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PL coloca em ação plano ideológico para se consolidar como estandarte da direita

Sigla bolsonarista lança mão de ferramentas que visam mobilizar os seus eleitores e dar unidade à sua base e aos candidatos que terá pelo país

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 jun 2025, 08h00

A pouco mais de um ano do início das campanhas eleitorais de 2026, os maiores partidos já se movimentam para o jogo duro que irá definir quais serão as maiores forças políticas do país nos quatro anos seguintes. Nesse campo de batalha, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem colocado o bloco na rua (literalmente) com metas ambiciosas: manter a posição de maior partido na Câmara, galgar o mesmo pódio no Senado (e o naco mais generoso dos fundos eleitoral e partidário) e, não menos importante, consolidar-se como o estandarte da direita brasileira. Para tanto, a sigla lança mão de ferramentas que visam mobilizar os seus eleitores e dar unidade ideológica à sua base e aos candidatos que terá pelo país.

O plano de ação divide-se em quatro frentes, duas das quais voltadas à formação teórica de mandatários e até mesmo de eleitores. Uma delas envolve os seminários de comunicação, que ensinam como usar as redes sociais de forma assertiva e com finalidade política. A outra é a Academia Brasileira de Política Conservadora, uma plataforma gratuita que oferece cursos sobre temas caros à direita, como liberalismo econômico, oposição ao aborto, combate ao comunismo, direito à propriedade privada e até questionamentos sobre as políticas de meio ambiente. “Entregamos ao nosso militante e aos simpatizantes os instrumentos para que ele possa discutir com profundidade temas que dizem respeito ao que defendemos”, diz o senador Rogério Marinho, secretário-geral do PL e coordenador das estratégias.

VIAGENS - O ex-presidente e o senador: giro pelo Rio Grande do Norte
VIAGENS - O ex-presidente e o senador: giro pelo Rio Grande do Norte (@pl22rn/Instagram)

Outra frente também tem o objetivo de consolidar no partido a visão de direita, mas de outro modo: com propostas para o país. O Projeto Brasil é um protótipo ainda embrionário do que deverá ser um plano de governo básico dos candidatos do partido no ano que vem e que está na fase de colher contribuições de diversos segmentos da sociedade. Uma quarta investida é o Rota 22, um ciclo de viagens e encontros nos quais Bolsonaro e outros líderes da sigla percorrem o país ouvindo demandas da população, mas principalmente mobilizando a militância para 2026. Na semana passada, Bolsonaro fez um giro pelo Rio Grande do Norte, reduto de Marinho, em seu primeiro contato nas ruas com apoiadores desde o interrogatório no STF sobre tentativa de golpe.

A ofensiva para dar mais pureza ideológica ao PL é parte de um longo processo que o partido vem atravessando nos últimos anos. Fundado em 1985, passou por diversas fusões e mudou de nome, mas manteve sua característica de alinhamento, essencialmente, ao centro. Desde a redemocratização, aliou-se a praticamente todos os presidentes da vez e foi inclusive a legenda de José Alencar (vice de Lula de 2003 a 2010) no primeiro mandato. Como um dos protagonistas do Centrão, apoiou os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. A história da sigla sofreu uma guinada radical, no entanto, com a chegada de Bolsonaro, em novembro de 2021, arrastando com ele uma legião de deputados oriundos do PSL. O movimento inclinou o leme da legenda mais para a direita. A coesão nessa direção é firme, com pouquíssimas dissidências, a exemplo do deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-­SP), único da sigla que votou contra a urgência para a anistia ao 8 de Janeiro. “Se o partido chegou a 99 deputados, deve-se a eles”, diz o parlamentar paulista, referindo-se aos bolsonaristas. Nos últimos anos, é verdade, registraram-se algumas baixas: o PL tem hoje 89 deputados, dez a menos do que elegeu em 2022.

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TROCA - Deputados ex-PSL chegam ao PL em 2022: Bolsonaro alavancou a sigla
TROCA - Deputados ex-PSL chegam ao PL em 2022: Bolsonaro alavancou a sigla (./Divulgação)

Além de imprimir uma marca e dar unidade ao partido, a nova estratégia deve servir, ainda, para evitar a repetição de erros. Nos últimos anos, ao menos cinco deputados foram expulsos por se alinharem a pautas estranhas ao partido — e até mesmo a candidatos de esquerda. Um deles, Yury do Paredão, do Ceará, foi defenestrado após posar com ministros fazendo o “L” de Lula em 2023. No ano passado, Júnior Mano, também do Ceará, foi expulso por apoiar o petista Evandro Leitão a prefeito de Fortaleza e não o candidato do PL, André Fernandes. Criar e salientar diretrizes da legenda, portanto, é tido como uma forma de espantar forasteiros ou infiéis. “Respeito a posição de cada detentor de mandato, mas eles também precisam respeitar a posição partidária. O que não tem é como aceitarmos a adesão a um projeto que vai na contramão do que acreditamos”, diz Marinho. “Em 2024, foi a primeira eleição em que o PL definiu diretrizes para coligações, sobre a forma como o partido deveria se comportar. E 98% da legenda as seguiu. Esperamos que agora seja 100%”, declara.

Dono do maior fundo eleitoral do país, com quase 1 bilhão de reais à disposição para a campanha eleitoral e um filiado do calibre de Bolsonaro, é inevitável que o PL atraia uma legião de candidatos a deputado estadual ou federal pelo país em 2026. Se a “escolinha do professor Marinho” for bem-sucedida, a estratégia de fidelização ideológica tocada pela agremiação pode, de fato, criar um partido com maior unidade de pensamento e de ação, algo raro de ver em meio à selva partidária do país.

Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949

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