscal no país.
Rabello de Castro aproveitou para criticar a taxa de juros Selic que chamou de “pornográfica”.
Venezuelanos
Os candidatos foram convidados a responder perguntas dos leitores de VEJA. Uma delas, direcionada a Mourão, provocou o general a falar dos refugiados venezuelanos.
Ele disse que o país vizinho passa por uma “crise humanitária vítima do socialismo do século 21” e que o Brasil sempre auxiliou as demais nações. “Não podemos virar as costas para os que sofrem com a fome, sem medicamentos e perspectivas”, disse. Ele criticou o governo por ter “demorado a compreender” a crise.
Paulo Rabello respondeu que o governo de Alvaro Dias irá criar uma Secretaria de Imigração para cuidar do assunto.