Em setembro do ano passado, a Polícia Federal fez uma busca no gabinete e na casa do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Com autorização da Justiça, os agentes recolheram documentos, e-mails e telefones à caça de provas que pudessem vincular o parlamentar a desvios de recursos de obras públicas na época em que ele foi ministro da Integração Nacional no governo de Dilma Rousseff. O material apreendido, incluindo 120 000 reais em dinheiro na casa do filho do senador, ainda está sendo analisado pelos peritos, mas um diálogo aparentemente irrelevante encontrado no celular do parlamentar chamou atenção. A conversa era entre Bezerra e o advogado dele, André Callegari. Nela, os dois combinam os termos de uma nota oficial sobre uma operação da PF que seria divulgada. Detalhe: a troca de mensagens ocorreu na noite que antecedeu as buscas — o que, para os investigadores, sugere que eles souberam antecipadamente o que aconteceria na manhã seguinte.
As mensagens, trocadas via WhatsApp, foram localizadas no aparelho do senador. Pouco depois das 20 horas do dia 18 de setembro, o advogado enviou a Fernando Bezerra a “ideia” de uma nota a ser publicada. Horas depois da operação, no dia 19, o parlamentar divulgou um comunicado à imprensa em que criticava a incursão policial e atribuía a busca a uma suposta perseguição política diante da “atuação combativa do senador contra determinados interesses”. O texto era quase o mesmo que havia sido sugerido pelo criminalista na noite anterior. Só não era rigorosamente igual porque no esboço não havia o nome do parlamentar.
A Polícia Federal não acredita que tenha sido coincidência — e aponta “a possibilidade de conhecimento prévio da operação”. Os agentes suspeitam que os alvos dos mandados de busca e apreensão foram previamente avisados por alguém. O advogado André Callegari, por sua vez, rebate a insinuação da PF, diz que tudo não passa de uma ilação e afirma que costuma deixar notas de esclarecimento prontas para seus clientes “caso ocorra alguma coisa”. Fernando Bezerra, que é líder do governo no Senado, não retornou o contato.
Publicado em VEJA de 18 de março de 2020, edição nº 2678