A Operação Placebo, deflagrada no início da manhã desta terça-feira para apurar fraudes e desvios nos gastos emergenciais na área da saúde, não teve apenas o governador do Rio, Wilson Witzel, como alvo. Os agentes da Polícia Federal também fizeram uma devassa no gabinete do advogado Lucas Tristão, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, no Palácio Guanabara, em Laranjeiras. Tristão é ligado ao empresário Mário Peixoto, que foi preso na Operação Favorito, desdobramento da Lava Jato, no último dia 14 de maio. Dono de empresas com diversos contratos com o governo do estado desde a gestão do ex-governador Sérgio Cabral, Peixoto é suspeito de desvio de dinheiro público envolvendo Organizações Sociais (OS) e nas ações de enfrentamento à Covid-19. Tristão já reconheceu publicamente a amizade com Mário Peixoto, de quem foi advogado, mas negou ter favorecido o ex-cliente com contratos no estado.
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Clique e AssineA operação desta terça-feira foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A decisão do ministro Benedito Gonçalves, do STJ, determinou o cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão em residências e escritórios de membros do governo Witzel. Além da residência oficial do governador, o Palácio Laranjeiras, as ações ocorreram na antiga casa da família de Witzel, no bairro do Grajaú; no escritório de advocacia de sua mulher, Helena Witzel; na residência do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos; e no apartamento do ex-secretário estadual de Saúde, Gabriell Neves, que foi preso no dia 7 de maio, por suspeita de fraude na compra de respiradores. Os contratos emergenciais para o combate ao coronavírus no estado do Rio envolvem cerca de 1 bilhão de reais. Tristão não está na lista de busca e apreensão de hoje, mas policiais federais estiveram em seu gabinete em busca de possíveis provas que possam contribuir com as investigações.
Lucas Tristão é homem de confiança de Witzel. No início do ano, o secretário foi pivô da maior crise do governo com a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Os deputados o acusaram de ser o responsável pela produção de dossiês contra os próprios parlamentares. Um grupo chegou a protocolar um pedido de impeachment contra Witzel por causa das suspeitas. Em meio ao tiroteio, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), declarou que Tristão teria dito, para quem quisesse ouvir, que possui documentos contra os 70 políticos da Casa. Tristão sempre negou essas acusações.
Todo-poderoso no Palácio Guanabara, Tristão também decide quem deve ocupar cargos no governo. O episódio mais emblemático foi a fracassada tentativa de emplacar Bernardo Sarreta para comandar a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa). Sem experiência no ramo, o amigo foi rejeitado por uma comissão da Alerj para assumir o cargo. Foi a primeira vez, em 15 anos, que isso ocorreu. O órgão regula os serviços de energia, gás e saneamento no Rio, um filão político e financeiro.
Tristão advogou para o empresário Mário Peixoto na Atrio Rio Service Tecnologia e Serviços. Segundo revelou VEJA, a família de Peixoto tem participação na Atrio como sócia da MG Gestão e Consultoria de Ativos. Capixaba, Tristão também prestou serviços advocatícios para a campanha eleitoral de Wilson Witzel, em 2018, quando tornou-se um dos principais coordenadores. Os dois se conheceram no curso de Direito da Universidade de Vilha Velha. WItzel, que trabalhou como juiz federal no Espírito Santo, foi professor de Tristão.