A Polícia Federal cumpriu nesta quinta-feira, 24, mandados de busca e apreensão contra o empresário do setor de transportes e lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. Apontado como responsável por acionar funcionários do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em um esquema de venda de decisões judiciais que funcionava na segunda Corte mais importante do país há pelo menos quatro anos, Andreson atuava em parceria com o advogado Roberto Zampieri para corromper servidores do STJ lotados em quatro gabinetes e providenciar sentenças que se amoldassem aos interesses do bando. O caso foi revelado por VEJA.
Uma das apreensões de maior interesse na Polícia Federal nos mandados expedidos pelo ministro do STJ Francisco Falcão são celulares utilizados pelo lobista. Segundo fontes da investigação, o telefone do empresário já foi apreendido e de antemão é tratado como um “celular-bomba”. Isso porque boa parte dos documentos que Andreson repassou ao longo dos anos a Zampieri após corromper funcionários para garantir sentenças favoráveis foram encaminhados a ele por interlocutores ainda não identificados – a PF investiga se são os próprios funcionários do STJ ou outros comparsas do lobista.
Com a possibilidade de comparar os acervos dos dois celulares, a Polícia Federal acredita poder fechar mais rapidamente o cerco contra a quadrilha e solucionar possíveis pontas soltas de negociatas no Superior Tribunal de Justiça, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e agora em ramificações da quadrilha no Judiciário do Mato Grosso do Sul.
No acervo de mais de 3.500 arquivos armazenados no telefone de Roberto Zampieri, tidos hoje como linha-mestra da investigação que pode desvendar casos de corrupção em diferentes tribunais do país, há conversas do advogado assassinado em Cuiabá com o lobista também sobre processos em tramitação no Tribunal de Justiça sul-mato-grossense. Por ordem do ministro Francisco Falcão, cinco desembargadores foram afastados de suas funções por suspeitas de mercadejar despachos judiciais.
A investigação sobre possíveis focos de corrupção no Judiciário do Mato Grosso do Sul não é recente no STJ, mas ganhou tração a partir de elementos colhidos no celular de Zampieri. Com o avanço das apurações pela Polícia Federal, a corporação designou uma equipe específica para escrutinar o comércio de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça e em tribunais aos quais a quadrilha tinha acesso.